Crítica | Autópsia


★★★☆☆
3/5

Excêntrico, Getúlio Abelha faz parte do seleto demográfico de artistas queer que dão uma nova vida a gêneros e estilos tradicionais na música brasileira. Seu som é carregado de regionalidade, sempre permeado por uma identidade fanfarrona que conversa principalmente com o internetês, partindo de colocações de linguagem — quase em um dialeto próprio — misturando figurações, gírias e construções semânticas que se desprendem dos conceitos vigentes a todo instante.

Seu novo EP, Autópsia,
 abandona a carga explosiva de regionalidade que marcou seu primeiro álbum de estúdio, Marmota. Ele se aventura mais para o lado externo da sua sonoridade, flertando com a música eletrônica que vem dessa onda recente movida principalmente por algoritmos que alimentam diariamente o leque de opções viáveis na música pop. No entanto, a maioria das músicas que surgem daí — geralmente postadas no drum n’ bass e jersey club — não conseguem captar a força que o gênero de inspiração pode ter quando misturado com algo que corresponda ao senso autoral de cada artista.

Felizmente, isso não acontece aqui. Getúlio, mais do que tudo, tem um senso de composição e referências muito interessantes que transcendem a facilidade da música pop. Um exemplo disso é “Armação”, cujo pós-refrão emerge de um jersey club desavisado, durando pouco tempo e indo e vindo quase que instantaneamente. É algo interessante, nada óbvio, que traz a surpresa que o EP precisava para justificar a criatividade de Getúlio.

Selo: Independente
Formato: EP
Gênero: Pop / Forró

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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