Revisando Discografias: The Beatles


À medida que nos preparamos para receber Paul McCartney novamente em solo brasileiro, somos lembrados do impacto indelével que os Beatles tiveram na música e na cultura pop, consolidando-se como uma das bandas mais populares de todos os tempos. Desde sua formação em Liverpool na década de 1960, o quarteto redefiniu o conceito de grupo musical, inovando em letras, melodias, produções e arranjos que continuam a ressoar até hoje, ultrapassando as fronteiras da música.

Neste especial, com uma pequena ajuda de amigos da redação, embarcaremos em uma viagem de “submarino amarelo” pela discografia da banda, revisitando todos os seus álbuns e as evoluções sonoras que moldaram não apenas uma geração, mas várias, encantando fãs de todas as idades — até mesmo aqueles que já têm mais de 64 anos! Exploraremos como cada trabalho contribuiu para o legado imortal dos garotos de Liverpool, suas influências e a mágica do sucesso duradouro que ecoa até Pepperland.

Junte-se a nós e prepare-se para uma aventura a bordo de um “ônibus mágico” que nos levará ao mundo dos Beatles, uma banda que não apenas marcou épocas, mas também transformou a música como a conhecemos. Que comece a viagem!



Please Please Me
1963

★★★★☆

Lançado em março de 1963, Please Please Me é um marco na história da música pop, com uma relevância que vai além de sua fama instantânea. Gravado às pressas, o álbum captura uma energia crua e autêntica, definindo o som que consagraria os Beatles. Há uma vibe jovem e despretensiosa, onde as limitações técnicas e a inexperiência da banda aparecem de forma charmosa. Um exemplo é a voz de John Lennon, que, mesmo enfrentando um resfriado, entregou uma performance intensa em “Twist and Shout”, uma das canções mais populares do grupo, imortalizada na trilha sonora do filme Curtindo a Vida Adoidado. O cover se tornou um clássico, ofuscando até a versão original. A mistura de composições próprias e covers já mostrava que o quarteto tinha algo único, mesmo ainda em busca de uma identidade musical mais sólida.

Embora Please Please Me não seja o trabalho mais polido dos Beatles, ele captura a essência de uma banda em ascensão, cheia de potencial. Faixas como “Love Me Do” e “I Saw Her Standing There” revelam o frescor das composições, ao mesmo tempo que mostram o momento de experimentação criativa que eles estavam vivendo. O álbum tem influências claras de rock 'n' roll e soul, mas não chega a ser algo totalmente singular quando comparado a outros sucessos da época. No entanto, o carisma e a energia dos Beatles conquistaram o público jovem, criando uma conexão imediata.

Ainda assim, Please Please Me tem um peso histórico gigantesco. Ele retrata o início de uma trajetória lendária, capturando a ingenuidade de uma banda que, embora ainda não totalmente madura em termos de produção e composição, estava destinada a mudar o cenário musical. Sem a profundidade e brilhantismo que marcaria os álbuns seguintes, este disco permanece como um símbolo do começo de uma revolução cultural e musical. — Vit




With the Beatles
1963

★★★★☆

With The Beatles é um clássico, da capa até a tracklist, é um grito que vem desde seu antecessor, surfando na onda que viria a se tornar diferente no álbum seguinte. Com uma divisão variada nos vocais, o segundo trabalho da banda traz cinco faixas cantadas por Lennon, três por Paul, duas com ambos dividindo, três com Harrison e uma com Ringo Starr. O segundo trabalho do Fab Four ainda vem com oito composições originais e seis covers do rock and roll e da Motown.

Seja pelos rock and roll com a presença bombástica dos vocais e as guitarras em escala e, sim, claro, porque não, os famosos gritinhos de “yeah-yeah”, With The Beatles também traz a sutileza beirando no amor com “All My Loving” e “Till There Was You”. Presença notável também de “Don’t Bother Me”, primeira canção escrita por George Harrison, como um exercício para provar de que poderia sim escrever canções. Além disso, o álbum é como um marco, saindo de canções usuais utilizando os temas bonitinhos e fofos para atingir o coração da Beatlemania que já estava alucinada à todo momento. Já sentindo o peso da história que viria nos anos seguintes, o disco seguinte já teria um certo amadurecimento.

Por fim, With The Beatles é como se fosse uma continuação na mesma onda de seu antecessor. Seguindo o famoso lema “não se mexe em time que está ganhando”. Além das já citadas, os covers como "Roll Over Beethoven" e "Please Mr. Postman", são homenagens que superaram expectativas, e, assim como em cada álbum lançado depois, a banda continuaria a aprimorar sua abordagem ao rock e à música pop. — Victor Persico




A Hard Day’s Night
1964

★★★★★

A Hard Day’s Night é o terceiro álbum de estúdio dos Beatles e é considerado por muitos como o último da era “iê-iê-iê” do grupo, antes do início do processo de amadurecimento que se tornaria evidente em seu sucessor Beatles For Sale. Este álbum é significativo também por ser o primeiro a contar com 13 faixas escritas por John Lennon e Paul McCartney. Com uma sonoridade predominantemente mais pop em comparação com os álbuns anteriores, a faixa título carrega uma das histórias mais emblemáticas da trajetória do quarteto: após um longo dia de trabalho, Ringo Starr proferiu a frase “Foi uma noite difícil”. Assim, com um acorde em Fá e o baixo em Sol, os Beatles dão o pontapé inicial no álbum, imediatamente precedido por "I Should Have Know Better", que se destaca no filme com Pattie Boyd —bfutura esposa (e ex) de George Harrison — gritando e bagunçando os cabelos, enquanto a música toca em um vagão de carga de um trem.

Na sequência, “If I Feel” representa a primeira tentativa de Lennon em criar uma balada pura e sentimental, trazendo harmonias que beiram o duo Everly Brothers; essa canção faz ecoar a versão “Pra Você Eu Digo Sim” de Rita Lee. Em “I’m Happy Just To Dance With You”, escrita especialmente para George, que não tinha confiança para compor seu próprio material, McCartney descreveu-a como uma canção de "fórmula", projetada para agradar ao público de forma direta. Essa faixa se tornou um marco pessoal para mim, pois foi a razão pela qual George se tornou meu Beatle favorito. É um pop rock certeiro, seguindo à risca o que McCartney mencionou, e, apesar de sua simplicidade nos acordes e vocais, merece um reconhecimento especial por sua leveza e espirituosidade. Já em “And I Love Her”, vemos a primeira balada em que McCartney se impressionou, descrita por Lennon como seu “primeiro yesterday” — a música mescla bolero com Ringo atacando os bongos, um baixo marcando o tempo, e o riff brilhando de George, que, infelizmente, foi tocada apenas uma vez fora dos estúdios da EMI.

Por outro lado, “Tell Me Why” pode ser facilmente reimaginada nas vozes de grupos femininos da Motown, com uma estrutura básica e um refrão chiclete. Em seguida, “Can’t Buy Me Love”, que sempre me intrigou fechar o lado A, começando com os berros de Paul McCartney; enquanto é um rock and roll sólido, se encaixa perfeitamente no caos da cena do filme, onde os quatro correm, pulam e bagunçam. A discografia dos Beatles é uma verdadeira aula de transformação, revelando a sede insaciável dos quatro por mais. — Victor Persico




Beatles for Sale
1964

★★★☆☆

Beatles for Sale é um dos trabalhos menos amados dos Beatles. Apesar de manter uma essência divertida, o álbum reflete um período de exaustão criativa. Lançado quando a banda estava no auge da fama, o disco traz canções que evidenciam um cansaço emocional, com melodias mais melancólicas e letras que já não tinham o mesmo frescor jovial de álbuns anteriores. O desânimo é claro em faixas como “I'm a Loser” e “No Reply” que revelam uma nova vulnerabilidade da banda, mas não tão atraente quanto se esperaria do quarteto mais amado de Liverpool.

O álbum se diferencia justamente por essa profundidade emocional pessimista, que marca um distanciamento das composições mais alegres. No entanto, a presença de vários covers dá uma certa impressão de que a banda estava sem tempo ou inspiração para criar algo inteiramente novo. Embora os Beatles sejam mestres em homenagear suas influências, essas reinterpretações não conseguem elevar o disco, e acabam reforçando a sensação de que Beatles for Sale foi mais uma obrigação do que uma criação autêntica.

Mesmo assim, o álbum foi um sucesso comercial e recebeu elogios da crítica. Ele captura um momento de transição na trajetória dos Beatles, que ainda brilhantes musicalmente, enfrentavam uma pressão constante para manter o ritmo de produção. Embora interessante por mostrar um lado mais sombrio da banda, Beatles for Sale decepciona um pouco quando comparado a outros brilhantes trabalhos da banda, especialmente os que viriam depois. — Vit




Help!
1965

★★★★☆

Help!, o quinto álbum do quarteto de Liverpool, foi lançado no auge da beatlemania e também serviu como trilha sonora do filme da banda, que leva o mesmo nome. Este álbum marcou mudanças significativas no estilo musical dos Beatles, apresentando uma sonoridade mais madura, com experimentações de novos instrumentos e técnicas de gravação. O disco não se limita ao divertido rock n roll dos anos 60, mas também incorpora influências do folk e até country, como evidenciado na faixa "I've Just Seen a Face", que cativa o ouvinte do início ao fim, mesmo com sua curta duração.

Canções como a emocional "Yesterday" e as animadas "Ticket to Ride" e "Help!" tornaram-se clássicos atemporais, lembrados e amados até hoje. A diversidade de estilos mostra como a banda estava evoluindo e explorando novas direções em sua música, capturando a essência de uma época em transformação.

A capa do álbum também se destaca como uma das mais populares da história do rock. Criada pelo fotógrafo Robert Freeman, a ideia inicial era formar a palavra "HELP" com as poses dos quatro músicos, que estavam vestidos como sinalizadores. Embora a disposição das letras não tenha saído como planejado, esse “erro” se transformou em um grande acerto, consolidando ainda mais o impacto visual e cultural do álbum. — Vit




Rubber Soul
1965

★★★★★

Rubber Soul é marcado pela evolução madura da banda, que começou a se afastar do beat simples, característico dos Beatles no início de sua carreira, e se aproximar de um som mais refinado, expandindo seus horizontes musicais e líricos.

A canção "In My Life" é uma das que mais brilham, especialmente pela sua profundidade temática. Essa faixa também inspirou produtores de música pop a utilizar o cravo em seus arranjos. Em outras canções, é possível notar influências do folk-rock, soul e até da música indiana, pelo uso do sitar, graças ao interesse de George Harrison pela cultura musical da Índia.

O disco é especial pela experimentação e introdução de outras culturas, fazendo com que a banda mais popular do mundo quebrasse barreiras culturais e musicais. Rubber Soul foi um sucesso de vendas e recebeu muitos elogios da crítica, além de influenciar vários músicos até os dias de hoje. — Vit




Revolver
1966

★★★★☆

O mais interessante sobre Revolver talvez seja como o álbum se posiciona temporalmente em relação às suas técnicas de produção. Muito se fala sobre esse aspecto em Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que é, de fato, mais conceitual, redondo e meticulosamente arranjado. Mas é em discos como Revolver que o material dos Beatles brilha mais, quando é perceptível a experimentação, o vigor de fazer não somente algo fora da curva da música estruturalmente, mas pensar em um diálogo possível entre a música pop e técnicas de experimentação.

E sim, nisso os anos 60 foram gigantes no geral, mas é Revolver que dá o primeiro passo mais mainstream para tal. Um dos melhores exemplos é "Tomorrow Never Knows", uma canção que transita perfeitamente entre a música pop e a experimental, sendo atemporal tanto para os anos 60 quanto para os dias de hoje. Suas técnicas de manipulação em pós-produção, somadas à musicalidade impecável, criam uma canção com estrutura pop que utiliza efeitos e métodos de produção complexos.

Além disso, as experimentações com músicas e ritmos não-ocidentais permanecem, ainda mais intenso que no Rubber Soul e ainda sobra espaço para músicas que hoje são considerados standards do rock, como “Eleanor Rigby”. — Tiago Araujo




Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
1967

★★★★★

Amado por muitos e temido por outros, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band é uma verdadeira ode ao music hall, onde a combinação de várias formas de performances, canto e comédia se entrelaçam para criar uma experiência de entretenimento puro. Desde o primeiro segundo, o ouvinte é transportado para um ambiente que evoca a sensação de estar em público, socializando e se divertindo. Se olharmos para o hoje, percebemos que, apesar de algumas opiniões divergentes, a vanguarda do álbum é inegável, evidenciando novas abordagens e formas de expressão que o grupo trouxe diante de um contexto de inovações e mudanças nas artes, na cultura e até mesmo na política da época.

Esteticamente significativo, o álbum inicia com uma pré-introdução de um show que faz o ouvinte se sentir imerso em um ambiente de espetáculo. É um verdadeiro show de guitarras elétricas distorcidas que, para a época, representou um novo senso de possibilidades no rock e na big band. Essa relação se destaca principalmente na estética e no conceito de orquestração adotados pelos Beatles, que, mesmo não sendo diretamente relacionados ao gênero do music hall, incorporaram elementos como melodias e instrumentações que lembram canções populares desse estilo, como em "When I'm Sixty-Four". A combinação de clarinetes, ritmos sincopados e letras humorísticas e sentimentais criam um clima festivo.

Além disso, a obra é marcada por inovações técnicas, como o uso de gravações ao contrário, variações de velocidade e camadas de efeitos sonoros, além da inclusão de instrumentos pouco convencionais, como o sitar, que traz a influência da música indiana, evidente em faixas como "Within You Without You". As letras oníricas e abstratas, como as de "Lucy in the Sky with Diamonds", se destacam por suas descrições visuais surreais e referências a paisagens de sonhos, refletindo a estética psicodélica da época. O álbum se afasta de estruturas simples de verso-refrão, apresentando seções imprevisíveis e sobreposições de camadas, como em "A Day in the Life", onde a orquestração crescente se torna uma das passagens mais marcantes da obra, consolidando a relevância de Sgt. Pepper's na história da música. — Brinatti




Magical Mystery Tour
1967

★★★★★

Magical Mystery Tour exalta a criatividade do quarteto durante sua fase psicodélica, apresentando uma jornada musical repleta de letras intrigantes e arranjos sonoros inovadores. O disco demonstra a habilidade da banda em criar ambientes sonoros imaginativos, levando o ouvinte a uma viagem mágica que mistura fantasia e realidade.

Essa jornada musical abrange desde baladas introspectivas, como "The Fool on the Hill", que reflete sobre a solidão e a percepção do mundo, até faixas divertidas e absurdas, como "I Am the Walrus". Nesta canção, Lennon brinca com aqueles que tentam encontrar qualquer significado oculto em qualquer canção do grupo. O álbum incorpora elementos de rock psicodélico, uma inovação para a banda que reflete tendências futuras mais explícitas disso que eles fazem aqui: uma exploração de estilos, desde arranjos orquestrais até influências do rock, quebrando a monotonia e criando uma sonoridade única e extremamente interessante.

Além disso, Magical Mystery Tour também serviu de base para o filme homônimo, no qual os Beatles apresentaram sua primeira comédia nonsense, ampliando ainda mais os limites da narrativa cinematográfica. Essa ousadia na inovação e na exploração de novos campos sonoros e visuais abriram os olhos de muitos músicos para a possibilidade de expandir seus horizontes criativos. Esse trabalho não só celebra a psicodelia, mas também representa a essência experimentalista da banda inglesa, desafiando limites e normas na arte. — Vit



The Beatles (White Album)
1968

★★★★☆

Se Revolver marca o início da jornada dos Beatles na exploração de novas técnicas de produção, é em The White Album que essas experimentações atingem seu auge. Talvez porque o álbum começa a ser fruto de alguns impasses entre os membros, cada um vai colocando as músicas ao seu próprio estilo, e isso dá liberdade principalmente ao John Lennon, que conhece e começa a explorar a música conceitual, principalmente depois de conhecer a artista Yoko Ono, o que gerou, por exemplo, a obra-prima “Revolution 9”.

É um álbum que tem sim uma diferença de qualidade entre as músicas, mas nunca chega a ser cansativo. Tem um dinamismo que poucas vezes na história da música conseguiu ser atingido num disco duplo. Além disso, é uma outra forma de pensar o rock, mais alinhada ao blues clássico radicalizado, como em “Yer Blues” de John Lennon, ou um blues rock que estava começando a se popularizar, como a celebrada “While My Guitar Gently Weeps”, de George Harrison, inspirada pela sua leitura do I Ching.

É possível notar, portanto, que eles não estavam alinhados apenas com a música experimental no sentido de tentar coisas novas, mas com o desejo de produzir outras músicas, independentemente do gênero e do país de origem, da técnica, ou mesmo da falta dela. — Tiago Araujo




Yellow Submarine
1969

★★★☆☆

Após a insatisfação da banda com o filme “Help”, os Beatles resolveram embarcar na ideia de “Yellow Submarine”. Considerado mais uma obrigação contratual do que um desejo criativo, o filme além de tudo contou com a presença reduzida do grupo. Tanto que os quatro não dublaram seus próprios personagens na animação e sua participação no álbum foi limitada, aparecendo em apenas metade das faixas.

Apesar de ser um álbum difícil de ser digerido pelos fãs, por acharem muito infantil ou fraco comparado com seus antecessores, o disco ainda traz pérolas como a própria faixa-título que faz todos cantarem animados com Ringo, “Hey Bulldog” gravada no mesmo dia que o single “Lady Madonna”, o sucesso “All You Need Is Love” e a psicodelia em peso por parte de George Harrison em “Only a Nothern Song” e “It’s All Too Much”.

O restante do álbum são peças instrumentais de George Martin, que preenchem o espaço restante com influências de compositores como Stravinsky, Mozart e Webern e com toda a certeza, todo mundo nem se lembra tanto. — Victor Persico




Abbey Road
1969

★★★★★

Abbey Road, de 1969, é amplamente considerado uma das maiores obras dos Beatles e um marco na história da música. O álbum foi gravado em meio a tensões internas no grupo, mas essas dificuldades não impediram que ele se tornasse um sucesso tanto nas paradas musicais quanto na crítica. A produção de George Martin, combinada com a inovação sonora que a banda vinha buscando, resultou em um trabalho que misturou rock, pop, blues e até elementos da música experimental. Em “Come Together” imediatamente vemos o tom do disco, com linhas de baixo em destaque e um lugar denso que parece ser um autorretrato de John Lennon. A influência psicodélica se faz presente nessa faixa e em “I Want You (She’s So Heavy)”, que, com seu uso de efeitos e sons experimentais, mostra como os Beatles ainda estavam explorando novos territórios musicais.

“Something”, a melhor faixa do álbum de longe, é uma balada melódica e orquestral que coloca George Harrison no centro das atenções. Combinada a “Here Comes the Sun”, ambas demonstram o domínio dos Beatles sobre o pop melódico, trazendo à tona a leveza e a beleza que sempre foram marcas registradas da banda. Já “Oh! Darling”, com sua clara influência do blues, destaca o vocal rasgado de Paul McCartney e uma instrumentação mais crua, ampliando a diversidade musical presente no disco.

Quando o álbum chega ao lado B, somos apresentados ao famoso Abbey Road Medley, uma sequência de músicas interligadas que vai de “You Never Give Me Your Money” até “The End”. Esta parte é, sem dúvida, uma das coisas mais fascinantes que já ouvi até hoje. A música te leva, com uma mistura genial de pop, rock e vaudeville, incorporando elementos cômicos. Tudo é muito lúdico, com mudanças rápidas de ritmo que mantêm a experiência além de imprevisível, totalmente interessante. — Brinatti




Let It Be
1970

★★☆☆☆

É um fim que estava fadado a acontecer. Cheio de clássicos, nenhum deles muito interessante. Dá para visualizar como um retorno às raízes — o que seria bastante conservador, algo que o disco já é o suficiente em termos musicais — mas não é interessante. Sejamos sinceros: Abbey Road já é um retorno a uma forma mais simples de fazer rock. O que Let It Be faz é descartar os materiais distorcidos e pouco interessantes que a banda estava trabalhando.

Pense no famoso show no rooftop: é um marco cultural, mas também um símbolo da decadência e do fim de uma banda que revolucionou os anos 60, moldou a indústria musical e mostrou ao mundo como unir arte e música popular. Nem as outras versões do álbum, como a Naked, conseguem salvá-lo, sendo mais um reflexo das birras entre os membros da banda. Na verdade, o mais interessante em Let It Be é o trabalho de Phil Spector. Sua orquestração é exagerada, brega e às vezes alta demais.

No entanto, é como em um filme hollywoodiano, que chegando ao fim, inicia uma música da trilha sonora, alta, mais que qualquer outra música que tocou ao longo do filme, daquelas que deixam um gosto amargo na boca — um pouco apelativo, mas sempre clássico e inevitavelmente marcante. Não é à toa que essas sejam as versões das músicas que são tocadas nos shows do Paul até hoje e, honestamente, são as únicas que deveriam, por bem ou por mal. — Tiago Araujo

Aquele Tuim

experimente música.

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