Crítica | Ruby


★★★★☆
4/5

Nos outros discos solo das integrantes do BLACKPINK, diversos problemas ficavam evidentes. O álbum de Rosé e o de Jisoo careciam de personalidade: o primeiro soava como uma repetição da fórmula genérica de pop melancólico com uma sensibilidade alternativa já saturada, enquanto o segundo entregava uma coleção de dance-pops cativantes, porém extremamente genéricos e sem identidade. Já o de LISA apresentava bons momentos, mas, no geral, resumia-se a um pop rap genérico e, além disso, bastante inconsistente.

Fica fácil, nesse sentido, de Jennie se destacar, com uma obra que oferece uma qualidade coerente do início ao fim e que consegue com êxito construir uma identidade artística interessante, com seu R&B-pop com um tom simpático e acessível. No entanto, Ruby vai além de ser apenas um registro sólido, mas se destaca bastante na sua abordagem ao executar o melhor que esse estilo de R&B contemporâneo aconchegante pode oferecer.

Ruby não faz nada de inovador para o gênero, porém enquanto muitos artistas do meio em que ela emergiu — o k-pop —, apresentam músicas com os aspectos mais superficiais do R&B, a integrante do BLACKPINK tem grooves sedutores e um vocal que se adapta muito bem às necessidades do soul.

“Love Hangover”, por exemplo, tem grooves funky suaves, acompanhados de uma instrumentação com aspecto levemente psicodélico, construindo uma atmosfera hipnotizante. Isso junto aos agudos deleitáveis da cantora, que brilham por si só. Já “Damn Right” é uma representação excelente de como a mistura do trap com R&B pode funcionar tão bem.

Há também momentos, entretanto, em que Jennie se direciona ao hip hop, se conectando com sua personalidade artística dentro de BLACKPINK. “with the IE (Way Up)” usa sample de “Jenny from the Block”, porém, tem um resultado muito melhor que a faixa de Jennifer Lopez. É uma canção com o ritmo boom bap envolvente e ganchos pegajosos, além do tom imponente na voz da rapper. “Extral”, dueto com Doechii, carrega uma das performances mais animadoras de Jennie no projeto, com sua entrega cheia de energia, além da produção divertida com o trap tomado por graves 808s poderosos.

Em alguns momentos, *Ruby* soa obsoleto e previsível, com canções que permanecem no básico para um álbum de R&B/Pop. No entanto, mesmo nessas faixas menos impactantes, o disco se mantém aconchegante, graças ao seu tom leve e meigo. Isso se destaca especialmente na primeira metade, onde faixas de R&B contemporâneo exploram grooves soul e funk mais simples, mas ainda interessantes.

É na segunda metade que o álbum atinge seu maior potencial. No geral, a estreia solo de Jennie a consolida como o nome mais promissor do BLACKPINK, revelando uma nova faceta artística: uma artista de R&B habilidosa e confiante. Ao mesmo tempo, o disco explora o rap, elemento central de sua trajetória no grupo, expandindo seu hip hop para novos horizontes. Trata-se, de longe, do esforço artístico mais bem-realizado entre as integrantes.

Selo: Columbia, Sony Music Entertainment, ODD ATELIER
Formato: LP
Gênero: Pop / R&B

Davi Bittencourt

Davi Bittencourt, nascido na capital do Rio de Janeiro em 2006, estudante de direito, contribuo como redator para os sites Aquele Tuim e SoundX. No Aquele Tuim, faço parte das curadorias de Música do Leste e Sudeste Asiático, Pop e R&B.

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