Uma lista com Nova Varnrable, Tim Reaper & Coco Bryce, JoeB, Verraco, Paulete Lindacelva e mais!
A música eletrônica sempre foi o gênero que mais utiliza o formato de EP, desde os anos 80 até a atualidade. Começar a produzir com EPs de gêneros específicos foi uma forma essencial para que DJs e produtores iniciassem carreiras que mudaram a música como um todo para sempre. Nesta lista, juntei os 10 EPs de música eletrônica do ano que mais se destacaram na sua capacidade de entregar experiências marcantes, inovadoras ou viciantes no curto espaço de tempo de 13 a 32 minutos, incluindo projetos de drum and bass, techno e house.
10.
Irreversible
ETERNAL SHINING
A representante do hardgroove techno deste ano não poderia ser outra. ETERNAL SHINING é DJ desde 2019, mas lançou discos somente em 2024, com Destination Unknown e Irreversible, robustas joias do hardgroove. No EP, as batidas de techno se apertam umas às outras sem deixar espaço para respiros, contudo, em cada faixa há uma extrema variação interna; como uma estrada reta, mas cheia de picos, descidas e buracos. Irreversible é um dos únicos EPs deste ano que se sustenta, expande e retrai a partir unicamente da incessante repetição de batidas intensas.
9.
Guabiraba, Chicago
Paulete Lindacelva
Guabiraba, Chicago, desde sua concepção, já estava destinado a ser a melhor interseção do ano entre a música house e a música brasileira. A confiança de Paulete em combinar ritmos como o coco com estilos mais clássicos do house se dá por uma elevada técnica e uma vontade gigantesca de afirmar a própria identidade. Através do caráter folclórico dos ritmos brasileiros explorados, pequenas pontes culturais são construídas entre estes e o house clássico, resultando em um produto único e celebrativo a partir da união de hemisférios opostos.
8.
it’s_EP
Nondi_
Em 2024, Nondi_ (projeto de Yakui) se consolidou, de uma vez por todas, como a melhor artista de juke da atualidade. Foram nove projetos de pura experimentação com os ritmos subentendidos, com usos inesperados de baterias eletrônicas e com as quatro dimensões de escuridão do juke. Dentre estes projetos, o que mais se destaca é it’s_EP, que, ao contrário do resto, usa de um BPM mais lento para transformar o gênero no cenário perfeito para ambientações inexatas e estéticas oblíquas. Que no próximo ano Nondi_ nos agracie com sua visão única da música house novamente.
7.
MIDSTYLE2024
MIDSTYLE
MIDSTYLE2024 é o ápice do epic collage em sua pureza; a interseção com outros gêneros é mínima, e por isso podemos ver o show principal em toda a sua glória. As bases metálicas do EP são constantemente contorcidas e fundidas para formar esculturas líquidas envoltas em filtros foscos. Nele, nada é minimamente lógico ou exato, as faixas apenas seguem fluxos intuitivos de um surrealismo singelo ou de uma necessidade explosiva de preencher tudo que a vista alcança. Sendo uma experiência muito abstrata para a maioria, MIDSTYLE2024 segue firme como um dos melhores experimentos do ano.
6.
Breathe... Godspeed
Verraco
No seu projeto mais criticamente reconhecido, Verraco transforma tradições eletrônicas britânicas em algo unicamente latino. As bases do techno estão aqui presentes, o que por si só já determina o tom hipnótico, impossível de ignorar, mas o que realmente define a capacidade inabalável de aprisionar o olhar de Breathe... Godspeed são os ritmos latinos — dembow, cumbia. Essas influências multiplicam a capacidade de ritmos não-sincopados, sequências sonoras e opções de design de som que um simples techno teria. Em uma lista séria de melhores músicas latinas de eletrônica do ano, “Godspeed >” e “Sí, idealízame” não poderiam estar de fora.
5.
Ach, Mensch
Christoph de Babalon
Cristoph de Babalon sempre esteve mais alinhado com o lado sombrio do jungle, sendo uma figura essencial no desenvolvimento estético e sonoro de qualquer tradição que envolva breakbeats e escuridão. Em 2024, o produtor retoma essa veia mais uma vez no que veio a ser uma de suas melhores obras, infestada de breaks nojentos, baixos rolantes e samples amedrontadores. Cada faixa é como um pequeno conto de terror, com momentos de suspense alternados com aniquilações sangrentas e sequências de perseguição emocionantes.
4.
hazard statements
JoeB
Em hazard statements, JoeB transforma desavisados em desacreditados ao não poupar nenhuma de suas técnicas irreplicáveis na desconstrução e destruição dos baixos e ritmos do tearout. Porém, o produtor não se limita, somente, à intensidade sem fronteiras, tomando grande influência do glitch na remodelagem de suas batidas e marcação de tempo. Além disso, faz questão de empurrar mais ainda os seus limites através dos breakdowns, que podem apresentar saxofones, industrialismos de darksynth ou melodias de euro-house dos anos 2000. Essa compilação de ideias confusas torna o EP uma das manifestações mais inescrupulosas e revolucionárias da música eletrônica deste ano.
3.
Dream Noire
Current Value
Dream Noire — e em especial a inacreditável “The Field” — entende o ritmo como uma oposição entre um pequeno passado e um breve futuro, constantemente arrastando e rasgando curtíssimos momentos entre as batidas velozes do drum and bass. As centenas de mini viagens no tempo que ocorrem dentro das faixas permitem a exploração de repetições hipnóticas jamais alcançadas dentro do neurofunk ou do technoid. Com esse EP, Current Value segue o legado de Platinum Scatter: o drum and bass mais vanguardista da atualidade.
2.
MYORFR001
Tim Reaper & Coco Bryce
Em MYORFR001, Tim Reaper e Coco Bryce unem-se no seu afeito jungle para uma empolgante partida de ping pong. São 22 minutos de batidas e rebatidas de restituições eletrônicas do dub, sem brechas para falhas nos movimentos ágeis e cirúrgicos dos nossos atletas do set de dj. Os breaks saltitam, quicam, giram e curvam no ar enquanto os pés dos produtores tateiam o chão em pulsos lisos e densos de frequências baixas. Um jungle bem feito não deixa ninguém parado.
1.
pulling away******that have **** or **** just couldn't do it *love u*
Nova Varnrable
É difícil realmente inovar em algo. Com tantas coisas que já foram feitas, fazer algo soar como algo jamais feito antes, com características pertencentes unicamente a este algo é praticamente impossível. O engraçado, porém, é que Nova Varnrable consegue fazer isso sem indicar o mínimo de esforço; simplesmente ao repetir o que já feito com mínimas mudanças ela faz as músicas soarem totalmente alienígenas.
O minimal e dub techno explorados neste EP são, simultaneamente, apenas novas interpretações de Basic Channel e experimentações que não tem comparação com nada tangível. O Aphex Twin esquartejado de “Storm”, o hard drum minimalista de “Abrupt”, o black metal espiritual de “Split” e o ambient dub sufocado de “Split (Sister Marion Dub)” têm particularidades sonoras e sensações estranhas só obtidas de derivações da mente de Varnrable. pulling away******that have **** or **** just couldn't do it *love u* é o EP de eletrônica do ano por usar do básico para expandir tudo aquilo que não se espera de um projeto de techno.