★★★☆☆
3/5
Voice Actor é mais conhecido pelo seu épico de quatro horas e meia, intitulado Sent from my Telephone. Confesso que nunca ouvi o álbum (ouvirei a partir de hoje), mas do que li para escrever essa crítica, a partir de seus gêneros e do disco Fake Sleep (que ouvi), ele parece ser uma joia rara da música experimental. Colagens de música punk oitentista, dissonâncias nostálgicas características do que Fischer descreveu como hauntology, trechos de poesia despedaçados… etc. Projetos tão extravagantes e dentro de seus próprios mundos como Sent from my Telephone normalmente vêm de artistas que nunca mais lançam nada (ao menos sob dito pseudônimo) ou que lançam quinze projetos mensalmente. Noa Kurzweil não é nenhum desses: continuou sua carreira normalmente após esse disco de estreia imperialmente gigante.
Dúvida: como seguir uma discografia após algo tão… extra? Uma resposta de fato não existe, mas a via que o britânico encontrou foi dar sequência aos seus experimentos em dosagens normais. Disso, surge Lust (1), que retoma algumas interseções da música eletrônica propostas na década passada — o R&B com o dubstep, o ambient dub com o punk, entre outras bagunças britânicas — para envolver seu trabalho, já indefinível. Suas peças são excêntricas, veladas por sussurros e gemidos de prazeres falsos, subprodutos de uma mente exaurida e iludida. Elas emulam sonhos, aqueles em que o pão está duro e que sempre chove quando se está fora de casa, aqueles em que, mesmo assim, as pessoas sempre aparentam estar bem.
As colagens quase imperceptíveis de Actor e Squu (produtor misterioso de Gales) constroem máquinas que processam emoções — geradas a partir de quaisquer atividades cotidianas — em felicidade, prazer, sexo e luxúria (como o nome do álbum sugere). O problema é que essas máquinas são defeituosas, e não é possível acreditar nos supostos afetos que os artistas “tentam” impor sobre nós. São orgasmos de brinquedo, feitos por crianças chinesas, com metade do olho derretido. Os vocais, distorcidos em cortes e cliques que muito lembram a musique concrète, mal passam pela gosma fina que aprisiona as emoções, nos restando apenas rabiscos de sua verdadeira natureza.
Esses arrastamentos lodosos, característicos da concepção de Kurzweil sobre o sonhar, fazem com que as músicas soem como versões hedonistas da própria música, como uma masturbação sonora infinita. São mares de ultrassom, que piscam raios de luz no horizonte, tampados por edifícios granulados; tudo cinza, estática. A música ambiente aparece quase como acidente; um subproduto indesejado. Após derreter tantos tipos padrão de música, tantas influências, o que resta é essa pasta grossa, áspera de sexo anêmico. As comparações com Hype Williams são justificadas, mas Lust (1) não tem a crueza do grupo. Não é pristino, claro — é, relativamente, lo-fi —, mas não é feio, empelotado que nem Hype Williams; é falsamente belo. Essa beleza errante, repentinamente falha, como um código de barras, é o que torna a música de Actor, em todo o seu esplendor, de fato, bela.
Selo: Stroom
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Ambient Dub, Hypnagogic Pop
3/5
Voice Actor é mais conhecido pelo seu épico de quatro horas e meia, intitulado Sent from my Telephone. Confesso que nunca ouvi o álbum (ouvirei a partir de hoje), mas do que li para escrever essa crítica, a partir de seus gêneros e do disco Fake Sleep (que ouvi), ele parece ser uma joia rara da música experimental. Colagens de música punk oitentista, dissonâncias nostálgicas características do que Fischer descreveu como hauntology, trechos de poesia despedaçados… etc. Projetos tão extravagantes e dentro de seus próprios mundos como Sent from my Telephone normalmente vêm de artistas que nunca mais lançam nada (ao menos sob dito pseudônimo) ou que lançam quinze projetos mensalmente. Noa Kurzweil não é nenhum desses: continuou sua carreira normalmente após esse disco de estreia imperialmente gigante.
Dúvida: como seguir uma discografia após algo tão… extra? Uma resposta de fato não existe, mas a via que o britânico encontrou foi dar sequência aos seus experimentos em dosagens normais. Disso, surge Lust (1), que retoma algumas interseções da música eletrônica propostas na década passada — o R&B com o dubstep, o ambient dub com o punk, entre outras bagunças britânicas — para envolver seu trabalho, já indefinível. Suas peças são excêntricas, veladas por sussurros e gemidos de prazeres falsos, subprodutos de uma mente exaurida e iludida. Elas emulam sonhos, aqueles em que o pão está duro e que sempre chove quando se está fora de casa, aqueles em que, mesmo assim, as pessoas sempre aparentam estar bem.
As colagens quase imperceptíveis de Actor e Squu (produtor misterioso de Gales) constroem máquinas que processam emoções — geradas a partir de quaisquer atividades cotidianas — em felicidade, prazer, sexo e luxúria (como o nome do álbum sugere). O problema é que essas máquinas são defeituosas, e não é possível acreditar nos supostos afetos que os artistas “tentam” impor sobre nós. São orgasmos de brinquedo, feitos por crianças chinesas, com metade do olho derretido. Os vocais, distorcidos em cortes e cliques que muito lembram a musique concrète, mal passam pela gosma fina que aprisiona as emoções, nos restando apenas rabiscos de sua verdadeira natureza.
Esses arrastamentos lodosos, característicos da concepção de Kurzweil sobre o sonhar, fazem com que as músicas soem como versões hedonistas da própria música, como uma masturbação sonora infinita. São mares de ultrassom, que piscam raios de luz no horizonte, tampados por edifícios granulados; tudo cinza, estática. A música ambiente aparece quase como acidente; um subproduto indesejado. Após derreter tantos tipos padrão de música, tantas influências, o que resta é essa pasta grossa, áspera de sexo anêmico. As comparações com Hype Williams são justificadas, mas Lust (1) não tem a crueza do grupo. Não é pristino, claro — é, relativamente, lo-fi —, mas não é feio, empelotado que nem Hype Williams; é falsamente belo. Essa beleza errante, repentinamente falha, como um código de barras, é o que torna a música de Actor, em todo o seu esplendor, de fato, bela.
Selo: Stroom
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Ambient Dub, Hypnagogic Pop