Crítica | Montagem Funk 3000+


★★★★★
5/5

Tudo o que você já ouviu no funk está aqui. É passado e presente condensados nas raízes do pancadão anos 2000 (“Montagem Se Ela Dança Eu Danço+”), nos avanços estéticos do beat bruxaria triturado por tuim (“Montagem Vamos Brincar+”) e um design de som atordoante responsável por dar vida a essa miscelânea de técnicas e estilos. Apesar de jovem, DJ RORO tem muita habilidade em testar suas ideias, fazendo de Montagem Funk 3000+ um disco que avança e retrocede no melhor do que o gênero pode proporcionar.

A chave dessa força que o DJ tem está na maneira como ele trata o 'agressivo', que aqui se comporta como uma característica volátil — pega graves e kicks demasiadamente fortes, beats literalmente agressivos, e os une sob marcas como o tuim, de uma maneira extremamente melódica. É, portanto, diferente do agressivo que se aproxima de vertentes mais externas muitas vezes usadas no funk, como o power noise de álbuns como ESPANTA GRINGO, ou do agressivo que é apenas… agressivo. DJ RORO faz um desmembramento nostálgico pra dar vez a essa tendência do seu jeito. Para tal, ele trabalha suas montagens dialogando com a própria ideia de 'montagem' no funk paulista, que praticamente distorce seus elementos ao contrário da montagem de outros estados – como a do funk de BH, que se preocupa em ser mais mainstream, e que nomes como DJ Ws da Igrejinha também trabalharam perspectivas próprias desse quase acessório.

Aqui, todas as faixas são uma montagem de combinações de estilo, beats e BPMs diferentes, o que poderia pressupor uma redundância, se DJ RORO não o fizesse com um significado pessoal. Através de mensagens diretas que trocamos, ele menciona que suas montagens têm um significado individual, como se quisesse colocar um pedaço de si em cada música – o que fica evidente na forma como abraça a nostalgia (o emprego de “Maldita de Ex”, de Mc Leozin) usando de elementos que confrontam uns aos outros, como em “Montagem Saudades Da EX+”, que tem uma construção que não teme ir para lugares diferentes, isso, sem soar perdida em seu turbilhão de referências. É uma faixa barulhenta como o funk deve ser, mas jamais causa incômodo. Pode ser ouvida e apreciada em qualquer ocasião e essa é a diferença da produção de DJ RORO em sintetizar o funk como ninguém.

É desse modo que Montagem Funk 3000+ inconscientemente se ajusta aos seus próprios parâmetros. É um disco que contém quase todas as máximas do funk paulista sem soar focado em estabelecer algo novo – embora o faça. Suas inovações, como a forma de trabalhar a montagem e de levar a ideia de agressividade do gênero a outro patamar, soando tridimensional em momentos como na faixa-título “Montagem Funk 3000+” e no destaque mais agudo de todos “Montagem Dentro Do Submundo+”, ocorrem sem um grande alarde, sem uma necessidade dele de se afirmar como a frente de algo que naturalmente todos podem fazer. RORO produz como um mestre — tem total domínio de suas pressuposições —, embora ainda seja muito subestimado, o que é uma pena, pois a formalidade de Montagem Funk 3000+ é, por si só, a expressão dele em estabelecer sobretudo seu nome. E guardem esse nome: DJ RORO.

Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk / Beat Bruxaria

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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