Crítica | Access All Areas


★★★★☆
4/5

De tempos em tempos, a nostalgia se faz presente no mainstream. É recorrente aludir ao que outrora fez sucesso e referenciar aqueles que capinaram o terreno para os nomes do presente. A partir disso, obviamente, surgem inevitáveis comparações, que podem, inclusive, pôr em cheque a autenticidade daquele novo artista. É preciso, portanto, mostrar que há mais a mostrar do que a replicação de fórmulas que foram bem-sucedidas anteriormente.

Mais de dois anos após despontarem na nova cena do R&B com o ótimo single “Cardboard Box”, em seu primeiro álbum de estúdio, Access All Areas, o grupo feminino britânico FLO entrega um prato cheio para os saudosistas, mas acerta ao conseguir ir além de suas fontes de inspiração.

É impossível escutar as músicas do FLO e não ser imediatamente transportado para aquele período entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000 em que o R&B dominava as paradas. Grupos femininos como TLC e Destiny’s Child se destacaram com inúmeros hits que contribuíram de forma significativa para a concepção do Access All Areas. E se o fator nostalgia foi determinante para colocar Jorja Douglas, Renée Downer e Stella Quaresma no radar do público, também poderia ser um calcanhar de Aquiles. No entanto, o disco é muito competente em mostrar que as jovens artistas não são reféns de suas referências.

Ao longo das 16 faixas que compõem o álbum, FLO passeia por diferentes nuances. “In My Bag”, parceria com a rapper Glorilla, tem elementos de trap que remetem a algo que Ariana Grande cantaria. “Check”, por sua vez, é um equilíbrio entre o R&B dos anos 2000 e o UK garage tão presente em lançamentos de hoje em dia. Já “Shoulda Woulda Coulda” poderia ser facilmente um dos grandes sucessos assinados por Darkchild no fim da década de 1990. A obra ainda termina com o surpreendente pop rock “I’m Just A Girl”, que evoca a Rihanna do “Rated R” (2009) para uma faixa divertida e explosiva.

Access All Areas levou mais de dois anos para ficar pronto, o que só ajudou a aumentar as expectativas dos fãs para o tão aguardado álbum. Porém, o resultado não poderia ser mais animador. Em tempos onde o R&B por vezes soa mecânico e repetitivo, o disco é um respiro. FLO faz uma estreia destemida, precisa e cheia de sucessos em potencial. Como disse Cynthia Erivo na introdução do projeto, “Um movimento começou / Nossas garotas se encontraram / E meticulosamente preparam um banquete para os nossos ouvidos”. E que banquete!

Selo: Island
Formato: LP
Gênero: R&B / Pop

Lucas Souza

Jornalista, escritor, noveleiro e movido a música desde que se entende por gente. Redator na Aquele Tuim e curador de MPB, Pós-MPB, Música Brasileira e Pop.

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