16 gêneros de música eletrônica para ficar de olho em 2025


Conforme o tempo passa, novas tradições na música surgem. É um trabalho de sísifo assimilar gêneros a suas redes de conexão de maneira concreta e coerente, mas é possível detectar em quais panelinhas e espaços existe algo acontecendo. Experimentações maiores, uma ressurgência em popularidade, interseções com outros gêneros, reações a estes… tudo isso pode causar uma faísca e criar um gênero novo, ou ao menos um conglomerado de lançamentos e álbuns interessantes. Visando descobrir de onde novos sons podem surgir ou se desenvolver em 2025, montei essa lista de 16 gêneros de música eletrônica e, em um breve futuro, uma de gêneros de hip hop será lançada. Aproveite!



Hardgroove Techno

Começando a seção de eletrônica, temos a renascença de um tipo de techno dos anos 2000, o hardgroove, também conhecido como tribal techno. Parido por um affair entre o Detroit techno e o tech house, é caracterizado por sequências de muitas percussões (naturais e eletrônicas) em arranjos levemente pesados e sombrios. O aumento no interesse nesse estilo é menos um reforço de identidade — um retorno às origens, um saudosismo — e mais um subproduto da integração de DJs e produtores de lugares fora dos Estados Unidos e Reino Unido à música eletrônica.

Deixe-me explicar: no passado, o hardgroove era feito com pouca inclusão de pessoas conectadas com as culturas dos samples de percussão utilizados; todos enclausurados na racistíssima categoria de “world music”. Hoje em dia, fazer hardgroove ganhou um novo modelo e sentido com a maior presença de DJs que sabem de onde vêm e porquê escolhem-se samples de Gana, do México e até do Brasil para fazer esse tipo de música. Claro, isso não significa que os produtores do gênero são, necessariamente, pessoas de países não anglo-centrados, e sim que se influenciaram por elas.

Esse grande interesse no hardgroove também pode ser visto como uma reação predominantemente americana do hard drum/UK funky, gêneros britânicos semelhantes, mas que, ao invés de se basearem em Detroit techno, se baseiam no UK garage. Com tanta influência, demanda e lançamentos saindo do gênero, abrir o olho para ele, seus arredores e possíveis subprodutos é uma de minhas grandes apostas para esse ano. O projeto mais prolífico do hardgroove atual é Fireground, um duo de produtoras que lançou vários EPs nos últimos anos dedicados ao som, mas artistas como Tygapaw, Funk Assault e Dual Monitor também vêm se destacando.

Indicação: Love Letter - Fireground


Nada como um EP das Fireground para representar o hardgroove, embora a terceira faixa não tenha nada a ver com o gênero (é apenas um french house delicioso). “Riva” e “Etereo” são sensacionais. Se isso não for o suficiente, recomendo Get Free, de Tygapaw.



Hard Techno

Continuando as renascenças de technos, temos o hard techno, que, curiosamente, está mais popular que nunca. São inúmeras as playlists e os DJ sets destinados ao gênero, além de ter um público grande; é o tech house da década. A fórmula é bem simples: techno quase exclusivamente focado no kick e no baixo, feito para bater forte e ser tocado em raves. Dessa vez, creio que esse súbito aumento no interesse vem de um momento pós-pandêmico de necessidade por intensidade, assim como a influência do hardstyle em toda a música eletrônica.

Não há muito o que comentar sobre o novo hard techno, é um dos gêneros mais em alta no momento; e um que só tem graça nos clubes. Contudo, justamente por estar tão em alta, as interseções com outros gêneros dão aquele fundo de esperança na inovação. O crossover mais comum é o com o techno industrial, mas existem produtores experimentando com o psytrance, o hard trance e até com electroclash. A influência do “hard eurobeat” (um estilo sem nome), do hardstyle e até mesmo do novo tech trance — que por pouco não entra na lista — podem trazer o gênero a um desenvolvimento totalmente diferente, quem sabe até mais intenso.

De forma resumida, alguns dos artistas de hard techno que eu stalkearia de bobeira em busca de novidades seriam: Brutalismus 3000 — sem dúvidas, o duo mais relevante do gênero —, Sandra Landry, I Hate Models (eu também), Klangkünstler e Clouds. De resto, existem playlists e sets o suficiente para saciar sua fome por música de rave, tocada em casa.

Indicação: Kindcrime - Elen Payne


A segunda aparição de Elen Payne — DJ, colombiana cyberpunk e fã de death metal — na HÖR é uma joia rara do hard techno, que faz de tudo para não interromper um transe industrial enquanto usa de mixagens mais agressivas e tempos mais acelerados ainda. É a experiência completa do gênero em uma hora de rave de bolso.



Freeform Hardcore/Hard Trance

Mais uma renascença de gêneros (o saudosismo é uma arma), a dessa vez é o do freeform hardcore, que veio exatamente de junto da do hard trance. Tendo um pico de relevância em 2021, ambos vêm se diluindo de forma cada vez mais intransponível na música hardcore (inclusive no hard techno), o que tem apimentado a cena com acordes staccato e tempos altíssimos em basicamente tudo. Explicando a sutil diferença entre ambos, o freeform é basicamente a versão propriamente hardcore do hard trance, com kicks mais altos e ritmos mais velozes.

A gravadora mais importante para a popularização desse resgate foi a Dismiss Yourself, que lança discos de vários gêneros eletrônicos e de hip hop baseados em ciberespaços, tanto esteticamente quanto geograficamente. A desse estilo em especial é baseada no y2k, mas mais aliado à estética PSX — aqueles jogos atuais bem poligonais, com nostalgia dos gráficos de PS1 — que com aquele tipo de y2k (ambos sensacionais).

Boto minha mão no fogo pelo potencial dos desenvolvimentos desses gêneros, em especial pela sua enorme relação com um dos gêneros mais interessantes da eletrônica atual, o hexD — que, em linhas gerais, é a bitcrushização de tudo —, e o mini-revival do tech trance promovido pelo selo trip. Algumas trocas entre esses gêneros até promoveram o nascimento de um estilo chamado “sextrance”, embora ele não seja bem definido o suficiente para ter sua sonoridade descrita. Se quiser adentrar no gênero, artistas indispensáveis são Anthony1, purity://filter, Sienna Sleep e Exodia.

Indicação: bootleg (+) - Isyti


Contudo, não existe melhor indicação para entender o gênero e sua volta à vida que bootleg (+), um álbum de 22 minutos que não deixa ninguém parado. Sabe quando DJs ficam balançando a cabeça sem parar que nem pombos? É isso que Isyti faz com teu corpo.



Krushclub

Ao mencionar o hexD no item passado, seria ilógico ignorar a maior obsessão do TikTok por alguns meses — fazendo nugus atingirem altas posições da billboard —, o krushclub. É música de cérebro carcomido, corroído por ácido sulfúrico, surgida a partir do momento pós-dariacore do Jersey club, da explosão do “Brazilian phonk” e da estética do sigilkore. Além, claro, do amor dos adolescentes por edits de Fortnite e memes que eu, 18 anos, já não consigo acompanhar.

Pode parecer um convite ingrato dizer que vale a pena acompanhar esse tipo de música de TikTok, mas o futuro do krushclub é brilhante. Kieran Press-Reynolds destaca isso maravilhosamente em seu artigo no The Face: “Assim como o trap, o plugg e outras fórmulas instrumentais, o krushclub está explodindo à medida que os artistas misturam o zumbido do bitcrush com todos os ritmos possíveis. Há o krush-jerk e o krush-cumbia, o krush-funk e o krush-phonk. O futuro será krushed”. As possibilidades são infinitas.

Indicação: “SMOKE IT OFF!” - Lumi Athena


O maior hino do krushclub é da segunda embaixadora do gênero, Lumi Athena. Não é a melhor música do mundo — por mais que o TikTok de 2022 discorde de mim —, mas destaca bem as características do gênero: bitcrush, rap ocasional e Jersey club. Caso queira algo mais eletrônico, o último single dela, “EXORCISTA ANTHEM”, é uma ótima opção.



Terceira Onda do Electroclash

Após os revivals e os gêneros de hexD, destaco três movimentações relacionadas ao electroclash da atualidade. Como a redatora por trás do classificação AT do gênero, a sua influência nos dias de hoje me surpreende um pouco, mas é totalmente justificada. Com o y2k, a volta do electroclash era previsível, só que agora há uma influência maior de gêneros que a primeira onda influenciou — além de todas as suas dezenas de evoluções —, como o electro house, o electropop e, sendo bem bruta, todos aqueles gêneros que apareceram no BRAT.

Fazer uma nota mental para prestar mais atenção nesse ramo específico do electroclash será mais recompensador pela sua ecleticidade do que por um verdadeiro potencial de criar tradições novas; olhe mais como uma recomendação de música extremamente divertida e dinâmica que algo com um futuro promissor. Projetos com essa noção ampliada de electroclash — destinados a diversão — vêm em várias formas, seja o hyperpop de Frost Children em SPEED RUN, o pop esquisito de damon r., o dubstep de Bassvictim ou o hardstyle de MGNA Crrrta em Island Paradise.

Indicação: “encore (feat. Danny L Harle)” - Shygirl


Embora não tenha nenhuma conexão relevante com os artistas que normalmente fazem electroclash, Shygirl, no remix de seu EP
Club Shy, apresentou um single que exemplifica perfeitamente o estilo. As bases mecânicas do electroclash são intensificadas pela influência de estilos mais industriais da eletrônica, e os ritmos do electro house são uma constante maravilhosa pela faixa. Caso queira um álbum, recomendo SPEED RUN.



Electropunk Revival

Por mais impressionante que pareça, isso está acontecendo. Nos anos 2000, o synth punk descobriu o electroclash e deram luz ao electropunk, irmão do new rave (que, por sua vez, vem do dance-punk revival), e agora esse estilo está sofrendo uma nova interpretação. São projetos levemente saudosistas, mas com uma certa personalidade própria, advinda da terceira onda e sua amplitude invejável. É, também, o novo expoente do electroclash que mais se relaciona com o lado queer, feminista e hiper-sexual do gênero, que, a depender de quem se pergunta, é a sua melhor parte.

Não é algo que está muito em alta, mas alguns artistas como The Dare, Lynks, cumgirl8 e Girl Pusher têm ganhado alguma tração entre fãs de música eletrônica e círculos de críticos. Com isso — e com o leve crescimento de atos de new rave —, não duvido que haja uma maior explosão do gênero neste ano. Vale notar que tanto a terceira onda quanto o electropunk revival têm sido chamados de “indie sleaze revival” por algumas pessoas, sendo que indie sleaze (um termo criado recentemente) é usado quase como um sinônimo do bloghouse.

Indicação: ABOMINATION - Lynks


Afrontoso e libertador em suas letras, Lynks canta como se a beira de um colapso em seu
disco de estreia. É uma união da eletrônica com o pop e o punk, algo que já foi feito muitas vezes, mas que o cantor sabe trabalhar sem deixar a desejar em nenhum aspecto.



Witch House Revival

Quando se tenta resgatar o passado, às vezes alguns elementos — o que era de que época, em qual lugar e em que sentido — se confundem. É isso que tem acontecido com um suposto resgate do witch house, aquele estilo do começo da década passada protagonizado por SALEM; curiosamente, é basicamente impossível fazer witch house sem electroclash na atualidade. Claro, existem os rappers do cloud que conseguem traduzir o som original, mas no que tange a eletrônica, é quase engraçado o que tem acontecido nessa década.

O tipo de sintetizador do WH, aqueles que parecem estar sempre gritando, e o clima assombrado, altamente atmosférico do gênero, têm sido muito usados por artistas de electroclash da década, com destaque para o mais famoso deles, o duo Snow Strippers. Mas mais que isso, até a estética do gênero, misteriosa, é atualmente intrínseca a uma boa quantidade de lançamentos de electroclash, alguns que, mais estranhamente ainda, foram muito bem nos charts; o ponto comercial mais alto de ambos os gêneros. Músicas como “ecstasy” e “Sleepwalker” estavam rodando no TikTok a torto e a direito.

Com desenvolvimentos cada vez mais esquisitos do cloud rap, prevejo que essa nova versão do witch house tem grande potencial de interseções absurdas com o hip hop, como demonstrado pela aparição de Lil Uzi Vert em “It’s A Dream”, de Snow Strippers — uma homenagem fiel até demais a Crystal Castles — e por artistas como 2hollis. E isso é apenas o começo, daqui a pouco teremos witch house acima de beats como esse.


Indicação: Euphoriphilia - Suzy Sheer


Um EP curto que entrega a vibe desse witch house revival como nenhum outro, Euphoriphilia é tão animador quanto atmosférico, deixando melodias chiclete na sua cabeça enquanto você está tentando entender como chegou aqui.



Future Riddim

O único motivo por trás da inclusão do future riddim nessa lista é o debut de Syzy, The weight of the world, lançado ano passado. É uma mini-aposta minha, mas, considerando o quão diferente e popular o álbum foi, creio que o gênero mude para sempre. O maior fator para isso é a influência do bubblegum bass e do drumless trance no projeto, que aplicam texturas eletrônicas mais angulares, feias, por cima dos açucarados sintetizadores de future bass do gênero. É um álbum inteiramente único, e tenho certeza que influenciará não só o riddim como outros gêneros de dubstep, como o tearout.

Indicação: The weight of the world - Syzy


Obviamente. Caso queira entender como o gênero é normalmente, ouça Perceiver Pt. 1 Consciousness Program, de Oolacile.



Pós-Hyperpop

Pós-hyperpop não é um gênero, e sim um momento da música, ou a evolução da cena original do hyperpop. Infelizmente, música que parece 100 gecs morreu desde… o último álbum dos 100 gecs, e é bem seguro dizer que, atualmente, é um gênero defasado. Os artistas perceberam isso, mas não conseguiram largar parte da filosofia, estética e modo de produção do gênero, apenas aplicando-o a inúmeros outros contextos. Esse momento se caracteriza por uma versão mais sensível, artificialmente acomodante, e pode se manifestar através de um pós-rock influenciado por shoegaze, um emo-pop/pop rock — uma óbvia referência do hyperpop original — ou até mesmo um indie rock misturado com IDM.

O motivo por trás dessa mudança é uma reação ao próprio hyperpop; é um tipo de música fácil de se julgar, extremamente caricato, exagerado. É cansativo não ser levado a sério em nenhum sentido — e os artistas de hyperpop definitivamente queriam ser levados a sério —, ser taxado de piada. Tanto para ganhar credibilidade e atingir uma certa realização pessoal, o caminho escolhido foi apostar em músicas delicadas, de sensações geradas a partir da escrita e de leves flutuações na atmosfera.

Vários artistas seguiram essa trajetória, e creio que, conforme o tempo passa, a tendência é que esse momento pós-hyperpop defina novas formas de fazer música na internet. Guitarras digitais, MIDI sendo usado como uma forma plástica de expressar emoções abstratas, música pop como libertação de uma angústia interior, letras sobre a devastação atual do mundo, equipamentos caseiros e etc. são a nova norma de como fazer música na internet, para a internet; lembra um pouco o bedroom pop. Um nome que a Paste Magazine deu para esse fenômeno foi “hyper-rock”, justamente por ser o estilo predileto desses artistas, mas também já vi ser nomeado como “cyberrock”.

Indicação: SMILE! :D - Porter Robinson


Mesmo que Porter Robinson não tenha tido muito contato com o hyperpop durante sua carreira,
SMILE! :D exprime o pós-hyperpop com uma exatidão impressionante. O pop rock, o IDM, o pós-rock, os vocais; é o melhor exemplo possível.



Botânica

Existe pouca informação online sobre botânica, mas, como definido pela própria comunidade, é um gênero/movimento underground de música eletrônica — normalmente bass music ou folktronica — que utilizam da síntese granular e do glitch para manipular samples e estéticas que remetem à natureza, ao floral e ao bucólico. Algumas das influências mais citadas pelos artistas do gênero são Nurture, de Porter Robinson, Green, de Hiroshi Yoshimura e o trabalho de Joe Hisaishi.

Surgido em 2022 — argumentavelmente, por conta do pós-hyperpop e da queda do bubblegum bass —, a cada ano que passa, mais parece que o botânica explodirá de vez; ainda não aconteceu, porém, talvez 2025 seja o ano em que isso finalmente aconteça, quem sabe? Por enquanto, você encontrará o gênero no soundcloud, especificamente em sua muito utilizada tag, com faixas que variam de pequenos testes experimentais de 20 segundos a músicas completas e popificadas. É difícil encontrar artistas de botânica propriamente ditos, mas alguns nomes familiares são Thorjn e Dowfi.

Indicação: Nascent - Alexander Panos


Um álbum que exemplifica todas as características do gênero parece um milagre, mas Nascent é exatamente isso. A evocação da natureza, o glitch, as paletas desconstruídas da bass music e até folktronica; é tudo, não há indicação melhor.



Epic Collage

Um gênero que não sai da boca do aquele tuim e que mostra ter um potencial cada vez mais ilimitado é o epic collage, a versão sutil e glitchizada do d-club que mais parece música ambiente. Não é um gênero novo nem um revival, muito pelo contrário, o gênero se manteve vivo e forte desde sua popularização por volta de 2014. Contudo, existe uma grande diferença entre a versão de dez anos atrás do gênero e a dessa década: quem está fazendo-o.

Embora Elysia Crampton — artista latine que celebra a cultura indígena aymara em sua música — represente o gênero desde sua criação, foi só recentemente que artistas de fora dos países imperialistas adotaram o gênero como principal forma de expressar suas identidades. No aquele tuim, já cobrimos identidades africanas, vietnamitas e venezuelanas dentro do epic collage, e existem e vão existir dezenas de outras a serem analisadas de divulgadas pela equipe; quem sabe as raízes chinesas de bod [包家巷], ou as iranianas de Saint Abdullah, ou melhor: as de dezenas de artistas do gênero que ainda não lançaram seus primeiros projetos.

Indicação: DJ E - Chuquimamani-Condori


A indicação para esse gênero não poderia ser outra senão a nossa escolha para o melhor álbum de música eletrônica de 2023,
DJ E, de Chuquimamani-Condori (pseudônimo de Elysia Crampton). Os samples de música aymara do álbum, aqui restituidos e amontoados, montam uma atmosfera caótica quase dançante, enquanto ainda muito calmo; não faz muito sentido, mas é assim que o epic collage é.



Minatory

Minatory é um estilo de dubstep extremamente agressivo e experimental que teve um pico em 2017 com artistas como Influx e Venom, mas que, recentemente, tem reagido com novas formas de pensar o gênero, muito mais ambiente, sutil e baseado em design de som que antes. Embora, similarmente ao botânica, ele se expresse mais por meio de singles e uma comunidade nichada em sites como o soundcloud, alguns artistas como Corpsethorn e Concavenator lançaram alguns EPs que criaram um burburinho no mundo do dubstep. Em 2025, creio que um maior interesse pelo gênero surja tanto pelo desenvolvimento maior do epic collage quanto pelo dubstep atual estar dominado por gêneros intensos e que beiram o experimental, como o tearout.

Indicação: taxonomy - dust


taxonomy foi como o grande clímax do minatory em 2024; após meses e meses de ótimos singles do gênero, um álbum completo, que encompassa todas as suas características recentes foi uma benção. Composto por breakdowns de música ambiente longos — às vezes quase drone — e drops alienígenas, é o álbum que melhor representa o minatory na década atual.



Dub Techno/Ambient Dub

Desde a ascensão do TikTok como O Todo Poderoso Que Tudo Comanda e a brusca queda na retenção de nossas atenções em qualquer atividade cotidiana, a forma que as pessoas se relacionam com música — e como isso afeta os que a produzem — mudou muito. Na música eletrônica, vemos isso no aumento na intensidade nas músicas que públicos gerais ouvem; slap house já não satisfaz mais o hétero comum da academia, ele ouve rawstyle agora. Tech houses simplistas já não satisfazem mais sua adolescente problemática que foi pra rave escondida, se não estiver tocando hard techno, ela nem se dá o trabalho de ir. Só há um detalhe: toda ação tem uma reação, e se de um lado temos o volume se nivelando a um patamar mais alto, do outro parece que já não dá para ouvir mais nada.

Um fenômeno muito interessante tem acontecido entre portais de crítica musical, plataformas de streaming e comunidades de música eletrônica: uma atenção relativamente grande está sendo dada ao dub techno e ao ambient dub. Parece que as pessoas estão querendo um escapismo da hiper-estimulação generalizada por meio de um tipo de música extremamente mínimo, quase imóvel; é lindo. Um aumento no interesse repentino não significa que o gênero está sendo revivido, apenas que os artistas originais — Basic Channel, Orb — estão ganhando reconhecimento, o que tem inspirado o surgimento de novos artistas — Purelink, Fergus Jones, retorno do Loidis. O futuro de ambos gêneros nunca esteve tão brilhante e promissor.

Indicação: Damaged - Ghost Dubs


Damaged, o paraíso do dub, é uma experiência psicodélica suprema que transmite todas as sensações que seus derivados mais sutis conseguem explorar.



Gêneros Afroportugueses

Nos últimos anos, o selo Príncipe tem se destacado como um dos grandes palcos para a música afroportuguesa, popularizando gêneros como batida, tarraxinha e kizomba ao redor do globo, tanto que até Yung Sherman, produtor da Drain Gang, os reconheceu. Esses gêneros oscilam entre ritmos percussivos pungentes e instrumentações suaves, perspicazes em suas pequenas mudanças e maneiras de expressar o intangível.

Embora não haja nada evidentemente claro sobre o desenvolvimento destes gêneros, a crescente popularidade de artistas como Nídia, DJ Danifox e DJ Nigga Fox aponta para um momento em que essas tradições sejam diluídas em gêneros de house, em especial o ambient house, o tribal house e o amapiano. Em 2025, vários discos serão lançados no selo Príncipe, mas ponho minhas fichas que a música de seus artistas chegará em lugares jamais alcançados antes.

Indicação: Sai do Coração - Nuno Beats


Um álbum tocante, sobre vidas passadas, comunidades e espiritualidade, Sai do Coração é o melhor disco do selo Príncipe, e um dos melhores de eletrônica da década.



Budots

Budots é um gênero filipino de música eletrônica que existe desde o fim dos anos 2000, quando era associado com uma juventude inconsequente e “nem-nem”. Desde então, o pioneiro e principal rosto do gênero DJ Love ressignificou essa imagem, caracterizando-a como algo inerente à positividade e à celebração. Essa abordagem chamou a atenção de gravadoras como a NTS, o que, desde 2023, aumentou a procura pelo estilo, tanto dentro quanto fora das Filipinas — inclusive no TikTok.

Vários artistas filipinos têm recorrido ao budots como forma de afirmar a própria identidade, e, como DJ Love indicou, sua positividade. Uma grande parte disso vem da Manila Community Radio, que, embora não muito popular, dá plataforma a DJs e artistas filipinos para explorarem o que quiserem. Alguns dos artistas mais famosos que já trabalharam com o budots são a DJ em ascensão Teya Logos e o querido DJ Billybool, também conhecido como Thaiboy Digital, membro da Drain Gang. Com essa exposição, 2025 pode muito bem ser o ano do budots, um beijo aos nossos primos filipinos!

Indicação: “GOOD LUCK, BABE! (TEYA LOGOS THAI BUDOTS REMIX, BUDOTS LANG)” - Teya Logos


Uma característica marcante do budots é a bobice. Usar samples e vocais bobinhos em cima de beats — muito distintos de qualquer gênero de eletrônica — quase cinicamente idiotas é o que melhor define o gênero, e o remix de “Good Luck, Babe!” feito por Teya Logos é exatamente isso. A versão que recomendo, porém, é a
alternativa, que é puramente budots, mas há a versão principal, que tem blackgaze e hardstyle no meio, caso queira ouvir.



Changa Tuki

O último gênero de eletrônica da lista é também outro que existe há décadas, mas que só veio a sair de sua bolha recentemente. Falo de changa tuki — comumente chamado de raptor house, ou apenas changa —, gênero venezuelano de música eletrônica que mistura o tech house com o tribal house e percussões variadas inspiradas por várias culturas da música latina. Similarmente ao hardgroove e hard drum, sua renascença se relaciona com a inclusão e influência de DJs venezuelanos — em especial, DJ Babatr, pioneiro do estilo — no cenário global da música eletrônica, influenciando muito os Estados Unidos e a América Latina em particular. Com isso, temos o surgimento de várias interpretações do changa tuki — El Plvybxy, Nick Léon, INVT —, cada uma de um lugar em particular, com seus tipos de percussão e ideias rítmicas singulares. Quem sabe vem aí um changa brasileiro?

Indicação: Delirio EP - Bitter Babe & Nick León


O EP de um dos produtores mais prolíficos da cena atual, Nick León, conta com interpretações diversas do que significa fazer changa. Cada faixa traz uma ideia rítmica e melódica diferente, ocasionalmente pegando de gêneros como o guaracha e o dembow, mas ainda mantendo as batidas house do changa. A última música, contudo, é de um gênero diferente, o bubbling, dos Países Baixos. É um gênero que, também, tem recebido maior destaque atualmente, mas ainda é muito pequeno para ser incluído na lista. Então, aproveite essa indicação para saber um pouco mais desses dois gêneros!


Sophi

Estudante, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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