Crítica | cupid


★★★☆☆
3/5

A cena de drill de Nova Iorque foi reprogramada ao padrão de fábrica com a chegada de Cash Cobain. É um fenômeno; basta andar pelas ruas da cidade à noite — aquela amassada de caju na boca: perigo — que em algum momento ouvirá “problem” ou “fisherrr”. Não que eu, baiana, já tenha experienciado isso, mas, para qualquer pessoa que se importe com o rap nova iorquino, é um fato: depois dele, tudo mudou. Até com as crianças ele é um sucesso.

Nesse contexto, a figura de wolfacejoeyy se desenrola de maneira… curiosa. Suas músicas são mínimas em níveis chocantes, coleções de mini loops de sintetizadores cristalinos e baterias esparsas, cinicamente simples. Não tem nada a sentir que já não esteja inundando seus ouvidos, não há como interpretar algo além do óbvio. É muito honesto, diferente do outro novo expoente do sexy drill, Jordan Adetunji, que pega o estilo de Cobain e torna seu ineditismo — fragilidade sexual masculina no rap — algo banal com suas letras tradicionais.

Com essa simplicidade, porém, wolface cava a própria cova. cupid é a maior prova disso, que nem com um produtor diferente a cada faixa consegue soar diferenciado o suficiente. É muito seguro, incomparável com as arriscadas faixas de PLAY CASH COBAIN ou os últimos singles de Chow Lee, estrambóticos, desorientadores. É possível, porém, que nada disso importe quando se tem em mente o objetivo de wolface em mente: ser tocado nos carros de Nova Iorque.

O (intenso) flerte do rapper com estéticas pop torna claro que, para além de integrar o sexy drill — aqui já diluído em um estilo próprio —, ele deseja, acima de tudo, atingir um patamar de comercialidade. “Uma música pop básica, como isso pode ser bom?”. De fato, seria ruim. Isso, claro, se não se inserisse em um dos estilos mais estranhos do trap da atualidade. Esse caráter dual entre o novo e o convencional dinamiza como o ouvinte entende esse tipo de música, um meio-termo confortável desse tipo de interação, tão dividida quanto uma. Simples, mas única.

É verdade, o drill-pop de wolfacejoeyy — leve, agressivo, solto e rígido — vai demorar para ser decodificado por outros artistas; não tem quem consiga mediar tão bem Cash Cobain com Lil Uzi Vert. Dito isso, não há malabarismo conceitual ou dualidade artística que consiga mascarar os pequenos problemas de cupid: depois de um tempo, ele fica um tiquinho chato, e um tiquinho previsível. Que no próximo álbum ele desenvolva esse drill-pop para lugares mais fervorosos, intrigantes; não queremos só o pop, ou só o drill, mas essa perfeita terceira coisa secreta.

Selo: Alamo
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Pop Rap, Sexy Drill, R&B Contemporâneo

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

Postagem Anterior Próxima Postagem