Crítica | Lack of Creativity


★★★☆☆
3/5

Não há muitas informações disponíveis sobre a identidade de Uobh. A pessoa responsável pela produção do EP Lack of Creativity, lançado na última sexta-feira (3), responde também por Mattew Williams e pelo pseudônimo John Doe. Este último é utilizado nos meios jurídicos estadunidense e britânico para se referir a uma pessoa cujo nome é desconhecido ou sigiloso.

O mistério em torno de Uobh é ligeiramente saciado com posts esporádicos em seu Instagram, como uma aparente visita à República Dominicana em novembro do ano passado. Ainda que no anonimato, sua identidade artística em construção parece falar mais por si mesma neste lançamento.

Afastando-se do característico rap de Soundcloud de produções anteriores, as quatro faixas de Lack of Creativity apontam para uma ironia em seu título. A produção minimalista incorpora diferentes gêneros a uma simbiose eletrônica contida e autocentrada, que confere um tom autêntico até então inédito na discografia de Uobh.

A unidade sonora construída a partir do house explicita de forma discreta o pertencimento do funk ao escopo da música eletrônica. O projeto também se utiliza em grande parte da estética lo-fi através da combinação de vocais adocicados e vocalizações próprias do gênero brasileiro.

A presença do funk surpreende desde a primeira faixa, “Intro”, em que graves imprevisíveis e um baixo melodioso casam em grande cerimônia o lo-fi com o batidão familiar. Já “Second Song” apresenta um jersey club seco que aos poucos incorpora distorções e molas de cama a uma libertinagem sonora envolvente.

“Third Song” traz o garage house em evidência com pratos tão deliciosamente distorcidos que parecem um ruído branco, mas que não impedem a monotonia da faixa. “Outro” encerra o EP com essa mesma sonoridade, desta vez mais polida e tradicional, mas que é interrompida pelo uso amador de filtros que parecem ter sido retirados de uma aula para DJs iniciantes.

Lack of Creativity parece um ponto de virada incompleto para Uobh. A expansão de seu repertório para horizontes mais inventivos rendeu ótimos resultados, ainda que uma lapidação se faça necessária. Em meio à profanação do phonk e outras tentativas de emular a sagacidade do funk brasileiro, é um alívio se deparar com gringos que sabem incorporar o gênero ao seu estilo próprio.

Selo: Snarf
Formato: EP
Gênero: Eletrônica / Garage House, Funk

Tobia Ferreira

Emo de banho tomado e quase jornalista cultural. Graduando em Jornalismo pela USP e repórter do Aquele Tuim, em que faz parte das curadorias de Funk e R&B e Soul.

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