Crítica | TYLA


★★★☆☆
3/5

Em 2023, Tyla, que até então era apenas mais um nome proeminente do amapiano, se tornou dona de um dos principais hits virais do ano. “Water” foi seu cartão-postal para a indústria fonográfica localizada para além das fronteiras sul-africanas, e daí que se formou o desejo inevitável por novos trabalhos; ora, ela exala carisma e é competente em fisgar o ouvinte para si, seja pelas estruturas melódicas ou, principalmente, pelo refrão totalmente irresistível.

TYLA, disco homônimo de estreia da artista, funciona como uma bússola — não apenas sobre o que Tyla quer propor para as características atuais do gênero, mas do que se pode esperar de expressão e produção, mesmo que superficialmente, de outros artistas da cena. Como conjunto, ele se prioriza como confluente do amapiano com o R&B contemporâneo, resultado comum para artistas sul-africanos que alcançam o mercado estadunidense.

Apesar de estruturalmente simples, TYLA está longe de soar redundante. “Safer”, por exemplo, é enxuta e consegue se postular como definidor temático e sonoro do disco, um jogo que envolve amor, sensualidade, perigo e autoconsciência. São ideias que rodeiam as 14 faixas, cheias de bons momentos: as parcerias muito acertadas com Tems e Gunna em “No.1” e “Jump”, a ideia de contraponto encabeçada por “Butterflies” e a sagacidade em trazer “To Last”, música de 2022, para encerrar o disco enquanto narrativa.

E é em “Truth or Dare” que essas proposições possuem os seus direcionamentos mais nítidos. Ela projeta o tom contido nas percussões e, ao mesmo tempo, carrega consigo um espírito livre contagiante, presente desde os elementos pontuais de corda até ao verdadeiro marcador do disco: a voz de Tyla. São os timbres e os graves da vocalista que nos conduzem, ao ponto de atenuar as falhas características de um disco de estreia — principalmente nas faixas finais, em que a sensação de repetição vem à tona.

É uma estreia muito competente que, indiretamente, renova algumas capilaridades do amapiano — e mais do que isso, disputa o espaço político do gênero na sua atuação de mercado. Há dois eventos em que Tyla tratou contrapontos diretos à indústria e mídia ocidental: o seu discurso no VMAs de 2024, que, ao receber o prêmio de “Best Afrobeats”, usou o espaço para expressar o descontentamento, dela e de muitos artistas, na rotulação de toda a produção de música pop proveniente de África como “afrobeats”; e assumir, sem receios, a sua identidade racial enquanto mulher coloured sul-africana, o que revoltou parte do público negro estadunidense. Tyla desponta como um nome promissor e sabe marcar presença em todos os aspectos e, de certa forma, é o que mais precisamos na atual safra anêmica de popstars.

Selo: FAX Records
Formato: LP
Gênero: Música do Continente Africano / Amapiano, R&B Contemporâneo
Felipe

Graduando em Sistemas e Mídias Digitais, com enfoque em Audiovisual, e Estagiário de Imagem na Pinacoteca do Ceará. É editor adjunto do Aquele Tuim, integrando a curadoria de Música do Continente Africano.

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