★★★★☆
4/5
Maria Beraldo é uma das melhores da música brasileira contemporânea. Desde seu primeiro trabalho, Cavala, de 2018, a artista, compositora e clarinetista impressiona com suas composições e produções viscerais. Em 2024, a artista retornou à carreira solo após integrar projetos de Juçara Marçal, Rodrigo Campos e Tom Zé. Colinho, seu segundo álbum, foi produzido por ela e Tó Brandileone, do 5 a Seco, que já havia colaborado com Beraldo no último EP do Quartabê. Em 11 faixas, ela transita por diversos estilos e encontra ecletismo para seu melhor trabalho até hoje.
Colinho começa com a faixa-título, um semi-funk “safado” e industrial com pianos e instrumentos de sopro, que dá o pontapé inicial. “Baleia”, a segunda faixa, é uma regravação da parceria de Beraldo com Juçara Marçal e Kiko Dinucci no premiado Delta Estácio Blues de 2021. Nesta versão, a cantora adiciona elementos de jazz à performance e produção. “Ninfomaníaca” e “Guma” reforçam um tom clássico contemporâneo de artistas como Meredith Monk e Steve Reich. Em seguida, “Truco”, single lançado anteriormente, é como uma versão pop-lésbico de “Windowlicker”, do Aphex Twin. Isso expande um contraste eclético na ordem das canções em um embate entre o eletrônico e o clássico.
As parcerias de Colinho começam com “Matagal”, aqui uma faixa acústica com referência à MPB de Zélia Duncan, num encontro de vozes lésbicas intergeracionais. O contraste persiste na faixa seguinte, “I Can’t Stand My Father Anymore”, um punk anárquico e ansioso em inglês, ponto alto do álbum. Essa mania continua em “Crying Now”, música que segue o estilo jazz de vanguarda com destaque das baterias. O jazz segue na parceria “Masc” com Ana Frango Elétrico, com baixos que retornam ao som de “Baleia”, mas com levadas mais populares. Colinho fecha com “Quem Sou Eu”, colaboração folk com Negro Léo e regravação de “Minha Missão”, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro.
Colinho se sustenta pela sua identidade eclética, começando por um estilo, trocando e voltando sem parar em seus 40 minutos de duração. Se apresenta de um jeito, e metamorfoseia-se diversas vezes, dentro de seu contexto. É o melhor trabalho de Maria Beraldo até hoje, porque, no fundo, tem uma ausência de definição. Há jazz, pop, punk, samba e música de vanguarda – todos executados organicamente. O resultado é esplêndido.
Selo: RISCO
Formato: LP
Gênero: Pop / Art Pop