Revisando Discografias: Orchid



Frequentemente se comenta sobre o quanto os anos 1990 “estão na moda de novo”. Acreditamos que essa tendência precisa ser mostrada em todos os aspectos, principalmente pela quantidade gigantesca em que bandas de emoviolence, grind e hardcore extremo têm sido criadas nos últimos tempos. Considerando que o Orchid é de extrema importância para todos esses gêneros e que esse ano eles já nos presentearam com um álbum ao vivo ótimo que estava engavetado, decidimos trazer esse revisando discografias — para relembrar tudo que há de bom e diferente em uma banda que permanece viva, pela música e pela sua influência até os dias de hoje.



Orchid
1998

★★★☆☆

Enquanto em We Hate You Orchid parecia estar se encontrando no mundinho hardcore, em seu auto-intitulado de 1998 a banda parece adotar de vez o screamo como guia de sua cruzada emo.

Embora o som do emoviolence que seria tão característico da banda apareça em doses pequenas, o que mais instiga sobre o disco, e que deveria ser a cara da banda, é que ele é um dos que menos carrega sua identidade. Há uma óbvia influência de metalcore — o original, que alguns chamam de “metallic hardcore” — e uma disposição menor ao choque e ao caos que é a marca registrada da banda.

Eles pareciam tão seguros de si mesmos, mas ainda havia muito chão para caminhar. Ainda sim, comparado com outros screamos, a verdade na voz Jayson Green e as fundações de uma das melhores bandas de hardcore já podiam ser vistas. - Sophi




Orchid / Pig Destroyer
1998

★★★☆☆

Engraçado que, naquela época — e um pouco antes disso — as bandas mais aceitas nesses círculos hardcore eram chamadas de hardcore, enquanto as que eram rejeitadas eram chamadas de emo. Orchid sempre se definiu como uma banda de hardcore — nem screamo (ou skramz) nem emoviolence eram palavras na época — e a parte emo era quase um subproduto. Essa versatilidade os permitia flutuar entre metal (powerviolence), grind e hardcore como ninguém.

Este split com Pig Destroyer é uma prova da identidade e evolução da banda, sendo o ponto de virada para o Orchid que tanto amamos. É aqui que a base para muitas bandas de pós-hc dos anos 2000 se encontra, e apresenta ambas metades em nível primoroso.

Muitos elementos de Orchid, porém, estavam apenas no embrião aqui. Muitos deles viriam após entrar em contato com outras bandas de screamo e pós-hc, como o Jeromes Dream. Estes elementos se solidificaram totalmente logo no próximo álbum da banda, que também é o mais famoso e influente de sua discografia, o Chaos Is Me. - Sophi




Chaos Is Me
1999

★★★★☆

Chaos Is Me começa com um sample da música “Metastaseis” do compositor grego de música Iannis Xenakis. Essa composição orquestral é feita a partir de uma discussão sobre tempo, transposta na forma de música, que vai se utilizar especialmente da estrutura para criar e estabelecer esse debate.

Talvez seja importante notar não somente como isso é uma referência curiosa para começar o álbum, mas também em como ele se distancia formalmente, musicalmente, mas se aproxima na radicalidade e temática. Não que o álbum do Orchid em si discuta o tempo, como faz o Xenakis, de forma direta, mas um diálogo é possível.

Em Xenakis, a música está em constante mudança, em fluxo. O tempo se constrói através dessas mudanças, uma relação de massa e energia, como propôs Einstein. Em Orchid, entretanto, é possível pensar em uma compressão do tempo, uma carga massiva de energia sendo depositada de uma vez, mesmo nos momentos mais lentos, e ela se inicia assim que o sample acaba, ou, melhor dizendo, ela interrompe abruptamente a música de Xenakis, um rompimento radical que é temporal, musical e formal. E isso só começa, superficialmente, a explicar tudo que tem de incrível na primeira música do álbum. O resto é ver pra crer. - Tiago Araujo




Jeromes Dream / Orchid
2000

★★★★☆

Duas bandas essenciais para o gênero emoviolence se unem num split, não teria como dar errado. E não dá mesmo, o resultado é primoroso, uma carga de energia depositada sem arrodeios, sem medo e completamente extasiante. As duas bandas seriam igualmente muito influentes na sonoridade uma da outra, e nesse EP já dá pra perceber isso perfeitamente.

As ideias do Jeromes Dream, de experimentar com outros recursos (rádio, feedbacks de guitarra, etc.), criam uma ponte entre o hardcore e o noise, muito distinta e que é notavelmente uma das experimentações mais divertidas de uma banda desse estilo naquele momento. No caso do Orchid, é feito o que você espera da banda naquele momento, mas muito mais puxado pro grind (algo que seria melhor visto e explorado no seu álbum posterior), então a agressividade está no ponto certo, tudo é rápido e a irreverência para com uma “tradição” dos elementos do hardcore oitentista é notável.

Pela incrível e marcante performance de ambas as bandas, que aqui fazem alguns dos melhores momentos de cada respectiva carreira que esse split é considerado até hoje um dos melhores lançamentos de ambos e um clássico do punk dos anos 1990. - Tiago Araujo




Dance Tonight! Revolution Tomorrow!
2000

★★★☆☆

Já estabelecidos como um dos nomes mais empolgantes da cena hardcore, o segundo álbum de estúdio da Orchid tornou-se um dos mais populares e celebrados de sua discografia. Cada elemento nele é cuidadosamente arremessado ao caos sonoro que caracteriza a identidade do grupo.

A repetição dessas estruturas próprias, no entanto, acaba fornecendo uma previsibilidade ao projeto. O verdadeiro potencial da banda é exibido sem escrúpulos em faixas como “Lights Out”, “I Am Nietzsche” e “... And the Cat Turned to Smoke”.

A angústia e a melancolia dos vocais ininteligíveis do vocalista Jayson Green são embaladas pela vivacidade dos riffs de guitarra em uma atmosfera que remete a um sonho febril. - Tobia Ferreira




Orchid
2002

★★★☆☆

Lançado em 2002, Orchid é um álbum que define a agressividade e a urgência do hardcore de maneira brutal e sem rodeios. Com tempos rápidos, batidas pesadas e riffs diretos, a música não busca sofisticação melódica (ainda bem), mas sim um furor caótico que se traduz na performance visceral dos músicos. O vocal, característicamente gutural e frequentemente acompanhado de gritos intensos, transmite uma sensação de desespero e angústia. O álbum explora o caos emocional, em que sentimentos de dor e questões existenciais convivem lado a lado, criando um lugar denso e perturbador.

A produção de Orchid traz uma diversidade de variações dinâmicas, incorporando progressões de acordes mais complexas e mudanças abruptas de ritmo, como exemplificado na faixa “Trail of the Unknown Body”. Aqui, as transições entre passagens de extrema intensidade e momentos mais tranquilos criam um contraste dramático, revelando a tensão emocional que permeia o trabalho. A intensidade por vezes é alternada com breve períodos de calma, mas nada soa como uma pausa — é a sensação do descontrole emocional em sua forma mais pura. O álbum, além de soar caótico, também evoca uma experiência visceral, onde a incerteza e a tensão são palpáveis.

Uma das características mais marcantes de Orchid é a abordagem não linear. Ao invés de seguir a estrutura previsível de verso/refrão, típica de muitas bandas hardcore ou punk, o álbum opta por arranjos fragmentados, cujas músicas se tornam uma sucessão de momentos caóticos e imprevisíveis. - Brinatti
Aquele Tuim

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