Crítica | SABRINA LOVE


★★★☆☆
3/5

loopcinema é uma completa esquisita na cena brasileira de hip hop. Muito mais alinhada com Jane Remover e Tyler The Creator que a sua cópia do Raffa Moreira favorita (a minha é o Big Rush), a “rapper” chama a atenção de todos por sua falta de vergonha em, bem, ser bem vergonhosa — fique feliz que eu não usei a “outra palavra”. De verdade, quem teria coragem de postar isso como uma artista em ascensão? Nesse próprio exemplo, porém, é possível perceber que, apesar de adotar uma estética impossível de se levar a sério, existe um nível de detalhe altíssimo em suas músicas.

Depois de um tempo testando as águas do quão absurdamente boba ela poderia ser dentro dos confins do hip hop, loop se sentiu presa. Ao se acorrentar a esse estilo específico, a um tipo muito alinhado de estranheza — “adolescente LGBT sem supervisão dos pais na internet vira fã de hyperpop e rap”, ou algo parecido —, ela não estava fazendo o que verdadeiramente queria fazer. Para ser realmente ela, alguns moldes precisavam ser quebrados. Com essa visão, a multiartista decidiu criar o pseudônimo de Sabrina Love e um EP de mesmo nome para explorar os universos arco-íris do bedroom pop e do zolo.

Embora o amor por artistas como Jack Stauber e Lemon Demon já esteja presente em todo o seu trabalho, foi só neste EP que sua paixão por esse tipo de excentricidade aflorou por completo. As quatro músicas têm um carisma incontestável, mudando a cada segundo para acomodar a quantidade nauseante de ideias que inunda a cabeça oca, protegida por verniz de chiclete, de loopcinema; melhor, de Sabrina Love. Acordes de new wave, vocais e instrumentação estranhamente reminiscentes do shibuya-kei dos anos 2000, sessões de prog pop, psicodelismos do sampledelia… é impossível determinar todos os estilos bastardizados e recontextualizados por loopcinema em apenas 11 minutos.

Definitivamente, Sabrina Love não é para todos. É difícil passar pelas paredes da pós-neo-cyber-ironia e o caráter vergonhoso que isso acompanha, mas, para aqueles que não tem medo de assumir a própria idiotice — para aqueles iguais a loopcinema —, esse EP será um completo deleite. É justamente por adotar essa anti-seriedade que se concretizam as paisagens sonoras hipnotizantemente dinâmicas e a ausência de caminhos óbvios a se trilhar. Já canto a bola: o lançamento brasileiro mais bobinho de 2025 será, também, um de seus mais interessantes.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Pop / Bedroom Pop, Hypnagogic Pop, Zolo

Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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