Os melhores discos de 2024


Uma lista com Charli xcx, d.silvestre, Caxtrinho, Cindy Lee, Beyoncé, Luiza Brina, DJ Anderson do Paraiso, Liniker e mais!

Esta é a segunda vez que o Aquele Tuim busca eleger os melhores discos do ano. Muita coisa mudou de lá (2023) para cá: deixamos de ser uma newsletter, mudamos nossa identidade visual, ampliamos nosso alcance e conquistamos um espaço que nos coloca em posição decisiva sobre o que apresentar a vocês como “o melhor” — seja o pop de Charli xcx e o funk de d.silvestre, ou então o samba rock de Caxtrinho e os acordes empoeirados de Cindy Lee. E, depois de um processo interno acalorado, esta lista surge como parte de tudo isso. Cada álbum aqui é o maior testemunho do que — às vezes, sem tanta precisão — buscamos e do que não buscamos, mesmo que não sejam escolhas totalmente consensuais ou que agradem a todos.

A presente lista foi elaborada a partir de uma votação ponderada, considerando os top 15 individuais de todos os nossos redatores e de todas as curadorias do site. Esse processo colaborativo reflete a diversidade de gostos e opiniões da nossa equipe, resultando em uma seleção que representa o melhor do ano de forma abrangente e equilibrada.



30.
Ultimate Love Songs Collection
DORIS


Ultimate Love Collections é quase um anti-rap. Ao invés de um trap destruidor de neurônios ou um boom bap recheado de letras relevantes, o que recebemos, na realidade, são 50 curtas cartas de um único remetente e destinatário: o próprio artista. Não parecem músicas feitas para se escutar, se assemelham mais a registros quebradiços do que é a vida comum de um homem qualquer de Nova Jersey. Poucos projetos capturam a subjetividade mística daquilo que é totalmente mundano tão bem quanto este. — Sophi




29.
Further Selections from The Electric Harpsichord
Catherine Christer Hennix


O álbum de drone mais incomum do ano. A compositora, recentemente falecida, é retomada por meio desse incrível lançamento que nos retira da zona de conforto e faz repensar toda a noção de musicalidade, espacialidade e progressão musical. É através dos mínimos detalhes que a composição funciona, e por isso é que a comparação com drone é útil. Um lançamento que desestabiliza a lógica do que podemos considerar como música e permanece ativamente dialogando com debates da composição contemporânea. — Tiago Araujo




28.
Caravans of Ether
Hedon


Caravans of Ether é um projeto envelopado pelo mistério, apesar da sua pretensão muito clara: acompanhar uma caravana de peregrinos nômades ao longo do deserto do Marrocos, em que cada faixa representa uma parada diferente dessa jornada. É possível dizer que existe um exercício de paisagem sonora, mas seria reducionista encará-lo apenas dessa forma. Como uma experiência soturna e que atinge nossos sentidos, seu principal valor está no não-palpável, onde as palavras não conseguem chegar. — Felipe




27.
Temporary Stored II
Vários Artistas


A cultura oral permanece nos sons, no movimento da fala, mas também no 'ouvir'. Aqui, as faixas de Temporary Stored II são um ato de resiliência, um grito anti-colonial, a morte do imaterial preso em museus ocidentais. Os sons preservados, curados, trabalhados e curados por KMRU sintetizam a beleza do patrimônio sonoro africano, sua presença no mundo e o experimentalismo emancipador de memórias roubadas. Aqui, escutar memórias é viajar no espaço-tempo, refletir nossa realidade, resistir. — BeatriS




26.
All Life Long
Kali Malone


All Life Long é a sinalização do ponto de encontro de tudo o que já foi feito por Kali Malone até então. Isso pode ser percebido pelo fato de conter suas primeiras composições para órgão desde 2019; por ambientar suas execuções eletrônicas outrora vistas em Living Torch, de 2022. E, também, por instigar a reflexão sobre a presença de Malone nas igrejas, tornando viva a arte que dali se escorre para o mundo. — Matheus José




25.
Gambiarra Chic, Part. 1
Irmãs de Pau


Irmãs de Pau extrai ótimas características do funk e do ballroom em uma peça única como este lançamento. Gambiarra Chic, Pt. 1 é diversificado, divertido e impactante, mostrando personalidade diante de diversos lançamentos atuais, sem contar a liberdade e coragem que a dupla tem de falar sobre assuntos que muitos reprimem por ideologias limitadoras. É uma das melhores produções da comunidade LGBTQIAPN+ brasileira no ano. — João Vitor




24.
Wood Blues
حمد


Em quase uma hora de Wood Blues, exploramos tudo o que a improvisação livre pode oferecer por meio de um conjunto incalculável de direções que levam a uma seção sublime de performance e construção musical, que é feita a partir de um fragmento de 1961 do baixista Ahmed Abdul-Malik, homenageado e finalmente colocado como um artefato histórico. — Matheus José




23.
WEBO (Live)
Charles Gayle, Milford Graves & William Parker


WEBO (Live) fica entre o free jazz e a improvisação livre; “entre” porque seria muito pouco delimitá-lo a um dos dois, as características comuns de ambos estão presentes e mesmo assim o álbum é apenas expansão. É uma experiência quase caótica, ainda que meticulosa. O ouvinte disperso vai acreditar se tratar de progressões e diálogos aleatórios entre os instrumentos, mas é bobo, tem muita técnica e composição envolvida. Cada segundo é novo e demanda atenção. — Tiago Araujo




22.
TE-KWARO ALANGO-EKUKA
Ekuka Morris Sirikiti


Concebido a partir de regravações de passagens do programa de rádio ugandês de Ekuka entre 1978 e 2003, TE-KWARO ALANGO-EKUKA é um exercício de manutenção da memória. Para acessar essa obra, é imprescindível entender o que a figura do griô representa para a cultura ao longo de gerações em diversas partes de África. E, dessa forma, acessamos, mesmo que remotamente, essa riqueza inestimável permeada através do lukeme e da palavra. — Felipe




21.
Feldman Edition 14: Complete Music for Cello & Piano
Marilyn Nonken & Stephen Marotto


É o material de um compositor consolidado em uma série que retoma suas composições. É de se esperar, de alguma forma, que seja algo maravilhoso, e arrisco dizer, é talvez o melhor lançamento de toda a série para iniciar nas composições do Feldman. Os intérpretes estão absolutamente maravilhosos e é um prazer imenso conseguir escutar essas composições na sua melhor forma, e algumas delas, pela primeira vez de todas. — Tiago Araujo




20.
Backstage Raver
Joanne Robertson & Dean Blunt


“Como usar guitarras?”. Esta é a pergunta primordial que move o rock há décadas, mas uma de suas melhores respostas só veio à tona em Backstage Raver. São multitudes harmônicas — algumas das mais complexas do ano — forçosamente controladas para assumir uma fantasia de simplicidade e intimidade. Existe, por conta dessa transformação, um grosso véu entre ambos mundos, um que é intangível e intraduzível: um mistério impossível de se solucionar. Sua mente só se saciará, contudo, quando solucioná-lo; preparado para a centésima jornada pelo álbum? — Sophi




19.
CAJU
Liniker


Liniker evolui não só como artista, mas também como pessoa, e deixa CAJU mais bonito a cada vez que nos aprofundamos em suas faixas, não só pelos seus vocais incríveis, mas também pela forma distinta e meticulosamente trabalhada com que foram feitas. CAJU soa como a expansão definitiva de seu material como cantora, compositora e produtora. — Lu Melo




18.
Songs Of A Lost World
The Cure


O grupo britânico não obteve sucesso em sua sonoridade desde Bloodflowers, entretanto, Songs Of A Lost World veio para acender novamente a discografia da banda. Um disco focado em temas já abordados por The Cure diversas vezes, mas que conseguiu atingir o público de forma exemplar. — Davi Landim




17.
Swaken
Bab L’ Bluz


Gravado em várias partes do mundo, o segundo álbum do quarteto franco-marroquino Bab L' Bluz, Swaken, desenvolve com maestria ideias apresentadas em sua obra antecessora, unindo gêneros tradicionais marroquinos, como a Gnawa, ao rock psicodélico enquanto segue firme em sua singularidade. Há mais maturidade e explosão em cada acorde tocado por Yousra Mansour por meio de sua awisha, que se une a diversos outros instrumentos e composições que denunciam a exploração e a lógica do patriarcado. — Raquel Nascimento




16.
COWBOY CARTER
Beyoncé


Não é segredo para ninguém que Beyoncé conhece as regras do jogo – e não se importa com nenhuma delas. Sua discografia desde o início da década passada é marcada, sobretudo, pela imprevisibilidade. E isso significa, também, ir além das delimitações de gêneros musicais. Sob esse prisma, nasce COWBOY CARTER, um dos registros mais ousados e expansivos da estadunidense. Mais do que um disco de música country, o projeto reitera a capacidade da cantora de dominar quaisquer estilos. — Lucas Souza




15.
Life Cycle Waves
RamonPang


Life Cycle Waves é um disco que desconstroi e remonta suas peças numa inquietude insaciável, o que colabora para manter o ouvinte engajado na atmosfera subaquática que ganha vida através dos sintetizadores de RamonPang. Mas é o IDM fragmentado do produtor — parte hip hop, parte drum n bass e parte ambiente —, ao unir-se aos samples, sinais e distorções, que dá corpo e expande as barreiras do disco. — Marcelo Henrique




14.
Bright Future
Adrianne Lenker


Bright Future se destaca pela sensibilidade de suas composições autobiográficas e vulnerabilidade, expressa através de vocais calmos e poéticos. Com arranjos de piano, guitarras e violinos, a obra transmite uma sensação de calmaria e introspecção, especialmente na faixa de abertura, "Real House", que remete à infância da artista. Aqui, Lenker cria um ambiente acolhedor e reconfortante, perfeito para quem busca uma sonoridade delicada e distante do mainstream. — Vit




13.
O FIM!
DJ K


"DJ K não tá mais produzindo, tá fazendo bruxaria!". Funcionando como uma extensão de seu trabalho anterior, DJ K muda o ritmo e eleva sua música a um novo patamar em O FIM!, explorando mais a atmosfera dos sons e brincando com as mixagens das faixas. O beat bruxaria é uma assinatura do artista, que carrega uma energia única. Mesmo com certa repetição estética, o DJ não se acomoda, busca inovação e aprofunda suas habilidades, consolidando-se como uma das joias do funk deste ano. — Antonio Rivers




12.
Silence is Loud
Nia Archives


Silence is Loud é, talvez, uma das peças mais acessíveis do jungle neste ano. E isso não é um demérito, muito pelo contrário: Nia Archives sabe como se apoderar e provocar elementos da música pop como ninguém, pois ela nunca se torna uma diluidora dos outros aspectos presentes em suas peças. É, na verdade, uma catalisadora de novas abordagens. — Felipe




11.
Mandelãoworld
DJ Blakes


Mandelãoworld, de DJ Blakes, explora muito bem as possibilidades dentro da variedade de abordagens existentes no universo do mandelão. Dos sintetizadores com melodias repetitivas cativantes, alinhados ao automotivo, para os tuins ferozes do beat bruxaria, além da excelente maneira como ele traz o uso de samples para a produção, em faixas que fazem releituras no contexto do funk eletrizantes, o produtor apresenta um projeto divertido e diverso. — Davi Bittencourt




10.
Diamond Jubilee
Cindy Lee


A natureza nostálgica do gênero hypnagogic pop aparece nessa jornada imersiva de Diamond Jubilee, de Cindy Lee. A obra constrói camadas que impressionam os ouvidos pela riqueza de detalhes, principalmente porque nos joga para os anos 50 e se junta ao presente por meio de instrumentos contemporâneos, como a guitarra. O que resulta em uma sonoridade totalmente penetrante que nos envolve do começo ao fim em uma das obras mais interessantes deste ano. — Lu Melo




9.
Imaginal Disk
Magdalena Bay


A melhor qualidade do registro é ser uma aula de como fazer música pop de forma criativa. É um projeto inventivo e cheio de camadas sonoras curiosas, mas Magdalena Bay não se afasta da base, de forma nenhuma parecendo tentar demais soar dissociativo para o pop. É precisamente isso a qualidade mais nobre de Imaginal Disk: ele demonstra um repertório musical forte do duo, mas que não faz-o soar pretensioso na medida em que se encaixa perfeitamente em sua essência artística, tornando tudo muito natural. — Davi Bittencourt




8.
Schall / Rechant
Horacio Vaggione


Schall / Rechant demorou muito para ser feito, e há quem possa pensar que os mínimos — às vezes micro — detalhes nele existentes vão contra a suposta necessidade de tempo para compor, criar e arranjar um motivo para existir. A provocação é justamente essa, e não há nada que as texturas e os longos minutos de quebras e estilhaços eletroacústicos não possam confirmar, a não ser o tempo grandioso, e engenhoso, aqui gasto. — Matheus José




7.
Paraiso Sombrio
DJ Anderson do Paraíso


A atmosfera de cânticos e uivos, ruídos e graves, um paraíso sombrio torna-se um tecido costurado pelo funk de BH. DJ Anderson do Paraiso tem domínio das camadas de suas músicas, desde o uso divertido e genial de samples, até a construção de um clima de filme de terror, que tem um final feliz. A putaria em maestria com o que Belo Horizonte tem de mais fantasmagórico, uma experiência que nos coloca nas portas do paraíso. — BeatriS




6.
Y’Y
Amaro Freitas


Em sua jornada pelos corredores úmidos da Amazônia, Amaro Freitas dialoga de forma íntima com a ancestralidade. Existe uma sutileza na maneira como Y’Y incorpora os sons da floresta e os transporta de um lugar físico para o espiritual; como o jazz conversa com isso e preenche as lacunas para transformá-los em música, e como, dessa forma, parece surgir uma união natural e indissociável entre os dois universos (da natureza e da música). É transcendental. — Marcelo Henrique




5.
Prece
Luiza Brina


Prece é uma obra que une uma orquestra feminina e programações eletrônicas, explorando a capacidade da música em seus ritmos, timbres e conexões. Imerso em uma busca espiritual e emocional, é uma expressão de pertencimento, crença e melodia, que busca harmonia entre razão e sentimento. O trabalho se apresenta como um diálogo direto com o ouvinte, onde seu som se torna um feitiço, uma força que guia, dando sentido ao caminho e à verdadeira essência da vida. — Brinatti




4.
Queridão
DJ Anderson do Paraíso


DJ Anderson do Paraíso reimagina o funk mandelão desacelerando o ritmo e, ao criar brechas, o DJ as preenche com elementos da música renascentista e do canto gregoriano. Ele não segue uma abordagem convencional, mas experimenta com o som, mantendo a identidade do funk sem distorcê-lo. Posicionando-se como um maestro, ele cria faixas onde os elementos se combinam de maneiras inesperadas. Essa experimentação ousada faz de Queridão um dos destaques do ano. – Antonio Rivers




3.
BRAT
Charli xcx


BRAT é provocativo, conflituoso e puro choque. Da imersão irresistível do dance-pop, somos transportados aos fervorosos clubes noturnos. De "von dutch", com seu som vibrante, a "360" e "365", que capturam a euforia das pistas, o álbum celebra os limites do pop. Com um tato impecável para idealização, Charli reafirma ser uma das melhores artistas do gênero, única em abraçar o desenfado. BRAT é a pura busca por uma noite de afago na adrenalina, um tributo à intensidade da música e da experiência. — Brinatti




2.
Queda Livre
Caxtrinho


Do samba ao rock psicodélico, o jovem artista Caxtrinho faz de Queda Livre um trabalho ousado e repleto de nuances. Mais do que um excelente álbum de estreia, o disco é um rico retrato das vivências do cantor enquanto homem negro e cria da Baixada Fluminense. Sem sombra de dúvidas, um dos projetos que melhor representam o altíssimo nível da música brasileira em 2024. — Lucas Souza




1.
D.Silvestre
d.silvestre


É nítido que tem havido um esforço coletivo da comunidade de fãs e apaixonados por música em geral para eleger novos clássicos a todo custo — e são sempre discos muito parecidos entre si. Só neste ano, foram vários os álbuns colocados nesta caixa, repetitiva demais. Nesse processo, perde-se a acuracidade de obras que, de alguma forma, garantem sua importância por conter um ponto de vista distante da hegemonia que impera nesta comunidade e na própria indústria musical como um todo. D.Silvestre, o autointitulado de d.silvestre, é o exemplo mais claro que podemos ter de uma obra que mudou seu entorno, apresentou o que muitos poderiam considerar novo, e representa muito bem um ponto de propriedade artística que a tornaria, não fosse o contexto do funk, da marginalização e da ideia quase antimúsica que seus experimentos provocam, um clássico. É, definitivamente, um álbum elementar, e poucos meses após seu lançamento, fica claro que é algo irreplicável em todos os sentidos possíveis. — Matheus José
Aquele Tuim

experimente música.

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