Crítica | Love Me As I Am


★★★★☆
4/5

Apesar da pouca idade ─ com apenas 23 anos ─, o artista de hip hop Nino Paid já faz música há bastante tempo. No entanto, seu reconhecimento só veio com o lançamento de seu single de estreia, “Pain & Possibilities”, que o levou a assinar com a Sony Music Entertainment. Sua trajetória pode lembrar a de muitos rappers de sua geração e contexto, mas sua personalidade e escolhas temáticas são únicas, encaixando-se perfeitamente em estilos que enfatizam suas mensagens autorreferenciais.

Ele é uma estrela do seu próprio tempo: suas letras capturam o melhor e o pior da vida contemporânea – com menções frequentes ao suicídio –, enquanto refletem sobre questões raciais (“The young n****s only want death in the streets / My homie had died, but it could've been me”) e românticas (“If nobody tell you they love you, I'll tell you I love you”). Seu som equilibra um tom dolorosamente alternativo com um apelo que se encaixa perfeitamente na cultura de massa. Em Love Me As I Am, ele reúne todos esses atributos como se buscasse criar algo propriamente clássico – embora profundamente pessoal.

Até a arte da capa, em que aparece vestido com elegância ao piano, reflete sua ambição. “I gotta try my hardest to be me in this shit and make it somewhere (huh, you ready?)”, ele canta na abertura “Something To Live For”, em um dos momentos mais despidos de suas características enraizadas na melodia do pluggnb. Em contraste, “Weekend in Paris”, com Xanman, aposta em uma sonoridade extremamente melódica sem cair em maneirismos. Aqui, Nino tece um retrato preciso de um romance fugaz, capturando tanto a paixão quanto a efemeridade dos afetos: “I flew to your city we had a good time, but I guess you ain't down for commitment”, lamenta, concluindo com “I'm guessing' it's hard to be loved / I guess it ain't easily you were in”.

É uma das músicas mais derradeiramente viciantes do ano. Apesar da melancolia do restante do álbum, nela, seus versos são carregados de paixão, sua voz soa como uma consciência inquieta sussurrando dúvidas e desejos sobre nossos ombros. O uso de instrumentos refinados, como os teclados chorosos que permeiam a obra toda, reforça sua vocação para expressar sentimentos – e ele o faz sem temer soar brega, entendendo também que não há forma mais eficaz de fazer isso do que abraçar parte do apelo do R&B, disponível para uso em seus vocais ora silabáticos, ora gélidos, como em “Cooln”, que lembra sutilmente o trabalho de 1010benja.

A associação é a chave para entender Nino Paid. Mesmo quando ecoa influências estilísticas, ele está sempre operando dentro do seu próprio universo. Nós apenas o visitamos – e talvez seja por isso que ele soa ríspido ao bater a porta na nossa cara em “Redemption”, ou ao nos aprisionar no melhor conjunto de ritmo/instrumentais/melodias do ano em “Boy Meets World”. No fim, ele pode fazer qualquer coisa que iremos prestar atenção e anotar, dá pra sentir que seu futuro será brilhante.

Selo: Signal Records, Columbia
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / PluggnB

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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