Crítica | Dead Channel Sky


★★★☆☆
3/5

O som do trio de hip hop clipping. sempre foi cheio de incertezas; uma névoa que pode ser facilmente dispersada se você soprar sobre ela. Eles se baseiam no que à primeira vista parecem ser escaladas industriais com uma paleta eletrônica que corre por baixo da superfície — maneirismos usados apenas para dar volume ao que os temas, centrados em uma forma de horrorcore, sempre tendem a expor.

Dead Channel Sky se baseia nessa e em outras premissas que o trio sempre fez questão de referenciar. O problema é que o que eles fazem nem sempre produz um resultado totalizante na composição dessas ideias. É como uma linha que divide as intenções e a prática, o som, o rap de Daveed Diggs e seu malabarismo constante para soar o mais próximo possível do que Jonathan Snipes e William Hutson tentam estabelecer como o cerne do projeto. É impossível dizer exatamente qual é a ordem dessa relação, mas é aproximadamente essa.

E assim, há momentos em que a falta de harmonia acaba atrapalhando o resultado por eles almejado com certa pretensão. É o caso de “Go”, cujos versos de Diggs atropelam os bipes e ruídos que cercam a composição da faixa. É estranho, parece que Jonathan Snipes e William Hutson não tinham muito o que fazer, e por isso prepararam uma série de tentativas de ao menos criar uma transição com a faixa seguinte, “Simple Degradation (Plucks 1 - 13)” e seu papel como precursora de “Code” e “Dodger”, destaques do projeto.

Mas é exatamente esse o ponto. O trio perde muito tempo tentando nos imergir em suas criações. Eles recorrem de forma constante a um didatismo, uma literalidade que não sabe se abraça o caos pretendido, ou o prescreve para aqueles que querem — de alguma forma — se perder em seus ruídos e batidas que nunca se aprofundam tanto quanto deveriam. O fato de o trio impor alguns requisitos em torno do projeto, como a suposta regra de evitar o uso de termos como n****s, nos faz questionar até que ponto há ponderações do quão longe eles querem chegar. Porque nunca chegam.

Selo: Sub Pop
Formato: LP
Gênero: Hip Hop

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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