Crítica | Luster


★★★☆☆
3/5

Em um espaço entre Cocteau Twins e My Bloody Valentine está o novo álbum de Maria Somerville, Luster. Essa pode ser uma associação inteligente — e há razões para que seja feita —, mesmo que exista um abismo entre o que ela faz e o que essas bandas consagraram. Tirando todo o aparato moderno ao qual Maria recorre para construir faixas que escorrem pelas quinas do shoegaze e do dream pop, à la anos 90, Luster permanece quase que preso a um fascínio estilístico de soar enraizado no que todos nós temos como referência quando se fala na mescla desses gêneros.

É, no entanto, um disco que encontra seu potencial não apenas na revitalização deles, mas também na maneira como consegue, no meio disso tudo, estabelecer algo próprio. Por isso, momentos como “Halo” e “Spring” — com vocais e letras de Maria acompanhados por cordas e cantos serenos que nos guiam por Rivendell nesse mesmo ar sonhador e cinematográfico tipicamente tolkiano — chamam tanta atenção: conseguem se desprender do passado ao qual são, inconscientemente, condicionados e soarem novos o suficiente para destacar seus melhores atributos.

Está longe de ser, todavia, um movimento forçado pela artista. Conseguir se posicionar diante de clássicos do tipo e fazê-lo a partir de ideias altamente rentáveis da produção musical atual — em um cenário onde TikTok e Instagram redefiniram o que o shoegaze pode significar, impulsionando qualquer coisa esteticamente próxima das bandas citadas, mesmo que distante delas em termos mais profundos e de qualidade — é um ponto que coloca Luster à frente de muita coisa, muita mesmo. Por este motivo, também, que o seu melhor pode ser encontrado longe da superfície, nos instrumentais de fundo, modulações eletrônicas silenciosas ou na ausência de um som específico – que seja muito rock ou muito pop – que sirva como um ponto de conexão central. Não há, e por isso é mais interessante que a maioria dos shoegazers por aí.

Selo: 4AD
Formato: LP
Gênero: Rock / Dream pop

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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