Crítica | ZL on Air Vol.1


★★★★☆
4/5

Há uma percepção muito equivocada de que, por ser baseado em um meio acessível e facilmente propagado, o funk é um produto igualmente fácil de manusear. Com a constante quantidade de lançamentos recentes que desdobram possibilidades, criam perspectivas próprias de produção e estabelecem o que por muito tempo foi apenas um lugar comum – batidas e colagens sem muita finalidade além de experimentos inofensivos e até próximos de memes – já se sabe que, hoje, o nível subiu, e consequentemente é preciso ter controle sobre o que se quer expor, criar ou recriar.

ZL on Air Vol.1, de GP DA ZL, exemplifica perfeitamente esse controle. O álbum é uma locomotiva que guia toneladas de beats pegajosos geridos a partir de uma dificuldade claramente empregada em cada fragmento explorado pelo produtor, que o faz de forma tão direta que evita desperdiçar seu espaço tentando trazer conceitos excessivamente pouco desenvolvidos, como alguns DJs têm feito. Mais do que isso, é um exercício de fórmulas e parece condensar o que pode ao mesmo tempo estar no topo das reproduções de streaming, mas também escondido em um despretensioso set do Soundcloud. “Atrás do Xeque Mate”, com Yuri Redicopa, representa bem esse som mais popular mas ao mesmo tempo, bastante progressivo da vanguarda do gênero, com pelo menos três direções tomadas sem se perder em nenhuma delas.

Quando GP DA ZL tenta fazer algo diferente, não recorre a um pano de fundo forçado ou que tente parecer diferente por razões inexistentes. “Grave Romantizado”, por exemplo, é uma faixa verdadeiramente romântica… do jeito que o funk a prepara para ser. Você nunca poderia imaginar que uma música como essa, com esses elementos, seria tão assertiva em seu propósito. Isso só acontece porque existe ele: o controle absurdo de GP DA ZL. Aliás, essa dinâmica de manter tudo sob controle também se reflete no design de som mais limpo do que o normal, e que, convenhamos, tem seu mérito por dispensar a cacofonia extrema que se torna muito plana em algumas concepções mais comerciais do funk – é uma variação indispensável nessa expansão recente do gênero.

Selo: Love Funk
Formato: LP
Gênero: Funk
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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