Crítica | Off With Her Head


★★★☆☆
3/5

BANKS se destacou com seus primeiros álbuns ao explorar um pop e r&b alternativo repleto de texturas intrigantes, que traziam uma atmosfera densa e geralmente sombria. Seu vocal gracioso, com um tom estonteante, era amplificado pelos efeitos de reverb, conferindo à sua voz um aspecto hipnótico. As canções eram extremamente bem construídas e capturavam a essência do melhor do pop alternativo, estabelecendo BANKS como um dos nomes mais ilustres desse meio na época.

Nos últimos tempos, a artista tem buscado novos horizontes na execução de sua arte, se afastando de seu estilo caracterizado por camadas atmosféricas e com um tom noturno. No entanto, ela nunca conseguiu se encontrar fora dessa sonoridade. Goddess e The Altar, por exemplo, foram bem-sucedidos devido à profundidade musical de sua abordagem. No entanto, Serpentina falhou ao tentar trazer essa excelência, ao se aventurar em um som diferente que acabou soando desprovido de criatividade e sem apelo.

Off With Her Head, nesse sentido, é a tentativa de BANKS de resgatar a essência que a fez conquistar o público com seus três primeiros álbuns. No entanto, poucas faixas conseguem alcançar esse objetivo, sendo a maioria tentativas frustradas de emular os aspectos de Goddess, seu álbum de estreia, mas sem o brilho que ele possuía. As faixas até trazem algo da produção noturna e rica em camadas do projeto, mas falham em criar a mesma atmosfera bem executada desse. Além disso, seus vocais estão longe de transmitir o poder que tinham na década passada. Não é que ela tenha piorado vocalmente, mas parece estar sem inspiração para evocar as emoções que antes preenchiam sua voz em seus primeiros trabalhos.

“Best Friends”, por exemplo, até tenta capturar a essência de BANKS, mas tudo soa genérico, como uma tentativa bem feita de remeter aos seus anos de ouro, porém sem nada realmente interessante. O instrumental, especialmente, é sem sabor. Esse é o caso, na verdade, de quase tudo aqui. Embora poucas cheguem a ser realmente ruins, na tentativa de trazer uma nostalgia aos fãs do início da carreira da artista, muitas dessas músicas soam como fillers, não em Goddess, mas no III, que já representava um regresso na qualidade de sua obra, ainda que fosse um registro consistente e competente.

Os destaques ficam por conta de duas faixas apenas: “Make It Up” e “River”. Elas trazem exatamente o que BANKS tinha em Goddess e The Altar, os elementos que tornaram esses álbuns tão bons: melodias cativantes, incorporadas em uma paleta sonora sombria marcada por camadas intrigantes. “Make It Up” tem as baterias 808 envolventes, sintetizadores saborosos e texturas do r&b alternativo formidáveis. Já “River” traz influências do deep house, com grooves deliciosos e melodias vocais divertidas. Se fosse mais extensa, poderia facilmente ser uma das melhores faixas da carreira — é absurdamente curta, sem tempo de se desenvolver de forma satisfatória.

No geral, Off With Her Head mostra BANKS em uma tentativa frustrada de recuperar o sucesso dos seus primeiros trabalhos, com faixas que mais parecem descartes medíocres de seus antigos álbuns do que um real retorno à sua essência.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop, R&B Alternativo

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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