Clássicos do Aquele Tuim | Perfect Velvet (2017)


★★★★★
5/5

Imagine o seguinte cenário: uma vizinhança suburbana enfrenta uma série de desaparecimentos repentinos de entregadores de pizza, com cartazes espalhados pelos arredores. E há uma casa, em que moram cinco mulheres encantadoras e que, claro, são a causa de tanto perigo! Cada vez que a campainha toca, os pobres “pizza boys” são atraídos pelas promessas charmosas delas e o assassinato é consumado.

Essa narrativa seria uma ótima sinopse de um filme de terror dos anos 90, mas se trata do clipe de “Peek-a-Boo”. Desde o princípio da sua formação, Red Velvet é um dos nomes da terceira geração que articula seus significantes criativos para além das convenções primárias do gênero — são ideias que se desenvolvem ao esbarrar no quirky, no extravagante e sem medo de soar estranho ou de experimentar. Foram essas ideias que assentaram a imagem do grupo nos seus primeiros anos, com músicas como “Ice Cream Cake”, “Dumb Dumb”, “Russian Roulette” e “Rookie”.

Perfect Velvet, no entanto, extrapola todas essas predefinições. Dando sequência ao sucesso estratosférico e veranil de “Red Flavor”, o contraste pelo horror é apenas a primeira página desse capítulo inesquecível. Esse disco é daqueles que surgem poucas vezes no k-pop, que é capaz de mobilizar quase todos os fãs do gênero para escutá-lo.

Aqui, o “lado velvet” ganha a profundidade e versatilidade que merece. Se unindo com nomes como KENZIE, Moonshine, Sumin e The Stereotypes, as nove faixas são peças vivas, vibrantes e que comunicam o melhor que o k-pop pode proporcionar em termos estéticos e sonoros. A primazia é, obviamente, pelo R&B e soul, que aparecem em faixas como “About Love”, “Moonlight Melody”, “Kingdom Come” e a fantástica “Perfect 10”, que faz jus ao seu título.

Porém, o que torna Perfect Velvet tão especial são as faixas que desviam do escopo que o quinteto já tinha explorado em trabalhos anteriores. A já citada “Peek-a-Boo” é um dos grandes hinos do grupo, assim como as experimentações com trap em “My Second Date” e a injustiçada “Attaboy” flexionam os limites do que se poderia esperar para os padrões do grupo.

E as suas duas melhores músicas são daquelas que não são capazes de se replicarem sob nenhuma circunstância. “Look” é dominada por um apelo implacável de sofisticação, expressando esse sentimento de estado contínuo de encanto e admiração através de elementos do deep house. E “I Just” representa o aprisionamento em memórias solitárias e dolorosas, em um espaço-tempo difícil de decifrar. Com sintetizadores marcados pelo future bass e uma repetição ecoante das expressões “eh oh eh eh”, ela carrega consigo uma aura fulminante e, ao mesmo tempo, confortante.

É curioso notar como, atualmente, esse disco entrou no panteão de álbuns essenciais do k-pop, junto a projetos como Pink Tape, do f(x), Max & Match, do LOONA/ODD EYE CIRCLE, e Reboot, do Wonder Girls. É uma posição tão justa quanto merecida, pois se tornou um dos exemplares primorosos de musicalidade e criatividade do gênero. Red Velvet é um grupo sênior que um dos seus pilares é a discografia, e Perfect Velvet é sua principal referência.

Selo: SM Entertainment
Formato: LP
Gênero: Música do Leste e Sudeste Asiático / K-Pop
Felipe

Graduando em Sistemas e Mídias Digitais, com enfoque em Audiovisual, e Estagiário de Imagem na Pinacoteca do Ceará. É editor adjunto do Aquele Tuim, integrando a curadoria de Música do Continente Africano.

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