Crítica | Coming Home


★★☆☆☆
2/5

IC3PEAK é uma dupla curiosa, bastante conhecida por suas músicas influenciadas pelo horrorcore e witch house — gêneros com instrumentais carregados e pesados, além de ritmos lentos e quebrados (ou extremamente mecânicos), que carregam consigo uma atmosfera densa e assustadora. Muito comum se ler nas críticas de seus álbuns antigos que um pouco dessa esquisitice e performance assustadora às vezes era enfadonha, muito se falava sobre os vocais gritados, que eram vergonhosos, e algumas decisões de instrumental eram previsíveis, quase estereótipos do gênero. Eu mesmo concordo bastante com isso. Coming Home, entretanto, vai para um lugar diferente.

Talvez o que permaneça seja a “atmosfera densa”. De fato, há ainda uma coisa bem carregada na produção, nesse caso não são instrumentais pesados, ou baixos estourados. Pelo contrário é a presença de um espaçamento bem interessante e agradável entre os instrumentos e um uso muito bom de reverb, que torna a experiência quase meditativa. É um álbum bem nostálgico para quem gosta do ethereal wave dos anos 80, e um bem sólido, que realmente é consistente do começo ao fim.

O que é ruim sobre isso é que, apesar de ser possivelmente o melhor trabalho da dupla, em todos esses termos mais normativos elencados anteriormente, passa meio longe de ser o mais interessante. Quando o álbum apela bastante para a nostalgia, há a necessidade de balancear, o melhor nesses casos, é a aposta em elementos de produção que soassem distintos, que pudessem fazer o álbum de alguma forma interessante formalmente. Apesar de se distanciar dos elementos mais normativos do rock, ele ainda mantém uma estrutura semelhante ao que são influências claras para este novo álbum. Ou seja, Coming Home no melhor dos casos soa como uma imitação do Cocteau Twins.

Não necessariamente isso indica que é um álbum ruim; é médio, não tem nada sofrível nele. Apenas não há nada interessante também. Há de se lembrar, que apesar de tudo, quando o ethereal wave começou, aquilo que hoje parece convencional era sempre uma tentativa de exploração de técnicas contemporâneas àquelas bandas, e que funcionam sob a experimentação, sob a vontade de fazer algo diferente. Portanto, ainda que seja um álbum bonito, consistente e agradável, falta posicionamento, para sair de um território de nostalgia simples e entrar num anacronismo frontal, necessário.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Rock / Darkwave, Ethereal wave
Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

Postagem Anterior Próxima Postagem