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Uma das melhores coisas que pode acontecer quando você escuta um álbum novo de um artista consolidado é quando é perceptível a tentativa de inovar. Tirando o elefante da sala: não é isso que o novo lançamento do BaianaSystem faz; pelo contrário, é exatamente aquilo que você espera do grupo. A diferença primordial é o quanto a fórmula deu, inevitavelmente, uma cansada e a principal aposta se torna apenas as colaborações, que até são interessantes, mas nunca deveriam ser motivo para fazer acreditar que por si só isso sustenta um disco.
De alguma forma a radicalidade que existia antes na insistência de usar a guitarra baiana, de fazer um rock regional, cantar com muito sotaque, virar uma das bandas queridinhas do carnaval dos nordestinos alternativos… deu uma morrida aqui. Na verdade é engraçado falar de radicalidade, pois uma das principais coisas aclamadas sobre o BaianaSystem sempre foi suas letras. Então fica curioso como muita coisa que eles fizeram antigamente era fruto do que hoje carinhosamente chama-se de “fora temer-ismo”, portanto como isso hoje virou quase uma piada, que reverte alguns momentos hilários no disco. Longe de mim, contudo, dizer que essa é a pior parte, bem pelo contrário, eu acho até divertido e quase me faz imaginar que a gente poderia ter a atitude de encarar esses motes bobinhos politicamente para pelo menos ter algo pelo que lutar.
O chato mesmo é realmente lidar com os instrumentais desse novo álbum, que parecem repetições dos anteriores, e querendo ou não, apelam para a nostalgia. O grande problema de fazer isso é que notavelmente esse novo lançamento não é nem de longe tão interessante quanto os primeiros discos do grupo. O mais legal para muita gente vai ser justamente que esse novo não tem tanto a ver com os 3 desastres anteriores, mas até aí, ainda bem, e é isso que faz esse ser um álbum interessante — além da maravilhosa faixa “Magnata”, que é uma música fantástica de dub com o artista Buguinha Dub.
Por vezes dá mesmo vontade de descobrir o que será que esse disco poderia ter sido caso não seguisse tanto as próprias tendências, e de alguma forma essa tendência da MPB pós-anos 1990 de acreditar que, como toda música brasileira (e “latina”) é válida então somos obrigados a encaixar tudo isso num mesmo trabalho, mas a verdade é que o pop rap do Emicida destoa das outras músicas, a Pitty (que não é nem de longe uma artista versátil) não se encaixa nem um pouco em “Cobra Criada / Bicho Solto” e os 40 segundos que a Anitta canta em “Balacobaco”, ela passa vergonha (além de ser uma música bizarra: é rock, pagode baiano e trap e no fim nada combina com nada).
No fim, fica perceptível que as colaborações com as pessoas menos conhecidas são as melhores e as mais populares foram escolhidas a dedo — não a benefício estético, lírico ou musical — mas apenas para seguir essa linha de raciocínio de mostrar que estamos todos “unidos”. De alguma forma é bonito, mas não dá certo. É desnecessário fazer essa amálgama de coisas para dizer que quem, em pleno 2025, apenas acha que a Anitta, Emicida, Seu Jorge… não possuem a mesma validade de Gilberto Gil e BaianaSystem são retrógrados e é desnecessário provar qualquer coisa para esse tipo de gente. Mais vale ficar com um projeto só com desconhecidos e mostrar que não é só dos grandes nomes que se faz a música brasileira, e através dessas novas influências procurar uma nova sonoridade, uma nova forma de criação, mas isso é só um sonho.
Selo: Máquina de Louco
Formato: LP
Gênero: Música Brasileira / Afoxé, Dancehall