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The Weeknd é, certamente, um dos principais expoentes masculinos do que se entende como música pop na atualidade. Discografia consistente e eras com conceitos bem amarrados moldaram o enigmático alter-ego do canadense Abel Tesfaye, assim como as baladas de R&B e os hits oitentistas que se tornaram sua assinatura sobretudo a partir do álbum Beauty Behind The Madness (2015).
Ao longo de mais de uma década, quando parecia ter atingido o auge, The Weeknd se mostrava ainda maior do que antes e superava suas próprias métricas de sucesso. E, por isso, segundo o cantor, talvez este seja o momento perfeito para um grand finale, um encerramento de ciclo. "Quando é o momento certo para sair, se não no seu auge? Quando você entender demais quem eu sou, então é hora de mudar", declarou ele à Variety este ano sobre o fim de seu alter-ego.
Hurry Up Tomorrow, portanto, é o último álbum de Abel Tesfaye assinando como The Weeknd. É, também, o ato final da trilogia iniciada por ele em 2020, com o aclamado After Hours, sucedido pelo subestimado Dawn FM (2022). Logo, as expectativas para este novo projeto eram as maiores possíveis.
Mais do que satisfazer o público que o acompanha há anos, é nítido que, em Hurry Up Tomorrow, Abel fez, acima de tudo, um tributo à sua trajetória. Ao longo de 22 faixas, o disco passeia por todas as fases da carreira do canadense – da mixtape House of Balloons (2011) aos projetos mais atuais. É uma boa sacada se tratando de um projeto que pretende se despedir do alter-ego criado pelo artista. Ainda assim, a execução é maçante; boa parte das músicas não agrega nada à narrativa da obra.
Isso não exime o álbum de entregar, em certos momentos, aquilo que Abel faz de melhor. “Wake Me Up”, que interpola “Thriller”, clássico de Michael Jackson, usa e abusa do pop oitentista incorporado na maioria dos hits do artista para as pistas de dança. “Given Up On Me” capta a atmosfera sombria que atravessa os álbuns Kiss Land (2013) e Beauty Behind The Madness. E a parceria com Lana Del Rey em “The Abyss”, ainda que menos brilhante que as anteriores, reitera a boa sintonia entre os dois cantores.
São, contudo, muitas as vezes que Hurry Up Tomorrow se dispersa de si mesmo. Visto por muitos como um artista preso a uma zona de conforto, The Weeknd tenta sair desta nesse álbum. Infelizmente, são nesses momentos que o projeto mais sucumbe. A caricata incursão de funk brasileiro em “São Paulo”, colaboração com Anitta, é pouco inspirada e deslocada do restante do disco, por exemplo.
A longa duração da obra também não se justifica. Pelo contrário, soa exagerada. Abel não parece ter o suficiente a dizer para conceber um álbum com mais de 1 hora e 20 minutos de duração. Não são poucas as faixas que parecem estar ali sem nenhuma razão além da megalomania do cantor, que deu um passo maior que a perna ao ensaiar uma despedida memorável.
Hurry Up Tomorrow tem boas intenções. Essas, no entanto, não são maiores que as pretensões que cercam o disco. Na ânsia por um disco pop grandioso, Abel Tesfaye entrega um material repleto de excessos.
Selo: Republic
Formato: LP
Formato: LP
Gênero: Pop / R&B, Trap