Crítica | Coisas Naturais


★★★☆☆
3/5

Seja na onda batendo contra as pedras do mar ou nas avenidas paulistanas saturadas de poluição visual e sonora (Vício Inerente), Marina Sena se destaca como um ponto fora da curva. Sua música nos transporta para diferentes cenários, e quando se trata de qualidade artística – de fato, há uma distância considerável entre ela e muitos outros nomes – percebemos algo que vai além da superfície.

Nesse sentido, Coisas Naturais se revela divertido, humano, romântico e envolvente, ao mesmo tempo em que reforça a devoção de um público fiel. No entanto, essa devoção por vezes superestima um conjunto que, no todo, não soa tão impressionante dentro de sua discografia.

Marina enfatiza que o álbum rejeita tudo que é plástico e supérfluo, conceito materializado em referências breves a momentos pessoais – ainda que, por vezes, me afaste da experiência, como em “Ouro de Tolo”. Mas a catarse acontece quando entendemos o que o disco realmente propõe: uma fusão entre uma ode à Tropicália e os elementos mais modernos da música pop brasileira. Não por acaso, Gal Costa se faz tão presente no cerne do projeto, em sua essência (“Anjo”). Ainda assim, em meio a essa atmosfera coesa, há momentos de ruptura abrupta – confesso não ser fã de reggaeton, especialmente quando ele não se encaixa organicamente no todo (“Doçura”).

Como já dito, Marina nos transporta para experiências imersivas, e aqui não é diferente. Algumas faixas evocam uma sensação etérea de natureza, verão, calor e proximidade física. É um grito de paixão ardente que vem de dentro para fora, e não é preciso descrever quando se pode sentir (“Numa Ilha” e “Desmistificar”).

O impacto de Coisas Naturais no público gera reflexões. De um lado, a aclamação dos fãs é compreensível, e enxergo claramente os motivos. De outro, há uma superestimação maniqueísta. O álbum tem seus méritos – mencionados aqui – e suas fragilidades, que também foram pontuadas. Talvez esse seja o maior acerto de Marina: a maneira como se apresenta de forma genuína e vulnerável, tornando-se, ironicamente, tão natural quanto o título sugere.

Selo: Sony Music
Formato: LP
Gênero: Pop / Música Brasileira
Lu Melo

Estudante de Jornalismo, 18 anos. Amante da música e da cultura pop desde a infância. Escreve para o Aquele Tuim, integrando a curadoria de R&B e Soul.

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