Crítica | Lobby Songs


★★★★☆
4/5

Quando pensamos em “música de sala de espera”, imaginamos um som leve que não dá espaço para o ouvinte se distrair e que funciona apenas como parte de um ambiente agradável para tornar o tempo de espera menos cansativo. A banda City Mall, partindo do conceito de músicas para ouvir nessas ocasiões, busca expandir essa ideia para algo mais interessante, explorando a suavidade musical para produzir um trabalho que se encaixe perfeitamente com o espaço do lobby, porém, distanciando o ouvinte da passividade que esse tipo de música costuma levar, convidando-o a mergulhar na atmosfera onírica do registro.

Na verdade, é uma proposta muito simples, mas a execução é extremamente divisiva se considerarmos a forma e o modo como esse tipo de abordagem tende a se misturar com o que temos desse estilo/gênero hoje. Para concretizar suas ideias, City Mall traz muito do aspecto lo-fi do bedroom pop, o som funky suave e nostálgico do city pop e do synthpop em uma abordagem sonhadora. O resultado é um disco que consegue construir uma atmosfera pacífica e envolvente.

A introdução do EP já prepara o ouvinte para a ideia do projeto, com o som lounge que acompanha a simulação de uma chamada em espera. É uma associação perfeita com o estereótipo da música de sala de espera e eles tentam brincar com isso da forma mais inteligente possível. As próximas músicas constroem esse sentimento onírico que acompanha a obra do início ao fim, como “Windy”, repleta de camadas suaves de sintetizadores que conseguem tirar toda a sua dor por pelo menos 2 minutos, dando uma sensação de leveza aliviante – é puramente sensitivo. Em seguida, com “Sapphire”, os sintetizadores funky e grooves suaves tornam a imersão na atmosfera onírica ainda mais intensa.

Assim como Pedro Spadoni, um dos membros do conjunto, afirma, “Don't Talk” é a canção em que mais é evidente a influência do city pop. Este é também o melhor momento do projeto, no sentido da eficácia da sua força expressiva baseada na construção de uma linguagem que ora depende, ora não depende, de paisagens sonoras enraizadas em melodias e sensações nostálgicas. Uma das melhores qualidades atribuídas às referências do gênero japonês na obra é como ele consegue evocar sensações de nostalgia fortes que maximizam a atmosfera que eles buscam elaborar.

Nesta música isso é bastante intensificado, especialmente com os arranjos e dedilhados apaixonados dos teclados e o delicioso groove do baixo que nos conecta fortemente à natureza espectral da obra. Ao final dessa canção, os saxofones surgem, dando uma finalização triunfal para um projeto curto mas que consegue produzir algo suficientemente encantador. Lobby Songs não busca ser mais do que ele é, mas executa sua proposta da melhor forma possível, fazendo que, mesmo que a premissa seja simples, o ouvinte fique fascinado no universo etéreo do EP.

Selo: Cavaca Records
Formato: EP
Gênero: Pop / Synthpop, City Pop, Bedroom Pop

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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