★★★☆☆
3/5
O novo álbum de Samia, Bloodless, vai além de um indie rock qualquer — desses que surgem a cada cinco dias e que os fãs do gênero tratam como o ápice de uma tendência que se sobressai às demais. Aqui, há fortes sinalizações regionais ao estilo de lugares por onde Samia passou — ela foi de Nashville para Minneapolis. É por isso que momentos como “Hole In A Frame” e “Sacred”, com acordes de americana e um canto mais próximo do country, chamam atenção, ao lado dos temas abordados, como na segunda canção citada, em que ela pousa suas asas sobre um acerto de contas amoroso: “Você nunca me amou como me odeia agora”, canta.
O ponto alto do álbum é, sem dúvidas, a variação vocal e também instrumental desse processo de deslocamento, que Samia consegue magicamente aderir e expor o tempo todo. Em “Carousel”, por exemplo, ela parece cantar num estilo próximo ao de Nilüfer Yanya, principalmente pela forma como os acordes se intensificam acima de sua aparente simplicidade. É uma pena que, após esse momento, o disco perca força com a drástica queda do ritmo.
A recuperação dessa digressão sonora mais explosiva vem com “North Poles”; porém, logo depois, em “Pants”, o ritmo volta a diminuir, e o disco se encerra com essa inconsistência de ir e vir — um turbilhão orquestrado para parecer ora grandioso, ora contido. É um empecilho que gera a impressão de que Samia não sabe como lidar com essa troca intensa de margens musicais sem fazê-la soar como alocações de elementos, segregados e apontados com base num sentimento que vai além da narrativa impressa nas faixas. É o tipo de música que quer causar algo, mas que, ao optar apenas por esses meios, soa presa em suas próprias estruturas.
Selo: Grand Jury, Fat Possum
Formato: LP
Gênero: Pop / Indie Rock