Uma lista com Beyoncé, Juçara Marçal, d.silvestre & MC DENADAI, Fiona Apple, Caxtrinho, Charli xcx, ROSALÍA, Dj Ramon Sucesso e mais!
Estamos na metade da década de 2020 e, por mais que nem sempre pareça, a música segue vibrante, curiosa e surpreendente (basta saber para onde olhar). Vivemos o auge da chamada era da multiplicidade, em que diferentes meios e formas de expressão artística coexistem e se espalham rapidamente – muitos deles acompanhados de perto pelo Aquele Tuim ao longo de quase dois anos de existência, em mais de mil e trezentos textos publicados e centenas de obras (mais de mil críticas) ponderadas por nós. A diversidade de gêneros e artistas que analisamos semanalmente, mensalmente e anualmente torna impossível uma lista simplista, apressada ou feita nos moldes de uma votação sem maiores conclusões. Por isso, o ranking que apresentamos hoje é fruto de um processo criterioso e cuidadoso, refletindo a riqueza de tudo aquilo que mais priorizamos como veículo, blog ou apenas um conjunto de pessoas apaixonadas por música. É, sobretudo, uma celebração do presente, ao qual surgimos e estamos inseridos. Confira, portanto, os 50 melhores discos lançados na década de 2020 até agora:
50. TE-KWARO ALANGO-EKUKA - Ekuka Morris Sirikiti
Para além das próprias convenções de memória, TE-KWARO ALANGO-EKUKA é um exercício de restituição. Concebido a partir de fragmentos, por muito tempo perdidos, de passagens do seu programa de rádio, Ekuka Morris Sirikiti, importante griô do povo Langi, brinca com a passagem do tempo e com a força da palavra. Um disco contemporâneo elementar — capaz de elucidar configurações culturais tão importantes do continente africano, mas, principalmente, de acessar o que é mais íntimo da experiência humana. - Felipe
49. RELA - Negro Leo
Nos últimos dez anos, Negro Leo se tornou um pilar para o ecossistema geral da música experimental brasileira. Com RELA, trabalho mais diferenciado da sua discografia, ele discorre sobre o fenômeno social do sexo com uma sagacidade afiada, banhada por ironia e muito tesão. Ao acoplar elementos mais palatáveis com os meandros do bumba meu boi, nosso corpo se movimenta naturalmente — e isso faz parte da absorção da mensagem, tão importante para a nossa realidade contemporânea. Ele vai te devorar! - Felipe
48. Javelin - Sufjan Stevens
Quando Sufjan escreve uma música, ele primeiro faz uma teia de temas, referências e ideias e então as posiciona como melhor fluir. Cada verso é acorrentado a algo passado, futuro ou imaterial, de forma a manter um sentido acima, ora escondido pelo tanto de experiência humana, ora pela quantidade de referências de quem decifra sua poesia. Em Javelin, Sufjan expande essa teia para os instrumentais, que se espiralam em três dimensões — sem contar o tempo — e circulam em arquétipos mutantes. Acolhedor, cético. - Sophi
47. Feldman Edition 14: Complete Music for Cello & Piano - Marilyn Nonken & Stephen Marotto
Um álbum para quem gosta das composições de Feldman, com certeza. Contudo, funciona bem como uma introdução à obra do artista. Mais simples que muitos outros da mesma série do compositor, ainda que isso de forma alguma signifique que é uma experiência simples. Para ouvir e ouvir de novo várias vezes. - Tiago Araujo
46. Carreira Solo - DJ Arana
É difícil tentar resumir tudo o que Carreira Solo do DJ Arana representa como um álbum que contém não só o tom de renovação que o DJ causou e continua causando na cena, mas também a força com que ele construiu tudo isso entre caixas de ruído seco, sirenes, batidas assombrosas, canto árabe, risadas fantasmagóricas, tons minimalistas e samples vocais que funcionam como um verdadeiro elo entre todas as melhores características que ele tem como compositor. Talvez esse termo soe estranho quando se trata de um artista de funk, mas as noções de composição estão tão bem estabelecidas aqui quanto em sei lá, qualquer álbum que Taylor Swift ouse lançar. É o melhor que ele fez até hoje. Intacto. - Matheus José
45. ultratronics - Ryoji Ikeda
Há muitos que digam que ultratronics é o trabalho mais acessível de Ryoji Ikeda e, a julgar pelas incursões eletrônicas que ele apresenta, isso talvez seja um fato. Mas, por outro lado, a obra do compositor nunca conversou tanto com o tempo em que vivemos, e isso está diretamente ligado à forma como a absorvemos. Numa era onde tudo se torna dado e onde os dados parecem controlar tudo, a experimentação fragmentada de Ikeda surge como uma consequência natural. - Marcelo Henrique
44. Roaches 2012-2019 ($up£r D£lux£) - Dean Blunt
Marca não apenas o fim de uma fase para o artista, mas também registra uma série de experimentações em como fazer música pop. Desde as referências no Brill Building, à colaborações com produtores como Arca, até músicas experimentais complexas. O primeiro álbum da década de 2020. - Tiago Araujo
43. INDULGENCE - Male Alchemy
Músicas não precisam de voz para emocionar; ouvintes de eletrônica sabem disso. Mas INDULGENCE vai além, evocando uma atmosfera que devora o ouvinte como um redemoinho sensorial. Downtempo, vaporwave e chillwave enriquecem o trabalho, com sons que se entrelaçam, se transformam e se repetem. O artista adota uma estética japonesa que não é apenas um acerto, mas adiciona complexidade à obra, permeando as músicas, dos títulos das faixas à capa. Resultado: trabalho primoroso, onde constroi cenários brilhantes. - Antonio Rivers
42. Heaux Tales - Jazmine Sullivan
Ao longo de seus 32 minutos, Heaux Tales reúne vivências, emoções e conselhos que representam a multitude do ser feminino frente a questões que permeiam o amor e o sexo. E não existe alguém que não queira ouvir sua história ser contada — ou melhor, cantada — pela voz de Jazmine Sullivan. É interessante porque, no meio da inclusão proposta pelo disco, a cantora não apenas ilumina essas experiências, mas também ajuda a difundi-las. Talvez você nem se identifique com o que está sendo dito, mas elas vão ficar na sua cabeça, e Jazmine merece os créditos por isso. - Marcelo Henrique
41. ESPANTA GRINGO - d.silvestre
ESPANTA GRINGO é um manifesto divertido e eletrizante da experimentação do DJ com o mandelão, trazendo os drops ruidosos e ferozes, característicos do mandela, mas explorando ao máximo o poder do gênero. É por isso que o registro se encaixa perfeitamente com o nome, ESPANTA GRINGO. Um funk em que parece não haver limites para o experimentalismo de d. silvestre; é uma experiência no mínimo chocante para o ouvinte não acostumado com o ritmo. Ele é agressivo, inconvencional e, portanto, intensamente divertido. - Davi Bittencourt
40. What's Tonight to Eternity - Cindy Lee
Para transformar o passado, incorporá-lo é quase inescapável. Fazê-lo de mente sã ou em negação é o que determina o nível ou tipo de transformação. What’s Tonight to Eternity vive suas origens como nenhum outro álbum já fez, e as revoluciona em um sorriso submisso; visualmente, uma flor de plástico. Um abraço levemente desconfortável, uma deitada dura na cama. “I Want You to Suffer” é a música pop mais cínica da década; tão segura de si em sua vida, tão agridoce em sua morte. - Sophi
39. Queridão - DJ Anderson do Paraíso
Uma das obras definidoras do funk de BH nessa década, que te prende tanto através dos vazios instrumentais, quanto da criação lírica – simples, erótica, profana – o baile mais assustador que você já viu. - Tiago Araujo
38. funk.BR - São Paulo (NTS) - Vários intérpretes
O funk paulista é um dos caldeirões musicais mais inventivos da atualidade – e se você acompanha o Aquele Tuim já sabe disso. Nesta compilação da rádio inglesa NTS, a diversidade do gênero ganha forma em uma espécie de tour sonora por São Paulo, onde diferentes sonoplastias atravessam limites regionais e se unem em uma linguagem única, mas profundamente subjetiva e própria. O resultado deste tour é como conhecer a cidade a partir de uma montanha-russa musical que só o funk consegue construir. - NaPauta
37. Electroacoustic Works - Iannis Xenakis
Compilação definitiva de um dos maiores e mais importantes compositores de todos os tempos. Necessário para entender muito do que foi a música eletrônica, a música experimental, e até mesmo a música clássica moderna. Em resumo, o disco de estudo mais importante do século. - Tiago Araujo
36. What’s Your Pleasure? - Jessie Ware
What's Your Pleasure, de Jessie Ware, fortemente inspirado nas discotecas dos anos 70 e 80, evoca muito bem a essência dos clubes do período em um disco que acima de uma mera retrospectiva, é um trabalho extremamente lustroso na construção desse ambiente nostálgico. Jessie Ware tem um cuidado tanto na instrumentação sofisticada como no seu vocal poderoso, que fez com que ninguém desde o seu lançamento tenha alcançado o mesmo êxito ao representar a música dance do período. - Davi Bittencourt
35. Something in the Room She Moves - Julia Holter
Something In The Room She Moves é um grande exemplo do alcance da música experimental dentro do pop. Aspectos do jazz e da música clássica mais excêntricos possíveis são encaixados em um contexto musical que, embora fortemente fora da curva, é também surpreendentemente acessível. A visão inventiva de Julia Holter dentro desse álbum faz dele um dos discos mais surpreendentes dessa década, ainda mais dentro do pop. - Davi Bittencourt
34. Nebulosa Baby - Giovani Cidreira
Seja pela sua redefinição arrojada do afrofuturismo, ou simplesmente por suas composições e elaborações estéticas fora da curva, Nebulosa Baby é uma peça fundamental da música brasileira desta década. Autossuficiente em mimetizar suas proposições nada simplistas, Giovani Cidreira propõe um mergulho às suas raízes nas dimensões do passado e do futuro, que se traduzem em significados que são reveladores por si só. - Felipe
33. Malandro 5 Estrelas - Índio da Cuíca
Malandro 5 Estrelas é quase um álbum-manifesto de Índio da Cuíca. Aqui, o mestre do instrumento criado e desenvolvido exclusivamente no Brasil dobra suas composições em diferentes partes, sempre revelando sua maestria em cada uma das faces que representam a ancestralidade musical do som que ele exala como verdadeiros sacramentos. É, sem dúvida, uma das obras mais importantes da música brasileira em seu contexto atual. - Matheus José
32. 40°.40 - SD9
Lançado no auge do grime e drill brasileiro, o álbum de SD9 se destaca como uma das obras mais bem construídas do período, misturando com tranquilidade drill e grime com elementos da música brasileira, em especial o funk carioca e o samba. SD9 deu aulas de escrita e flow ao longo do projeto e na sua versão Deluxe que encontramos uma das músicas mais bem escritas do rap nacional nos últimos anos, “Hediondo”, com uma narrativa cinematográfica. - NaPauta
31. Schall / Rechant - Horacio Vaggione
Schall / Rechant trabalha a eletroacústica não como uma forma de distorcer objetos ou ilustrar diferenças e sim com a pureza da técnica. Como se seu próprio corpo estivesse passando por uma atualização de software, ele baixa uma tech demo que testa e expande todas as capacidades de seus ouvidos. É confuso, impressionante, revelador e uma experiência totalmente única na música experimental. - Sophi
30. Esculpido a Machado - Leall
“A história que você vai ouvir agora, é uma história que acontece com pelo menos dois a cada vez jovens do meu bairro, que na barriga da miséria nasceram brasileiros”. Essa frase dá início ao disco Esculpido a Machado, de LEALL. Aqui, o conflito entre a liberdade e a banalidade do contexto urbano representa tanto a aspiração quanto o destino trágico. A frustração e a sensação de fatalidade percorrem o álbum, onde a morte, a prisão e a miséria são vistos como destinos inevitáveis. Ao mesmo tempo, o artista percorre a crítica sobre a falta de amparo do Estado, em cima de uma produção crua e abrasiva para retratar o caos urbano. Sirenes, gritos, lamentações e sons de ruas permeiam a obra, oferecendo uma visão brutal da realidade exposta, ao mesmo tempo que cria imagens poéticas e expressões, por meio de jogos de palavras, metáforas e alusões. - Brinatti
29. BRIME! - Febem, CESRV & Fleezus
BRIME! é a reconstrução brasileira do Grime, marcada pela organicidade e fluidez. Aqui, tudo parece intuitivo, como se os tempos se desenrolassem naturalmente, sem imposições rígidas. Febem, CESRV & Fleezus no álbum, capturam cenários de ostentação, amizade e diversão nos bailes, enquanto fazem referências ao cotidiano e à cultura urbana. É um retrato epifânico da luta diária, com os pés no chão, mas com grandes sonhos. - Brinatti
28. tds bem Global - dadá Joãozinho
tds bem Global, estreia de dadá Joãozinho, se desafia ao fundir jazz, reggae e narrativas urbanas em uma tapeçaria sonora imprevisível. O álbum equilibra caos metropolitano e introspecção lírica, explorando capitalismo, saudade e existência urbana com versos descritivos. Entre colagens experimentais e grooves acessíveis, sintetiza décadas de influências em faixas curtas, onde guitarras cortantes, texturas jazzísticas e colaborações vocais tecem uma jornada coesa. - Antonio Rivers
27. Aphorisms - Graham Lambkin
Muitos podem não estar familiarizados com o trabalho de Graham Lambkin, mas basta saber que o lendário artista abraça diferentes noções de arte, sempre ocupando a dianteira do que cada vanguarda tem a oferecer, para apreciar seu trabalho mais recente, Aphorisms. Aqui, ele estende suas percepções estéticas baseadas em colagens sonoras, dedilhados rápidos, palavra falada e outras possibilidades de música experimental feitas de maneiras quase inexplicáveis tamanha a expressividade de suas criações. - Matheus José
26. Hypnos - Ravyn Lenae
Em seu disco de estreia, HYPNOS, Ravyn Lenae faz um estudo minucioso de todas as técnicas e variações que moldaram a trajetória do R&B desde os anos 1990. Ainda assim, ela conseguiu fazer algo próprio; as canções, conduzidas pelo soprano inigualável da cantora, se desdobram em arranjos vocais precisos e batidas que adotam uma estética lo-fi para transitar por diferentes planos, enquanto Ravyn canta sobre encontrar seu lugar no universo. É de outro mundo. - Marcelo Henrique
25. D.Silvestre - d.silvestre
Tem coisas que falam por si só. Quando um clipe de todas as vezes que os DJs usaram a vinheta “Vamo acordá, filho da puta!” na Submundo mais recente – que por sinal foram quase umas dez – viraliza por aí, você sabe que tem algo no seu trabalho que deu certo. d.silvestre não gosta muito que usem trechos de seus trabalhos sem autorização, acho que ser referência demais cansa mesmo, e ele deve estar pensando em começar a lançar uns trabalhos medianos pra ninguém mais ficar atormentando. Nós aqui torcemos justamente pelo contrário, e dá pra ver que o Douglas tem muito chão pela frente, muito para nossa alegria (e do pessoal da Submundo) - Pedro Piazza
24. Backstage Raver - Joanne Robertson & Dean Blunt
“Como usar guitarras?”. Esta é a pergunta primordial que move o rock há décadas, mas uma de suas melhores respostas só veio à tona em Backstage Raver. São multitudes harmônicas — algumas das mais complexas do ano — forçosamente controladas para assumir uma fantasia de simplicidade e intimidade. Existe, por conta dessa transformação, um grosso véu entre ambos mundos, um que é intangível e intraduzível: um mistério impossível de se solucionar. Sua mente só se saciará, contudo, quando solucioná-lo; preparado para a centésima jornada pelo álbum? - Sophi
23. Desire, I Want to Turn Into You - Caroline Polacheck
É um álbum pop diverso e extremamente criativo. As referências ecléticas e sempre muito bem executadas que geralmente focam em ritmos eletrônicos como trip-hop e UK garage, e os vocais ilustres que sabem dialogar com a energia da faixa e trazem mais intensidade às músicas, são aspectos que se mostram altamente intrigantes. Uma das grandes obras pop da década, com uma manifestação fascinante de seu caráter inovador e engenhoso. - Davi Bittencourt
22. Black Metal 2 - Dean Blunt
Devastador como o primeiro, mas enigmático de um jeito único. A adesão maior aos vocais femininos de Joanne Robertson e um uso maior tanto de samples com uma maior carga de manipulação, quanto uma emulação de instrumentos em MIDI extremamente dramática fazem deste um outro experimento diferente do primeiro Black Metal. Além disso, fazem Black Metal 2 um álbum essencial, tão importante quanto o primeiro. - Tiago Araujo
21. Sometimes I Might Be Introvert - Little Simz
Little Simz se solidificou como uma das melhores rappers em atividade, lançando um disco que ofuscou os maiores lançamentos do rap no seu ano. Sua habilidade em expor temáticas sensíveis e pessoais de maneira natural, transitando por diversas sonoridades que remetem tanto às origens do rap no Reino Unido, mas também a sua ancestralidade mostram como esse não só um dos melhores álbuns da década, mas também como a Little Simz está nadando braçadas a frente da competição. - NaPauta
20. Indigo Borboleta Anil - Liniker
Há quem discorde, mas Indigo Borboleta Anil é, sem dúvida, o melhor álbum de Liniker. Com sua sonoridade muitas vezes sincopada e uma ênfase em padrões rítmicos complexos, o disco cria uma sensação de movimento que vai além da música em si. Além disso, a forte expressão emocional, tanto no canto da artista quanto na performance instrumental, é espontânea e, ao mesmo tempo, de tirar o fôlego. Liniker brinca de fazer música — e digo isso na melhor das intenções. - Brinatti
19. KicK iii - Arca
O terceiro álbum da série de lançamentos da artista venezuelana Arca, intitulado KICK, é o melhor de todos. Nele, ela oferece momentos mais abrangentes em relação à sua densa mutação que percorre espaços indistintos da música eletrônica, avançando cenários e posições que geram inúmeros efeitos em termos de sonoridades ora acessíveis, ora desafiadoras — ao extremo — até mesmo para seus padrões. É também o ápice da sua criação nesta década até então, o ponto de ruptura e convergência entre as muitas Arcas. - Matheus José
18. By the Time I Get to Phoenix - Injury Reserve
By the Time I Get to Phoenix é tristíssimo, em parte pelo falecimento de Stepa J. Groggs, um dos membros do trio Injury Reserve, cerca de um ano antes do lançamento do álbum. Talvez pelo (ou por) luto, Ritchie with a T e Parker Corey – os outros dois-terços do grupo – tenham se permitido tanta catarse e tanta assombração, talvez pela inconformação. O resultado é inegável, absoluto: quando Ritchie praticamente urra “My knees hurt when I grow, but I’m not gettin’ taller / and that’s a tough pill to swallow” é difícil não cair na mesma ladainha de confusão e tristeza, e isso engrandece em muito a atmosfera da perda aqui retratada. - Pedro Piazza
17. アダンの風 [Windswept Adan] - 青葉市子 [Ichiko Aoba]
Quando a japonesa Ichiko Aoba [青葉市子] abre seu piano em “Parfum d’étoiles”, a sexta faixa de Windswept Adan, o sorriso que já estava lá durante as cinco faixas anteriores só se concretiza. É de uma leveza, uma virtuosidade, um pulso, de uma afinação, de uma sensibilidade. Os passarinhos de fundo são só testemunhas de uma alegria tão simplória, tão absoluta que Aoba nos reflete no decorrer de 50min. Ai se tudo fosse uma passagem de flauta e um acorde de violão…- Pedro Piazza
16. Whole Lotta Red - Playboi Carti
É impossível falar do rap nessa década sem mencionar Whole Lotta Red, um álbum que catalisou e extrapolou para o mainstream um movimento que vinha borbulhando no underground e inspirou alguns dos maiores atos que estrearam nos últimos anos. Whole Lotta Red é um álbum marcado por uma sonoridade áspera, com sintetizadores estridentes, graves distorcidos e performances vocais cruas, que, em toda sua simplicidade nos apresentou a planta do que viria a se tornar o rap contemporâneo. - NaPauta
15. Raven - Kelela
Quando se trata da atual cena da música eletrônica, Kelela é uma figura inestimável. Ao desenhar uma jornada íngreme do amor, Raven tateia terrenos tão próprios que os transforma sob suas próprias configurações. Suas abordagens com o R&B, a música alternativa, ambiente e eletrônica se fundem, permeando em músicas tão robustas quanto sensíveis, que perfuram a nossa alma. Um colosso. - Felipe
14. Diamond Jubilee - Cindy Lee
As mais de duas horas de duração não são um empecilho para a magnitude do álbum de Cindy Lee. Sua construção é fascinante, possuindo um teor fantasmagórico que cria a sensação de presença ou algo além do natural, como se estivéssemos imersos em um filme onde tudo é irreal e dissonante. O álbum evoca intensa reação emocional, com inquietação e suspense. Ao mesmo tempo, há um lado etéreo, com leveza e fluidez, criando um ambiente onírico. As canções seguem frequentemente uma linha instrumental ou com vocais que não se concentram nas palavras, mas sim na textura e no sentimento da melodia, onde a gravidade, por vezes, parece ser esquecida. - Brinatti
13. how i’m feeling now - Charli xcx
Talvez não seja o álbum mais popular de Charli xcx, mas é onde Charli atingiu seu ápice criativo. Criado durante a pandemia da COVID-19, o projeto reflete o isolamento com letras introspectivas e uma sonoridade caótica e experimental, produzida inteiramente em casa. Mais do que um retrato daquele momento histórico, o disco se distancia do apelo comercial de seus outros trabalhos e consolida Charli como uma das mentes mais inovadoras da música pop dos últimos tempos. - Vit
12. Em Nome da Estrela - Xênia França
Nessa onda de popularização da música pop brasileira moderna além do território nacional, muitos artistas abandonam suas identidades para se adequarem ao mercado. Contudo, Xênia França resiste: seu álbum integra ritmos brasileiros sem clichês exotizantes, com composição brilhante, fundamentada em experiências espirituais. É um álbum virtuoso, em que detalhes – como sua voz intensa – evidenciam seu inegável brilhantismo, destacando-se em qualquer cenário em que Em Nome Da Estrela se encontre. - Antonio Rivers
11. MOTOMAMI - ROSALÍA
A era MOTOMAMI teve um grande impacto na música pop, inspirando artistas e criando tendências. Rosalía uniu reggaeton, flamenco e referências japonesas em um som autêntico, que fazia grudar na cabeça. Sua turnê lotou o Espaço Unimed em São Paulo e, no Lollapalooza, entregou um dos melhores shows do festival. Ela também inovou no palco ao interagir com a câmera, simulando gravações de stories e TikToks, um conceito que fez com que diversos artistas se inspirassem na espanhola. MOTOMAMI é sem dúvidas, um dos grandes acontecimentos da música pop e já se tornou um grande clássico por isso. - Vit
10. Queda Livre - Caxtrinho
Infelizmente, Queda Livre não é tão popular quanto merece, mas é indispensável em qualquer lista de um site dedicado à música experimental em solo brasileiro. Caxtrinho adapta suas raízes no candomblé em meio a guitarras, batucadas e até influências de jazz-rock, criando uma sonoridade única. Fugindo do rock tradicional, o álbum se destaca como um dos projetos brasileiros mais interessantes dos últimos anos, trazendo uma experimentação de forma inovadora. - Vit
9. The Tower (The City) - Vanessa Rossetto & Lionel Marchetti
O que fazer com a música depois do século XXI? Onde começa a música? Onde termina? Caso tenha pensado que esse álbum possui respostas para essas perguntas, provavelmente vai se decepcionar, porque sairá apenas com mais dúvidas. O que The Tower (The City) faz, entretanto, é puxar as barreiras para frente, sem fechar nenhuma dessas questões, mas mostrando que talvez elas importam menos do que nos importamos. - Tiago Araujo
8. Fountain Baby - Amaarae
Fountain Baby enterra a ideia de que "o pop morreu" e brilha como um dos maiores destaques dos anos 2020. Produção impecável, batidas vibrantes e uma mistura áurea de afrobeat com afrofuturismo. Cada faixa tem um cuidado detalhista em sua concepção, sempre recheada de instrumentos, como se fosse uma camada espessa de sons. As faixas são um convite para dançar, curtir e celebrar. Sem pretensão, o álbum prova que o pop ainda pulsa criativo e vital – só precisa de ousadia para se reinventar. - Antonio Rivers
7. Sexta dos Crias - DJ Ramon Sucesso
Ninguém distorce a realidade como o DJ Ramon Sucesso. Basta abrir as redes sociais do DJ carioca numa sexta-feira qualquer para encontrá-lo atrás de sua mesa de som, recortando samples e estourando os graves num frenesi que rompe com os limites da audição. Essa abordagem íntima e experimental culminou em Sexta dos Crias, disco que ilumina a cena underground do funk ao passo que introduz uma nova tendência: o beat bolha. E, com ela, um dos maiores expoentes do gênero nessa década. - Marcelo Henrique
6. DJ E - Chuquimamani-Condori
DJ E é, talvez, a obra que melhor representa as possibilidades de criação musical – independente do que isso signifique – na atualidade. A estranheza proporcionada por seus avanços através da força do que se estabeleceu como epic collage joga contra ideias e postulados do que se considera composição. É um disco imerso numa infinidade de porquês. Causa arrepios, torna-se inexplicável. É uma nova emoção. E, mesmo assim, não pode ser resumido, pois fica muito aquém de qualquer ideia formal de classificação e rotulagem. - Matheus José
5. Mimosa - cabezadenego, Mbé & Leyblack
Mimosa é um ensaio contemporâneo sobre a música afro-brasileira. cabezadenego, artista visual cheio de vigor, se une a Mbé e Leyblack, produtores da cena carioca, para evocar seu espírito provocativo através de um trabalho formidável de síntese e redefinição imagética. São colagens sonoras ferozes que reúnem, desdobram e aferem significados, com muita propriedade, do melhor das rodas de samba, das rimas faladas, da presença queer na negritude brasileira e, principalmente, do funk. - Felipe
4. Fetch the Bolt Cutters - Fiona Apple
Citado por muitos como o melhor disco de 2020 — e com razão —, Fetch the Bolt Cutters é um projeto inovador em que Fiona Apple explorou sons inusitados, utilizando objetos domésticos para criar uma sonoridade imprevisível, distante das melodias tradicionais. Até seus cachorros foram creditados, contribuindo com latidos na faixa-título. Liricamente, o álbum mergulha em temas fortes e pessoais, algo que já é de costume da cantora. - Vit
3. RENAISSANCE - Beyoncé
RENAISSANCE é um manifesto em homenagem à música house com foco no protagonismo negro do gênero, uma proposta ambiciosa e que consegue ser muito bem executada graças às referências ricas de Beyoncé e o carisma cativante exalado na performance da artista. A construção desse projeto é habilidosa para criar uma experiência que vai além de um mero ode ao ritmo dance, mas que parece uma viagem pela história do estilo e pelo repertório dos nomes que construíram o que seria a música house. - Davi Bittencourt
2. Hyperfunk - d.silvestre & MC DENADAI
Hyperfunk é anormal. No funk, exagerado a níveis anti-populares — o que automaticamente o nega como algo normal na música brasileira. Na eletrônica, informal demais para ser aceito. É abjeto, propositalmente mal feito, pois só a ruindade poderia atingir uma verdadeira virulência; a de atropelar. Mesmo tão além de todas as tendências de sua época, tão pra frente quanto pra trás — o amor pelo noise noventista —, ele reagrupou o que torna essa década tão especial: a importância (da destruição) das identidades, da seriedade em ser tão desleixado. É um manifesto do que o funk é capaz de representar, um que atinge todos que o ouvem de uma maneira inesquecível. - Sophi
1. Delta Estácio Blues - Juçara Marçal
Delta Estácio Blues, de Juçara Marçal, consolida a artista como uma das mais ousadas da cena contemporânea. O álbum monumental entrelaça tradição e experimentalismo, com sonoridades soturnas que transcendem o convencional, embaladas por letras afiadas que celebram raízes ancestrais e narrativas marginalizadas. Marçal constrói uma obra inquietante e paradoxalmente bela, desafiando categorizações fáceis. Mais que um disco, é um marco na reinvenção da música nacional nesta década. - Antonio Rivers
Um disco sobre o presente, Delta Estácio Blues é um dos caminhos mais distantes que a música brasileira já trilhou nesta década até agora. Abraçada pelo que é visto como resultado de um intenso processo de constituição de movimentos de vanguarda, Juçara Marçal canta como ninguém – penetrando a alma como sempre –, mas o faz com uma roupagem nova, ardente, que exala sua gloriosa independência de padrões – aqui, é ela quem os cria. - Matheus José
É besta o que Juçara faz aqui. Besta rara. De um ode aos malungos a um ode à própria força, passando por amores, por crenças, por dissonâncias, por barulhos, e todos os outros pôres que a Juçara quiser desbravar, ainda que, a esse ponto de sua (bárbara) carreira musical, exista pouco que ela não tenha dito. Ainda assim, tudo que ela profere parece ter soado pela primeira vez, como se inventasse palavras, notas, sons no puro improviso e nos resta anotar rápido cada uma delas num caderninho a tempo da próxima chegar. Elegantíssimo, estranhíssimo: as duas coisas que a Juçara tem destreza e maestria em conciliar. Besta raríssima, em retrospectiva. - Pedro Piazza
DEB só poderia ser feito por alguém que compreende o fenômeno da música brasileira de cabo a rabo, de uma ponta a outra, mas mais que isso: por alguém que viveu tudo que nos levou até hoje. É um álbum de celebração de nossos eus, aqueles (que outrora) vistos nas ruas, que indicam o hoje, e também é um álbum de anseio, de incerteza, de amargura. Ele explode e retrai sem precisar afirmar que há uma coerência em seu interior, promove quaisquer identidades — de maneira, hora e local — que desejar exprimir, e o faz como se o mundo não diminuísse seus ombros. Existe muito a se determinar sobre a obra-prima de Marçal, mas a única pessoa que eu confiaria a este trabalho seria ela mesma. - Sophi
Se há algo ainda para a música popular brasileira é o que Juçara Marçal fez em Delta Estácio Blues. Isso é, há a incorporação de elementos eletrônicos, há a abertura em se readaptar a outras formas de composição e criação musical. Há ainda o abandono de tratar como se tudo ainda fosse os anos 70, e, especialmente há a atitude frontal em não se curvar a nenhuma cartilha do que um artista brasileiro tem que ser. - Tiago Araujo
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