Crítica | VBT - O Funk Além do Sexo


★★★★☆
4/5

É difícil convencer o ouvinte a acreditar nas nuances de melodia e temas que o novo álbum do DJ Jeeh FDC explora. É diferente de tudo que você esperaria dele; na verdade, é diferente de tudo que o funk pode soar para um estranho. À sua maneira, é um álbum extremamente romântico, suave, meloso e, acima de tudo, sofisticado. Pode parecer bobo, mas desde que o gênero deu essa guinada para adotar (em um contexto mais moderno) o formato de lançar LPs/EPs completos, houveram poucos DJs e MCs que se esforçaram para criar uma unidade musical tão forte quanto Jeeh FDC.

Depois do hit viral “Puta Mexicana”, uma espécie de marca foi criada em torno de seu nome, cujas batidas secas, tubulares e constantemente agudas se tornaram registros de sua produção, quase como um braço extra com o qual ele mantém o controle sobre o que quer transformar. VBT - Funk Além do Sexo é cheio desses elementos, mas parece ir cada vez mais longe. Em “Pente do Fuzil”, por exemplo, os dedilhados de piano e os vocais de Mc Larissa andam tão próximos, quase duelando pelo ritmo, que logo são tomados por beats que carregam as características mais puras de Jeeh FDC na ponta do mandelão.

O mesmo acontece na sequência “Alcançando o Tom”, em que as melodias incrivelmente doces são ainda mais afinadas para soarem confortáveis, com uma mistura de percussão e sopro essenciais para criar a atmosfera aqui cobiçada. É um modus operandi que remete aos tempos gloriosos do funk rasteirinha, e se aproxima ainda mais conforme a letra avança numa espiral de conquistas e amores:

Responde pra mim qual mulher que não quer um preto cheiroso e gostoso / Que tem ideia pra trocar e ainda por cima tá cheio de ouro.


Mas o mais impressionante de tudo, além da forma como DJ Jeeh FDC impõe paixão (de amor, latência) ao funk, são os avanços que ele continua fazendo independentemente de quão acessível o resultado seja. Há instrumentos e fragmentos de música de concerto usados o tempo todo (“Esquema” e “Sempre Acostumado”), além de acenos mais diretos às suas raízes negras, como em “Afromandela Song”, um dos maiores destaques do álbum, que vai do berimbau a batidas desreguladas de percussão enquanto, surpreendentemente, brinca com o sample de “OIIA OIIA CAT MEME HARDSTYLE”, que viralizou no TikTok por meio de vídeos de gatos girando em uma tela verde.

São momentos como esses que alimentam as ideias de Jeeh FDC de ser mais do que apenas um DJ que está fazendo sua visão se perpetuar no funk, é um estado puro de criatividade e apreciação. É brilhante e ao mesmo tempo divertido, romântico e hedonista em igual medida, tudo é amor e tudo é paixão. Confere?


Selo: Funk24por48
Formato: LP
Gênero: Funk
Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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