Crítica | Uma Noite No Luna Park (Ao Vivo)


★★★★☆
4/5

Uma Noite no Luna Park é uma cápsula do tempo que resgata a energia de Rita Lee em seu primeiro show na casa de eventos Luna Park, na Argentina, realizado há 22 anos. Este álbum, o primeiro álbum póstumo da artista, traz um frescor especial com sua produção cuidadosamente elaborada a partir de projetos que Rita e Roberto de Carvalho guardam. A obra proporciona uma viagem nostálgica e apaixonante, ressaltando que a relevância de sua arte permanece intacta.

Rita sempre foi uma grande fã dos Beatles, e suas influências são evidentes, especialmente nas versões das canções do álbum Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar (2022). Parte da turnê Ye Ye Ye de Bamba, o registro captura a energia contagiante da cantora e a conexão especial que ela estabeleceu com o público argentino, reflexo do sucesso que conquistou fora do Brasil. Desde o início, tudo soa como uma verdadeira celebração. Lee abre o espetáculo com uma versão revigorante de “A Hard Day’s Night”, imbuindo a canção com a sofisticação do bossa rock e sua inconfundível atitude que a consagrou como a rainha do rock brasileiro. Entre piadas e brincadeiras, como a divertida pergunta “Não me confundiram com a Xuxa?”, Rita se surpreende com a imensidão da plateia, proporcionando um espetáculo que foi, sem dúvida, tão divertido para nós, meros ouvintes, quanto para aqueles que estavam presentes naquele dia.

O álbum não se limita a homenagear seus clássicos, mas também apresenta novas leituras. Em “Baila Comigo”, a dança se torna uma metáfora da conexão e a celebração, enquanto “With A Little Help From My Friends” e “All My Loving” são interpretadas com a leveza e a harmonia que só Rita Lee poderia proporcionar, mesclando timbres acústicos e elétricos com a percussão que faz tudo pulsar. Uma das passagens mais marcantes é a homenagem à memória de Elis Regina em “Alô! Alô! Marciano”, onde os ecos cósmicos e as guitarras distorcidas evocam uma atmosfera de intensa reflexão sobre as questões sociais que ainda persistem. Rita nos lembra que, mesmo após 22 anos, a letra se mantém atual, um testemunho da atemporalidade de suas letras e da realidade que a população ainda enfrenta.

Músicas como “Pra Você Eu Digo Sim” e “Besame Mucho” permanecem impecáveis, enquanto “Panis Et Circenses” traz à tona a essência da artista, lembrando seus dias com Os Mutantes. A interpretação de “Minha Vida” — a melhor versão aportuguesada que já ouvi — destaca-se com um ritmo que vai do moderado ao lento, criando uma linearidade emocional que ressoa profundamente.

A fusão do clássico e contemporâneo se revela em “Lucy In The Sky With Diamonds”, em que a leveza e a intensidade se entrelaçam em uma progressão que evoca um estado de encantamento. Com “Ovelha Negra”, “Doce Vampiro” e “Lança Perfume”, a emoção é palpável. A colaboração com Charly García em “Love Me Do” e “Help” é um destaque adicional, sendo Rita a nomear García como o “dinossauro do rock”, o que representa uma verdadeira exposição da expertise de ambos os artistas.

Em junho deste ano, foi lançado “Voando (Nel Blu Dipinto Di Blu)”, uma versão inédita de “Volare”, de Domenico Modugno, adaptada por Rita e Roberto. Agora, somos presenteados com este álbum, que traz à tona a emoção de ouvir essa voz que ecoou e ainda ecoa em todos os momentos. Como dizem os primeiros versos da canção lançada naquele meio de ano: “um sonho assim tão legal não devia acabar”; neste instante, eu trocaria a palavra “sonho” por “som”, essa mudança reflete uma transição de um prazer fugaz para uma esperança continua, pois tudo isso nos inspira e nos anima ainda mais para o que está por vir.

Selo: Universal Music
Formato: LP
Gênero: MPB / Rock, Pop-rock

Brinatti

Cientista Social com ênfase em Antropologia e Sociologia, 27 anos. É redator e repórter no Aquele Tuim, participando das curadorias de Funk e Pop.

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