Crítica | More Chaos


★★☆☆☆
2/5

Roupas em tons escuros e largas, unhas pintadas de preto, plataformas, cut-outs, acessórios como joias de prata e óculos futuristas. “Meus manos se vestem todos de preto, yeah, que nem o Darth Vader”, diz o rapper em "LiveLeak". Esses são alguns dos elementos do estilo Opium, que combina referências do punk, rock e do trap norte-americano. Com Playboi Carti como maior embaixador dessa tendência, surgem nomes ascendentes que conquistaram espaço no trap rage, marcado por letras sombrias, violentas e niilistas. Entre esses nomes, Ken Carson, natural de Atlanta — cidade onde o movimento neopunk pulsa forte —, firma seu nome na cultura do rap underground e se arrisca (ou não) em seu mais novo álbum, More Chaos.

Ken Carson abre o disco deixando claro o que o ouvinte pode esperar: caos. O refrão “eu sou o senhor do caos”, que dá nome à faixa de abertura, já adianta a desordem — tanto lírica quanto sonora — que permeia o projeto. A escolha do título More Chaos, tão próxima ao do projeto anterior, A Great Chaos, pode sugerir certa falta de criatividade ou evolução. Lançado em outubro de 2023, A Great Chaos, seu terceiro álbum de estúdio, veio como um projeto mais original e inovador, enquanto More Chaos não dá continuidade a isso com maestria – pode-se dizer que é mais do mesmo. Em "Money Spread", o próprio Ken comenta: “More Chaos, primeiro é lindo, depois é um desastre.”

Respirando essa estética vampírica e mística consolidada por Carti, Ken se alimenta dessa energia de anarquia e confusão. Sua lírica ostentadora revela indiferença e egoísmo. Essa atitude também se reflete na condução sonora do álbum: sintetizadores frenéticos, 808s distorcidos e batidas que parecem colidir entre si.

O ponto é que não existe uma profundidade temática, seja a partir de ideias oriundas do hip hop, seja pela ausência delas, por trás das músicas aqui. O que se percebe é um vácuo, o reflexo de um projeto que exalta ostentação, misoginia e afinidade com a violência. São 21 faixas com a mesma temática, caótica e estranha, não exatamente no mau sentido, mas diferente e ofuscante. Algo que pode se tornar extremamente cansativo se a densidade lírica for uma prioridade para o ouvinte. Mas esse nunca foi o ponto de Carson. Nem nas faixas em que aborda relacionamentos, como "Kriptonite", ele se mostra minimamente emotivo. Dá-nos a impressão de que a proposta é, de forma ampla e quase generalista, explorar uma sonoridade que incomoda, que é agressiva e intimidadora. O que faz com que o álbum tenha uma clara divisão de altos e baixos. Em "Xposed", Ken solta versos marcantes que ilustram sua realidade:

Não sei dizer se vendi minha alma ou não, esqueci
Todo mundo é durão e gangster até levar um tiro
Um pelo dinheiro, dois por essas vagabundas
Três por essas drogas.


"LiveLeak" se destaca pelo flow fluido que acompanha a progressão da produção, carregada de estilhaços sonoros e beeps que provocam sensações quase alucinantes. O uso de sintetizadores multidimensionais e melódicos dá um toque a mais nas faixas. No entanto, momentos como a fala infeliz em "Root Of All Evil" “Vou virar o Chris Brown, de ponta a ponta, ela tá ligada como é” não passam despercebidos. A comparação com alguém já acusado de violência doméstica é, no mínimo, problemática – e dispensável.

Também chama atenção a semelhança exagerada entre as faixas. São 21 músicas que Ken Carson não consegue sustentar com a mesma força que Carti demonstrou ao lançar MUSIC com 30. E, claro, o encerramento em "Off The Meter" decepciona, apesar de reunir o trio Opium. A música não traz nada memorável em comparação ao restante do projeto. O flow de Lonely e Carti destoa de Carson, que tenta sustentar um refrão sobre um instrumental synthpop, mas a mixagem precária prejudica a entrega.

More Chaos é exatamente o que o nome promete: turbulento, intimidador e agressivo. Aqui, conhecemos a essência do trap rage – no que de melhor e pior pode oferecer – e nos deparamos com os pensamentos mais sombrios de quem participa dessa vertente. Ken Carson pode ter deixado a desejar ao repetir fórmulas já vistas em A Great Chaos. O resultado é um disco desgastante. Ele não retrocede na cena do rap atual, mas também não avança. Fica no meio do caminho, preso no próprio caos que criou.

Selo: Opium / Interscope Records
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Rage, Trap
Talita Mutti

Estudante de Jornalismo, 21 anos. Obcecada por música e fotografia desde a adolescência. No Aquele Tuim, faz parte da curadoria de Hip Hop.

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