Uma lista com Kamau, Doechii, Mach-Hommy, Matuê, DORIS, Bladee e mais!
10.
Documentário
Kamau
Em Documentário, as ideias de Kamau se intercalam para criar cores altamente esperançosas em meio às manipulações sonoras oblíquas, presentes em tons de cinza, ciano e amarelo, dos instrumentais. Através dessas camas de gato mentais, o rapper cultiva um adorável bonsai que pode ser chamado de “hip hop”, pelo qual expressa uma conexão inquebrável. Assim, poda seus pequenos galhos para atingir o resultado que almeja, mas também o admira como produto natural, formado pelos fatores que escapam de seu controle. — Sophi
9.
No Love in Lagos
Show Dem Camp, The Cavemen. & Nsikak David
No Love in Lagos tem sua concepção totalmente centrada na Nigéria, espaço este que se localiza para além das fronteiras tradicionais da matriz do hip hop. Porém, o disco dialoga com duas questões universais do gênero: o senso de colaboração, que está entranhado em todas as arestas do disco, e a confluência sobre outros estilos musicais. O highlife e o alté demarcam território não apenas como recurso, mas como agente formador e transmutador basilar de proposição. — Felipe
8.
Haut wie Pelz
Apsilon
É um álbum simples, alinhado com expectativas simples do pop rap, mas que ainda sim consegue criar um espaço diferente dentro do gênero. Na verdade, talvez é justamente a simplicidade que seja o ponto fora da curva, uma sonoridade mínima no instrumental é o que se encontra do começo ao fim, a voz e a performance de Apsilon dão conta de preencher o restante. — Tiago Araujo
7.
Alligator Bites Never Heal
Doechii
Esqueça sobre todas as constantes do hip hop estadunidense: nessa década, elas se esfarelaram como pó e não são mais tão confiáveis ao ponto de ditar verdades irrefutáveis do gênero. Diante de um cenário tão insosso, Doechii é como uma anomalia: ela não tem medo de soar ridícula, excêntrica, engraçada ou de desafiar limitações. Nem preciso dizer mais nada, pois Alligator Bites Never Heal explana por si só. — Felipe
6.
#RICHAXXHAITIAN
Mach-Hommy
É revigorante como Mach-Hommy possui, de fato, o que nos dizer. Apesar de discorrer sobre disparidades sociais, assunto comum em diversos discos de hip hop, #RICHAXXHAITIAN o tensiona em perspectivas que fogem do senso comum. Um exercício aflorado de autoconsciência e de pluralidade temática. — Felipe
5.
with 2
xaviersobased
xaviersobased constantemente troca entre cada um dos estranhos estilos de trap atuais — plugg, jerk, cloud — para formar um projeto que não se importa com nada e com ninguém. Seus beats repetitivos, que não ficam quietos em momento algum, borrões indefiníveis, difíceis de analisar ou denotar, são o palco perfeito para um rapper-camaleão que muda entre todas as influências possíveis. Isso transforma with 2 numa definição incerta, altamente dinâmica e animadora do que significa fazer trap em 2024; seria difícil achar uma melhor. — Sophi
4.
333
Matuê
Quem se impressionou com 333 não entendeu Máquina do Tempo. Quem se impressionou com o uso da estética neo psicodélica aqui, não entendeu que Matuê já havia entendido a lição deixada por Travis Scott ainda em 2019. Por fim, tratar como se somente agora (após 333) a articulação mais importante de um álbum de rap pudesse ser musical, e não necessariamente lírica, mostra a hipocrisia que foi a recepção e crítica musical brasileira dos últimos anos. Castlevania já vale a música pop do ano inteiro. — Tiago Araujo
3.
3rd Shift
J.U.S & Squadda B
3rd shift é recheado de 808s saltitantes, samples vindas diretamente da fuligem de Detroit e hi-hats prontos para cortar um bife. Seus beats ou são simplesmente idioticamente divertidos ou apostam em timbres, mixagens e ritmos esquisitos, puxando, rasgando e dividindo formas clássicas de fazer trap. As letras hilárias de J.U.S, performadas num tom de voz carismático e desleixado, não ficam muito atrás, complementando perfeitamente a esquisitice e intensidade da produção deixada por Squadda B. — Sophi
2.
Cold Visions
Bladee
A grande variedade de sons e técnicas do disco faz com que ele nunca seja cansativo. Isso porque Bladee sabe usar a sua versatilidade para construção de flows e letras junto com uma equipe de produtores geniais dentro do rage. Mostra também a importância desse artista, que cria há mais de uma década e não perdeu por um segundo sequer a sua vontade de criar e inovar dentro do espaço do que ele mesmo se consolidou. Um álbum muito divertido, que ao longo do ano foi melhorando a cada nova reprodução. — Tiago Araujo
1.
Ultimate Love Songs Collection
DORIS
Ultimate Love Songs Collection é quase um anti-rap. Ao invés de um trap destruidor de neurônios ou um boom bap recheado de letras relevantes, o que recebemos, na realidade, são 50 curtas cartas de um único remetente e destinatário: o próprio artista. Não parecem músicas feitas para se escutar, se assemelham mais a registros quebradiços do que é a vida comum de um homem qualquer de Nova Jersey. Poucos projetos capturam a subjetividade mística daquilo que é totalmente mundano tão bem quanto este. — Sophi