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Black Country, New Road ficou famosa logo após estrear seu single de estreia na Speedy Underground, “Athens, France”— ou até mesmo antes, com seus shows pelo Reino Unido em locais como o Windmill. Como a maior parte da Speedy Underground na época, a banda fez parte do que os críticos vieram chamar de “crankwave” ou “pós-punk, pós-Brexit”, entre outros. Quase que imediatamente, a banda ganhou um status inigualável de “a próxima grande banda”, ou algo do tipo. Tem relação com um tipo específico de rockista/rocker, um que ultrapassou o rockism normal e trocou por uma fixação por Swans, ou uma banda parecida — os membros da banda citam Slint. É algo bem delimitante; muito pouco pode ser explorado dentro dessas paredes e todo tipo de decisão é feito com algo em mente: a catarse. Ainda sim, BC,NR seguiu com dois discos aclamadíssimos, tanto pela crítica quanto pelo público… mas era impossível continuar assim.
Após a saída do vocalista, Isaac Wood, o destino da banda estava um pouco incerto. Ao que parece, parte do que prendia a banda ao mesmo tipo de estruturação e objetivo de sempre era uma megalomania proposta pelo vocalista e, quando ele saiu, não havia mais motivos para forçar uma seriedade; estava cansativo, já. Com isso, tivemos o álbum-teste ao vivo Live at the Bush Hall e, agora, Forever Howlong, o terceiro disco de estúdio da banda. Como esperado, ele se solta e se permite a uma experiência mais orgânica, genuína e desorganizada — não há uma coesão ou um caos premeditado, apenas as músicas como elas são — comparada aos outros discos da banda. Novos instrumentos, novas formas de tocá-los, opção de exagerar ou não, não ter medo de receber críticas ou não agradar um certo público; tudo isso descreve FEHL, não AFUT.
Essa liberdade deu luz à um amor ao pop rock e ao prog que sempre esteve incubado, mas só agora conseguiu ver a luz do sol. São músicas ensolaradas, que brincam com a busca pela felicidade enquanto elas, em si, buscam por ela também. O tipo de escrita mais cínico continua presente, mas agora há uma ironia mais sutil, algo mais saboroso ao invés da dor feia dos outros discos. Isso resulta em músicas que são bem mais palatáveis, com intuito não de impressionar, e sim de criar uma rede de boas técnicas, novos horizontes e um tipo diferente de catarse: a interna, de auto-completude, não do ouvinte. Ouvir algo do tipo abre um sorriso no rosto de qualquer um; só tem uma coisa mais satisfatória que ver pessoas se sentindo bem consigo mesmas: se sentir bem consigo mesmo. Até certa medida, músicas como “Socks”, “Happy Birthday” e “Nancy Tries to Take the Night” ultrapassam a barreira sonora e conseguem fazer o ouvinte sentir tal satisfação.
Por outro lado, é possível interpretar essa ausência de um compromisso verdadeiro com algo — seja este o passado, o presente ou o futuro — como um deslize — “não houve nem a força necessária para fazer uma decisão de rompimento com o legado da banda”. Isso leva a músicas que não têm ideia alguma do que querem ser — “For the Cold Country” — e outras que só não assumem uma identidade marcante — “The Big Spin”, “Mary”. Mesmo assim, eu apoio essa troca (pop por pós-punk, coesão por verdade). Um caos premeditado, feito para soar fora de si, não é algo que BC,NR precisava entregar em 2025. O que recebemos, o que precisávamos, era bem diferente. Passagens de folk que combinam a mística do continente rural com a pitada de amargura presente só em ver um pôr-do-sol acabar. Falsos toques de desilusão reprimida acima de arranjos de música clássica — mais Beach Boys que isso, em 2025, não há. Bem, a verdade é que não queríamos nem precisávamos de nada disso, mas ao receber tal, querer mais é pura gula.
Selo: Ninja Tune
Formato: LP
Gênero: Rock / Art Rock, Progressive Pop