Crítica | EUSEXUA


★★★★★
5/5

Eusexua is a pratice
Eusexua is a state of being
Eusexua is the pinnacle of human experience


É fácil tentar tirar alguma ideia dessas frases que, de alguma forma, servem como boas reflexões do que o termo criado por FKA twigs, “Eusexua”, pode significar. Mas, mesmo que tentemos entendê-la em sua completude de sentidos, não há como. Na faixa que carrega essa mesma palavra, e que dá nome ao álbum, twigs contrasta com o que esses sentimentos descritos por ela podem inicialmente sugerir: “And if they ask you, say you feel it / But don't call it love, eusexua”.

Por outro lado, entender EUSEXUA – o álbum – é algo bem mais direto. Inspirado pela cena underground techno rave de Praga, o projeto orbita um prisma de música eletrônica que, em alguns momentos, soa tão superficial quanto a ideia de artistas pop explorando territórios marginais. De Charli xcx a Jamie xx, essa incursão na cena eletrônica underground já é quase um rito de passagem para estrelas que buscam algo além das estruturas convencionais de gênero e narrativa. A questão é, no entanto, como trabalhar com essa inspiração vertiginosa, tão discordante e ao mesmo tempo tão feroz e objetiva. twigs faz isso ao lado de Koreless, cuja produção marca uma clara ruptura em relação a seus álbuns anteriores.

Além de seu elemento principal — sua voz —, twigs entende que as batidas precisavam ser dosadas com mais euforia e inquietação. Se em LP1 ela pendeu suas inspirações eletrônicas para um terreno mais futurista, caminhando ao lado de bases sólidas como o R&B, e em MAGDALENE tudo parecia muito difuso em relação ao gênero do som, em EUSEXUA cada elemento soa calculado com precisão. Isso explica porque “Childlike Things”, com participação de North West – a música mais antiga do LP, escrita na adolescência de twigs e trabalhada assim que ela se envolveu com os primeiros produtores musicais – não soa deslocada. Percebe-se que ela e Koreless tentam não deixar suas ideias saírem do controle, mesmo que causem impressões mistas pelo nível de esquisitice.

E isso basta, pois, pela primeira vez, podemos olhar para um projeto de FKA twigs sem necessariamente recorrer à sua sonoridade como o elemento principal dos temas que ela aborda. Todos sabemos que explorar a cena eletrônica – seja em Praga, Detroit ou Berlim, lugares frequentemente tidos como principais referências dessa proposta – inevitavelmente nos leva à noite, ao escuro e a tudo que emerge desses espaços. O melhor exemplo temático disso aqui é “Perfect Stranger”, cujo hedonismo latente que marca todo o álbum foca na ideia de buscar prazer com um estranho.

Mesmo adentrando esse espaço, Charli xcx e Jamie xx, além de outros artistas, frequentemente reduzem suas investidas ao universo club a menções fugazes de relacionamentos (o que não é necessariamente um erro). twigs, no entanto, se aprofunda no comportamento humano que pulsa nesse ambiente. Essa profundidade conecta EUSEXUA a álbuns como RENAISSANCE, de Beyoncé, celebrando as raízes da cultura noturna enquanto reposiciona seus gêneros sob um novo ponto de vista. Talvez por isso seja um acerto dela e de Koreless calcular a forma como o som dialoga com o que planejam transmitir.

Stranger
In a dark room
Dancing
Almost lost you


Ela canta em “Room Of Fools”, peça central do álbum, tanto por conter uma reflexão interpessoal, quanto por explorar a excelência vocal e sonora, misturando tudo em uma combustão que evita a profundidade dos álbuns anteriores. É nesse instante que EUSEXUA brilha diante das próprias descrições que FKA twigs fez questão de criar. Como um produto destinado a transitar por espaços já bastante povoados, ela precisava deixar sua marca, potencializar e dar sentido a ele, mesmo após grandes estrelas também adentrarem esses territórios. twigs não só faz isso, como estabelece novos parâmetros de como pensar as cenas underground da música eletrônica sob um ponto de vista mais fiel aos seus reais significados – mesmo que, para isso, seja necessário criar símbolos próprios e não tão literais.

Selo: Atlantic / Young
Formato: LP
Gênero: Pop / EDM, Art Pop

Matheus José

Graduando em Letras, 23 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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