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E pensar que existiu um tempo em que a gente cobrava o Sant por um álbum… O artista, que já está na cena e é um dos principais nomes do Rio de Janeiro há mais de 10 anos, agraciou a todos com mais um projeto. CONVICTO é o mais novo álbum do rapper, vindo pouco mais de um ano desde seu último lançamento “de: para:”, e ele volta para sonoridades e temáticas já estabelecidas em sua carreira, se distanciando um pouco dos romances abordados anteriormente.
Nos trinta minutos de duração do projeto, Sant explicita novamente o que todos já sabemos: ele segue tendo uma das melhores canetas do rap nacional, seu flow é difícil de pegar e sua lírica, somada a uma produção redonda, é uma verdadeira potência na construção de excelentes materiais completos.
Caso ainda não tenha ficado claro para alguém aqui, esse não é um álbum que Sant reinventa a roda, que leva o rap aos seus limites, dobrando e redobrando para criar algo novo, NÃO, nesse projeto vemos o Sant que já conhecemos e que também já muito se conhece (como fica claro nas múltiplas alto referências), com todos os seus pontos fortes — suscitados no parágrafo acima — afiados como sempre e provando, mais uma vez, porque é impossível falar de rap nacional sem falar de Sant'Clair Araújo Alves de Souza, nascido em Pilares.
CONVICTO traz diversos nomes do rap nacional e internacional e consegue fazer ser um dos projetos mais íntimos da discografia de Sant. Para além de falar da realidade dos moradores de comunidades, Sant tá falando muito dele mesmo nas músicas e é nesse momento que o tema “convicto” mais brilha. Convicto é um termo que nos é apresentado de forma dialética pelo músico, ou seja, ao mesmo tempo que Sant é convicto de seus méritos e seu valor (seja como MC ou como sujeito), mas enquanto homem negro de periferia, ele nasce um corpo convicto (Diz-se do criminoso a que se provou o delito) perante a sociedade.
Nesse sentido, é preciso destacar a música “NQL BECO”, que além de encapsular as ideias do álbum quase que por inteiro, de quebra nos apresentou um dos melhores versos da carreira do Borges. Outra faixa de destaque é “SANTOURA”, em que Sant além de fazer um tautograma com a letra S, também faz referência à sua história em formato de homenagem ao rapper Flávio Santorua.
Há quem ache que fazer música boa é extrapolar o limite do gênero, é recriar tudo que constitui uma sonoridade e transformar em algo novo, que bons álbuns de rap são aqueles que sequer soam como aquilo que se espera de rap. No entanto, essas características dizem mais sobre experimentação ou criatividade do que necessariamente sobre boas músicas ou sobre bons álbuns. Sant sabe bem dessa diferença e mostra como, mesmo se atendo a temas conhecidos, com características que já conhecemos, ele é capaz de criar um álbum espetacular.
Selo: Som Livre
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Rap