Crítica | Ginkgo


★★★☆☆
3/5

Após o disco de retorno de mais de 20 anos da banda, Failed at Math(s), ela demonstrou estar mais animada que nunca para escrever novas músicas. O resultado dessa animação foi Ginkgo, lançado dois anos após esse último lançamento de destaque. Diferente deste, porém, ele não possui nenhuma regravação: são músicas totalmente inéditas. Nesse espírito de novidade, de uma vontade imensa de criar, a banda montou — talvez até inconscientemente — uma teoria do que é o álbum ideal. É curioso ver uma banda que lançou duas demos e uma regravação com faixas bônus tentar desvendar o que significa construir um álbum e, mais importante ainda, como fazê-lo. Ginkgo é um amontoado de diferentes concepções de um álbum, tanto aquelas dos anos 2000 — uma década que está sempre acorrentada à banda — quanto aquelas da atualidade.

Existem muitos arquétipos e estereótipos da música indie sendo cobertos aqui. Temos a propensão a utilizar inúmeros gêneros — dream pop, shoegaze, noise pop; todos derivados da neopsicodelia —, e, talvez mais evidente ainda, uma forma bem boba de expor referências — Radiohead, The Verve — com um orgulho muito honesto. O álbum, no geral, passa uma sensação de honestidade muito tranquila, oferecendo um momento de descanso direto às nossas vidas encabuladas. Existe uma certa inocência na atitude da banda; responder os comentários do YouTube com entusiasmo, divulgar humildemente os lançamentos, lançar músicas simples. Nunca esperaria que o billy woods fosse aceitar participar de uma faixa de uma banda tão… pouco irônica e inovadora assim, mas aconteceu, e é claro que é um trip hop bem anos 2000.

O uso de arranjos clássicos aqui e ali é uma das características mais interessantes do álbum diluindo em anacronismo o pop psicodélico dos anos 60, mas de maneira mais sutil do que artistas como Cindy Lee fazem. Na verdade, a coisa mais interessante do álbum é esse anacronismo: tratar os anos 60, 90, 00 e 20 como coisas quase iguais, por diferentes motivos. No mais, o álbum é isso mesmo: uma coleção de faixas de indie que tentam sua mão em vários gêneros diferentes mas que almejam uma certa coerência superficial. Pelo visto, a resposta final do que é um álbum para Panchiko é bem simples: são as faixas que quero lançar, com as letras tristinhas que quero escrever, com as guitarras lo-fi que quero tocar e do jeito que eu quiser organizar. É uma concepção bem ingênua; combina com a banda e sua música nessa nova era.

Selo: Nettwerk
Formato: LP
Gênero: Rock / Indie Rock, Neopsicodelia

Sophi

Cursando Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, 18 anos. Encontrou no Aquele Tuim uma casa para publicar suas resenhas, especiais e críticas sobre as mais variadas formas de música. Faz parte das curadorias de Experimental, Eletrônica, Rap e Hip Hop.

Postagem Anterior Próxima Postagem