Crítica | “AURA 1”


Recentemente, DJ Arana postou uma série de stories em seu Instagram comentando sobre a dificuldade de continuar lançando novas músicas devido a questões envolvendo direitos autorais. Ele afirmou que está sendo cada vez mais desencorajado de tentar contatar outros artistas em busca de acapellas ou mesmo beats — elementos centrais da composição do funk, inclusive em versões mais instrumentais do gênero. Essa é uma questão delicada, pois há DJs e MCs que, ao mesmo tempo em que querem ver suas criações rodando pelo Brasil, também se posicionam contra quando, em um ato natural ao funk, um DJ usa seu som sem permissão ou algo do tipo.

Isso sem mencionar a cooptação de acapellas por empresas que usam o phonk para bloquear, impedir e derrubar DJs que encontram esses mesmos elementos essenciais prontos para serem usados por aí – uma armadilha. DJ Arana então esboçou sua própria solução para tudo isso: lançar músicas em plataformas com regras de direitos autorais mais brandas, como YouTube e SoundCloud. Acontece que, desde seu excelente EP Viva o Romano, o DJ se viu em um limbo criativo que mistura a questão de se manter pressionado a lançar hits, mas ser bloqueado pelo meio que costumava usar. É claro que isso afetou sua criatividade; suas músicas estão cada vez mais reduzidas ao seu choque de expressão, ou seja, soam menos inspiradas do que nunca.

Seu lançamento mais recente, “AURA 1”, é um exemplo claro dessa maré de azar do DJ. Por mais interessante que seja, com uma produção que na verdade remete às suas criações menos ousadas – já que ele mesmo tem entrado na pira de dizer que “funk não é só barulho” – e, portanto, são mais sem graça. Nitidamente falta o apelo, um tuim desregrado, um beat capaz de mudar a rotação do planeta Terra como os que ele usou em Carreira Solo. Para piorar, na busca por reconquistar seu espaço, o DJ acaba recorrendo a elementos cada vez mais banais e sem vida, como a versão “slowed” de “AURA 1”. É patético e mostra que, ao contrário de outros DJs também preocupados com discussões criativas no funk, Arana é quem mais parece sem rumo.

Selo: Independente
Formato: Single
Gênero: Funk
Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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