★★★☆☆
3/5
O hip hop é um espaço cheio de fetiches. Quem passa pela cultura adquire uma obsessão ilógica por objetividades banais — as barras mais pesadas, o flow mais único, o beat mais diferenciado, ou qualquer outra sopa de letrinhas estadunidense. É um preciosismo que permeia até aqueles que querem escapar dessas amarras.
É por isso que os álbuns mais animadores do hip hop são aqueles que ou brincam com essas regrinhas ou que, de corpo e alma, fogem totalmente delas. Quando não se faz nem um nem outro, é provável que o álbum seja apenas mais uma gota no mar. Não tem coisa mais entediante que repetir uma fórmula sem querer; ou pior: por repetir.
No caso de Maria Esmeralda, não há nenhuma fuga do hip hop, muito pelo contrário, é um aprimoramento que vai de encontro aos conceitos disseminados pelo hip hop abstrato americano, ao cinema marginal e à MPB. Há várias interseções com o teatro (em especial o vaudeville) na forma como o rapper principal constroi seus flows, além da inspiração em novelas brasileiras para a construção da narrativa. É algo bom demais para ser verdade.
O fato é o seguinte: o que o quinteto por trás do projeto faz se encontra em um certo limbo, um meio-termo perigoso. Ao mesmo tempo que há um desejo para fazer algo além do hip hop, para superar alguns de seus clichês, a maioria das faixas pouco faz para concretizar essa vontade. Ao longo do disco, temos a impressão que são muitos “ses” e poucos “quandos”; não há radicalidade ou intenção suficiente para elevar o disco à categoria de especial que ele tanto deseja.
Isso, porém, não significa que o álbum não é bom. Na verdade, é, talvez, um dos melhores discos brasileiros de hip hop do ano — por mais que isso fale mais sobre a qualidade da nossa cena no momento do que qualquer outra coisa. Alguns beats têm um quê nublado e falsamente nostálgico que é simplesmente sensacional, sem mencionar que a narrativa, muito moderna na sua forma não-linear de estrutura, é realmente muito bem escrita.
Se não se ativesse tanto à estrutura do hip hop, se não fosse tão básico em seu boom bap e tão perdido em seu drumless, se quisesse algo a mais, Maria Esmeralda teria sido revolucionário. O produto que temos, contudo, ainda serve uma ótima narrativa em cima de beats muito acima da média e com performances mais empenhadas que o (baixo) padrão. É um bom disco.
Selo: Sujoground
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Abstrato, Drumless, Boom Bap