Crítica | Grand Voyage


★★★★☆
4/5

O som do Tapeworms gira em torno de noções de estilo fortemente associadas ao shoegaze e ao dreampop. Evidentemente, há muito disso no novo álbum lançado pela banda nesta sexta-feira (11), o qual tivemos a oportunidade de ouvir previamente. Grand Voyage adentra, assim, espaços mais pop desses signos adotados ao longo das faixas, criando uma sonoridade empoeirada, doce e intensamente conectada por sentimentos que atravessam as camadas musicais estabelecidas por eles.

O álbum é, portanto, uma verdadeira viagem – entenda aqui como um deslocamento geográfico – que harmoniza a sensação de um passado distante com a de um futuro inalcançável. “IRL”, por exemplo, se encerra com gravações ambientes — alguém está saindo ou chegando. Esse tipo de elemento não apenas fomenta a linguagem de recompor as ideias sugeridas no título e, talvez, na conceituação do álbum, mas também acrescenta profundidade às suas próprias abordagens. Em seguida, em “Safe And Sound”, essa sensação de passeio, de transporte — seja caminhando pelas ruas noturnas de uma cidade grande ou voando sob os arranha-céus — é construída com tanta precisão que sua literalidade sonhadora está longe de ser um defeito.

Há aqui um apelo que muitos artistas contemporâneos, que revisitam sons nostálgicos da música pop no cenário indie, não conseguem atingir. Enquanto o Magdalena Bay expurga suas ideias em busca de uma robustez que não lhe cabe, o Tapeworms não teme flertar com incrementos – baterias gelatinosas, sons fofos e bobos – por vezes maneiristas. É justamente aí que reside sua maior qualidade: a banda busca constantemente ir além das características limitantes dos gêneros com os quais trabalha. Um bom exemplo disso é a explosão cataclísmica de “Pitch Pop”, faixa que combina batidas compactadas do french touch noventista com fragmentos do produtor japonês Yasutaka Nakata — conhecido por trabalhos com artistas como Perfume — para transmitir temas como a amizade. É, sem dúvida, a definição de música de conforto.

Em outros momentos, como em “Junk Jumble”, chama atenção a maneira como eles alternam os vocais. Essa dinâmica torna o disco ainda mais fluido, sem se prender à forma ou à ideia de que apenas vocais femininos seriam capazes de preencher esse espaço confortável e sonhador proposto. É um verdadeiro exemplo de como adaptar e readaptar sentidos de gênero e do próprio estilo, algo que o Tapeworms constrói como ninguém.

Compre: Bandcamp
Selo: Music Website
Formato: LP
Gênero: Pop / Dreampop, Eletrônica

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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