Crítica | Street View


★★★☆☆
3/5

James Riotto se une a John Vanderslice para entregar um dos álbuns mais originais do ano, como uma fusão dos gêneros jazz e glitch, que normalmente pertencem a espectros musicais opostos. No entanto, neste trabalho, ambos se harmonizam, resultando em uma obra complexa e intrigante.

A experimentação com gêneros musicais é sempre bem-vinda, principalmente quando envolve estilos que estão em polos opostos ou até mesmo conflitantes. No entanto, nem todos os artistas que se aventuram nessa tarefa conseguem alcançar o sucesso. No caso de Street View, o álbum consegue, na maior parte do tempo, realizar essa mescla com êxito.

O glitch, um dos principais gêneros explorados ao longo do álbum, é o elemento dominante em muitas das faixas. Embora essa escolha seja inovadora e autenticamente ousada, chega um momento em que o excesso desse estilo causa um certo desconforto, não pela presença do glitch em si, mas pela falta de exploração mais aprofundada do gênero ao longo da obra.

O álbum apresenta uma sólida mistura de faixas. Algumas combinam instrumental com vocais, criando o clássico combo de canção tradicional, enquanto outras nos conduzem por produções instrumentais e synth, sem qualquer presença vocal. Estas últimas muitas vezes representam os momentos mais marcantes do trabalho. A faixa “wouldn’t you”, por exemplo, tinha potencial para ser uma das melhores do álbum, pois propunha misturar jazz e glitch. No entanto, a repetição excessiva do glitch, semelhante a faixas anteriores, acaba tornando-a previsível e monótona. Talvez houvesse formas mais criativas de usar esse recurso.

Entre os destaques, podemos citar “deep sea leaks”, que abre o álbum de forma envolvente, capturando a atenção do ouvinte e o incentivando a continuar. “something complicated”, uma das faixas com vocais, usa a repetição de forma inteligente: à medida que os elementos se repetem, novas camadas e nuances surgem, enriquecendo a produção. A última faixa, “afterlife”, fecha o álbum de forma brilhante. Ela desacelera o ritmo e suaviza a densidade caótica apresentada ao longo do projeto, sem perder a coerência com a proposta inicial.

Street View se destaca pela ousadia em misturar gêneros tão distintos. Embora a repetição de glitch possa ser um ponto negativo em algumas faixas, o álbum como um todo revela a capacidade dos artistas de levar o ouvinte a uma jornada sonora única, onde experimentação e autenticidade se encontram.

Selo: Tiny Telephone
Formato: LP
Gênero: Experimental / Eletrônica, Glitch
Antonio Rivers

Me chamo Antonio Rivers, graduando em História, amazonense nascido em 2006. Faço parte do Aquele Tuim, nas curadorias de Experimental, Eletrônica, R&B e Soul.

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