Crítica | Viva o Romano


★★★★☆
4/5

Quase uma semana antes de lançar Viva o Romano, seu novo EP, DJ Arana havia publicado um story pedindo desculpas por usar cantos árabes em suas músicas. Esta é a segunda vez que ele faz isso; a primeira vez foi por pressão de entidades muçulmanas que o criticaram quando áudios do álbum Rock Pesado 2 furaram a bolha ano passado. É um assunto polêmico, pois ao mesmo tempo em que trata de algo religioso, como quando há versos cantados do Corão, trata também de algo formativo da cultura do funk, e genuinamente não vai além disso — os ritmos árabes muitas vezes chegam aqui sem nenhum pano de fundo além da questão estética.

Viva o Romano, então, parte de todas essas premissas para cumprir uma promessa que DJ Arana faz ao seu público há tempos: trazer de volta 2014. Para isso, ele rebobina inúmeras vezes a fita que percorre a existência do funk após esse período, de forma semelhante a quando criou uma de suas melhores músicas, “MONTAGEM ANOS 2000”, que parece baixar o BPM e evocar a batida que outrora marcou o tamborzão. Esse apelo à nostalgia se tornou um caminho cada vez mais necessário diante da velocidade com que o funk se renova; é também um escudo que mostra que não precisamos buscar inspiração no Leste Europeu devastado pela guerra para fazer algo daqui conquistar o mundo.

É por isso que Viva o Romano chama tanta atenção, pois além do título, que conecta diretamente a um dos melhores períodos do gênero, dado o início da febre viral do passinho do romano no YouTube e nas redes sociais do Brasil, ele também acerta em cheio em outra promessa de Arana: o Magrão. Faixas como “Magrão do Caveirão 1”, “Magrão do Corola Vs Magrão do Pisca” e “Magrão do Caveirão 2” se aprofundam nas características dançantes do magrão entre repetições, amostras vocais de MCs e beats ensurdecedores sobrepostos, como o assobio semidestruidor. Além disso, há uma atualização muito mais robusta em termos de elementos conflitantes e típicos do bruxaria clássico, que recupera peças como “Sarrada no Ar”, de MC Crash, que viaja no tempo sem o menor esforço de soar datada, nem foge de afirmações atuais como o tom áspero que Arana ainda mantém em sua produção de bolso.

E, apesar de manter suas marcas definidas em todas as seis músicas, tudo aqui acaba se aproximando do que na verdade remete a meados de 2014 como um sentimento que subtrai a produção do funk atual para dar espaço a uma espécie de homenagem. É aí que Arana transforma tudo o que faz em algo interessante. Pode ser difícil para algumas pessoas enxergá-lo como um jovem que parece ter o funk nas mãos, e ele tem. Sua habilidade é constantemente misturada com sua percepção criativa, o fato de ele se desculpar por usar o canto árabe aqui, ou então trazer sua própria versão do passinho do romano ao lado de MC Crash (“Caimba na Perna - Passinho do Romano”), reafirma seu comprometimento com a linguagem do funk. E veja bem: é o tipo de disposição que ele tem desde que surgiu.

Selo: Funk 24por48
Formato: EP
Gênero: Funk / Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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