Crítica | Mapambazuko



★★★★☆
4/5

A fusão entre música africana e música latina possui um histórico de peças transversais que provocam seus limites. No ano passado, Machete Mágico deu aula de como integrar esses dois mundos tão ricos na contemporaneidade — embora com uma abordagem sutil, é perceptível como a manipulação de ritmos e gêneros tradicionais ganham corpo e novos tipos de tração nas experimentações eletrônicas e nas nossas realidades cada vez mais transmutáveis.

Mapambazuko, o lançamento mais recente da Nyege Nyege Tapes, une a peruana Alejandra Cárdenas, também conhecida como Ale Hop, e o congolês Titi Bakorta. Manejando o trabalho como um estudo de campo, a união dos dois artistas dá continuidade às experimentações que ambos haviam desenvolvido previamente, propondo ainda mais desconstrução e destituição.

É meio difícil detectar onde as guitarras de Bakorta começam e a psicodelia de Hop termina. Elas estão entremeadas, enlaçando a cumbia e o soukous entre distorções alucinógenas, cantos de pássaros distorcidos e uma energia frenética que não cessa. “Una Cumbia en Kinshasa” nos localiza tematicamente e recebe o ouvinte de braços abertos, enquanto “Bonne Année” é tão febril que parece estarmos sempre no meio da muvuca — independentemente de onde você a esteja ouvindo.

Além das seis peças originais, o álbum se encerra com remixes de KMRU, Flora Yin-Wong e um reinterpretação de Ale Hop. Elas direcionam para o que Mapambazuko poderia ter sido, o que evidencia que o cerne da sua magia está justamente na colaboração, tão acertada e tão vívida.

Selo: Nyege Nyege Tapes
Formato: LP
Gênero: Música do Continente Africano / Soukous, Cumbia peruana, Tradi-moderne congolais
Felipe

Graduando em Sistemas e Mídias Digitais, com enfoque em Audiovisual, e Estagiário de Imagem na Pinacoteca do Ceará. É editor adjunto do Aquele Tuim, integrando a curadoria de Música do Continente Africano.

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