Crítica | F*CK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT


★★★★☆
4/5

A música eletrônica tem uma especificidade de reprodução que, por vezes, é mal entendida: os DJs. Como tanto de sua natureza gira ao redor das raves, é muito comum ver artistas se dividir em duas rotas. A primeira é tentar, ativamente, quebrar com as características de músicas “tocáveis” em sets de DJ — que incluem: introdução qualquer coisa, drops pesados e versos que não descartam intensidade. A segunda é, sem muita reflexão, incorporar todas essas regrinhas em suas músicas para ter a mínima chance de uma rede interconectada de DJs (ou a internet) de adotar a música como parte de seu ciclo de sets. Existe, porém, um grupo seleto de artistas que toma uma terceira rota: incorporar, ativamente e entusiasmadamente, essa particularidade do DJ set como forma de fazer música. Skrillex é um deles.

Já era possível notar o Skrillex como amante da arte do DJ desde que ele revolucionou a música eletrônica no começo da década passada, com a versão americana do dubstep. Todo o esforço e técnica do artista, já naquela época, giravam ao redor do amor pela arte do drop, fazendo tudo que podia para tornar especial cada uma das atrações principais das músicas. A compreensão rítmica e de textura de alto nível do produtor se direcionava totalmente ao momento antes, durante e depois do drop. Uma fixação obsessiva, eu diria. Ele tinha que provar algo, fazer as pessoas entenderem que a música eletrônica pertence a rave, e que tudo relacionado ao estilo deveria convergir numa fascinação apaixonante por fazer as pessoas dançarem.

Em 2025, as coisas mudaram. Skrillex mudou; ou melhor, Sonny Moore mudou. Ele não quer mais provar nada, não existe mais obsessão; a única coisa que ele deseja é explodir seu amor à pista de dança na cara de todas as pessoas, elas querendo ou não. Em F*CK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT !! <3 as músicas de um minuto que só existem como forma de amor derretido ao drop seguem uma lógica muito simples: cada um de seus segundos deve ser uma antecipação do próximo segundo e tudo deve ser inesperado. É uma busca genuína pelo novo, sem forçar o que Skrillex não é e sem se acomodar em convenções sem graça. É bruto, cru, verdadeiro e, acima de tudo, apaixonante.

Talvez por isso que a falta da necessidade de se provar foi justamente a que deu o melhor retorno do público — ao menos fora da esfera do dubstep. O título, a capa, tudo aponta para um momento da vida de Skrillex que ele não acredita mais em sua imagem, em que seu nome como artista significa ao mundo da eletrônica; é quase uma ego death. F*CK U SKRILLEX… é um produto de um sentimento puro, não de uma pessoa. O amor-fluido é quem fez esse DJ set em forma de álbum, que reuniu as técnicas de design de som, colagem melódica e conhecimento rítmico para esfregar na cara de todos sobre o que música eletrônica é sobre: DJ, festa e diversão. Tem algo muito bonito, celebratório sobre esse álbum que, mesmo feito puramente de elementos eletrônicos, é um dos lançamentos mais sinceros e orgânicos do ano. Obrigada, Sonny Moore.

Selo: Atlantic, OWSLA
Formato: LP
Gênero: Eletrônica / Bass Music, Dubstep, Hybrid Trap

Sophi

Cursando Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

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