Crítica | Sinister Grift


★★★☆☆
3/5

Não é surpresa para ninguém que já escutou algo do Animal Collective, ou do Panda Bear solo, a incrível capacidade do artista em compor músicas estranhas com uma sensibilidade pop absolutamente impressionante. Digo “impressionante”, porque geralmente são duas coisas que não andam juntas, pelo menos não de maneira convencional, algo que é difícil de separar no conjunto de sua obra.

A obsessão de Panda Bear com certas tendências dos anos 50 e 60 é notável em toda a sua obra solo, o que é particularmente interessante é como ele a constroi através de recursos completamente diferentes. Em Sinister Grift, seu novo álbum, isso é feito por meio da influência da estética do indie surf aliada a técnicas de dub. Essas escolhas criam um álbum que é tanto atmosférico, quanto instrumentalmente surpreendente, sem precisar se abster da estrutura pop.

Já nas primeiras canções a criação de uma atmosfera ensolarada e serena vem à tona, isso não é dito de um jeito bobo, como se poderia dizer sobre qualquer música, mas sim porque a engenharia de som é perfeita e realmente “atmosférica”. Desde os primórdios da música psicodélica isso é essencial: uma boa construção de espaço, uma mixagem que esteja interessada em todos os canais de som, algo que te faça se sentir rodeado musicalmente, sem escapatória. A produção de Panda Bear, com seu colega de banda, Deakin, é essencial para o álbum, sem uma noção de espaço e engenharia tão incrível, o lançamento não teria metade da força.

Porém, como nem tudo são flores, o que fica cansativo, é a mesma coisa que faz Panda Bear ser um destaque do seu gênero, isto é: a convencionalidade estrutural de suas músicas. Apesar de ser um álbum consideravelmente curto, ele é, por vezes, cansativo. Ainda que isso não seja um problema tão grave, visto que há tanto o que amar e prestar atenção, que nas suas audições mais atentas talvez o mais legal seja ficar apreciando camada por camada do instrumental. Porém ainda é um peso que começa a bater, especialmente depois de algumas audições.

Por fim, é importante ressaltar o quão interessante e bonito é ver um veterano da neo psicodelia fazendo um álbum que se diferencie em toda sua obra, que abra possibilidades e explore outras formas de criação de música psicodélica. A presença de Cindy Lee na última música deixa também uma óbvia possibilidade de que a criação do artista passe pelo estudo de outras tendências do pop mais experimental do século XXI; algo não somente admirável, mas também um casamento perfeito. Por esses motivos, a obra de Panda Bear permanece e permanecerá relevante durante muito tempo.

Selo: Domino
Formato: LP
Gênero: Pop / Neo Psicodelia, Pop Psicodélico

Tiago Araujo

Graduando em História. Gosto de música, cinema, filosofia e tudo que está no meio. Sou editor da Aquele Tuim e faço parte das curadorias Experimental, Eletrônica, Funk e Jazz.

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