Crítica | VEXX


★★★☆☆
3/5

É quase um consenso que o “brazilian phonk” se tornou uma das piores e mais nocivas tendências que se aproveitaram do funk até hoje. Suas bases no Leste Europeu, subentendidas através da guerra entre Rússia e Ucrânia, fomentaram o apelo explosivo do phonk como trilha sonora perfeita para jovens ucranianos que, mesmo se divertindo em festas de música eletrônica onde esse tipo de som rola a noite toda, ainda pensam na força ideológica avassaladora da extrema direita presente nas forças armadas de seu país, tomadas por milícias neonazistas. Por isso, além de algumas polêmicas recentes envolvendo um DJ brasileiro que propagava ícones neonazistas em seu canal no YouTube, o brazilian phonk se tornou repulsivo, repugnante e, na pior das hipóteses, um gênero extremamente descaracterizado com suas origens. Isso não significa, no entanto, que haja necessidade de segregação. Muitos DJs e produtores têm tentado mudar isso e usar o phonk em toda sua aplicação de ideias (algumas bem literais em causar sensações através de um design 3D) longe desse contexto.

shonci é um deles. Seu novo EP, VEXX, brinca com o phonk e o funk numa harmonia desconcertante entre usar o máximo de elementos de ambos, além do que percorre um espaço de música eletrônica cujos DJs têm se esforçado para aprender e usar como complemento em suas músicas. “DESTRUIÇÃO” é o exemplo mais claro dessa fusão. Nela, as batidas marcadas do phonk, que ruem a voz do MC, contam com camadas de beats vindos diretamente do submundo do helipa. A sequência “X-ONSHI” também traz essa mescla, mas ainda mantém a marca do phonk de evoluir a escuta para uma espécie de experiência, um transe, que aqui é intensificado ainda mais devido a uma prensagem eletrônica indecifrável – precisamos nos atentar a isso. “LEVA NA BOQUINHA” e “GALÁXIA” são, finalmente, a definição desse movimento todo. A primeira é enraizada no mandelão, com uma batida seca de beat bruxaria com risadas fatais, enquanto a segunda vai completamente na direção do que DJ Arana provavelmente colocaria em Rock Pesado 3, se existisse, é claro. VEXX é, portanto, parte integrante de algo que nos retorna; é a pós-antoprofagia do funk e tem tudo para chegar ao epicentro da cena.

Selo: Boom Records LLC
Formato: EP
Gênero: Funk

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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