Crítica | Absolver, Kill Me While My Eyes Are Closed


★★★☆☆
3/5

Naquele espírito do pós-hyperpop, Kaho Matsui tem se destacado como uma semi-estrangeira na música eletrônica. Suas músicas — em sua maior parte, colagens calmas de ideias levemente fofas e criativas — têm fragmentos da ansiedade que é ser uma jovem em um período pré-apocalíptico, mas que se manifestam de maneira quase involuntária, tão honesta quanto natural. Seu álbum de ano novo, Absolver, Kill Me While My Eyes Are Closed, mergulha mais fundo nessa desesperança, mas ainda num arranjo notavelmente tranquilo, como se ela estivesse apenas exausta de coexistir com fatos incontestáveis do “fim dos tempos”; não há necessidade de se exagerar ou pôr ênfase em nada disso.

Esse descaso com a obrigação de se “enfeitar” a escrita e uma certa predileção pela simplicidade vai de encontro com álbuns como Benji, de Sun Kil Moon, e A Crow Looked at Me, de Mount Eerie, embora de forma menos diretamente íntima, mais abstrata. Entretanto, as comparações com esses álbuns, sonoramente tradicionais, só podem ser traçadas no âmbito da escrita; Matsui tem uma mente que naturalmente tende ao excêntrico. Em meio a quietos estalos eletrônicos, as faixas de Kill Me assumem uma estrutura que, mesmo que se repita, nunca olha para trás, refletindo precisamente o sentimento de seguir em frente numa vida rotineiramente vazia e emergencialmente caótica.

Preste atenção em como a artista descreve sua música: “música folk improvisada, eletrônicos quebrados e música pop honesta, a maior parte gravada em uma sala com um radiador quebrado”. Embora o trecho se refira ao seu álbum anterior, ele descreve bem a alma da música de Kill Me, com suas meditações pós-rock mediadas entre uma ética indie pesarosa e a vontade passiva de reinventar a música eletrônica. Com seus equipamentos caseiros, honestidade lírica e desconstrução pós-moderna do folk, consigo ver Kaho Matsui como um dos próximos grandes nomes da música experimental.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Experimental / Avant-Folk, Cantor-Compositor, Pós-Rock

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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