Crítica | Revengeseekerz


★★★☆☆
3/5

No campo esquerdo da internet, nas beiradas de onde você pode encontrar jovens fazendo música, nota-se a presença de alguém que, nos últimos anos, vem dando características próprias de estilo a gêneros que há muito tempo já permeiam esses espaços. Esse alguém é Jane Remover. E esses estilos são suas principais referências: rap e hyperpop. Mas, diferentemente do que você pode imaginar, ela é apenas a crosta desses gêneros – o que ela faz em Revengeseekerz é mostrar exatamente como expandi-los para um nível incalculável de música pop maximalista.

Uma das faixas que melhor exemplifica tudo isso é “Star people”. Você pode notar a maneira como Jane estrutura seus versos, organiza os sons — cordas e efeitos modificados com pitch shift que emulam vidro quebrando —, mas também uma avidez direta em adaptar batidas que acenam ao rage. Toda essa volatilidade berra o caminho dela pelo rap. “angels in camo”, por outro lado, segue em direção a um som mais plastificado, ainda mantendo a estrutura de construção de raps que, nesse sentido, é até tradicional, com um estilo de rage mais inclinado às raízes do hyperpop — algo que se efetiva de vez em “TURN UP OR DIE”, cujo trabalho com bass estouradíssimos aponta para uma eletrônica que caminha rumo a um hardstyle descontrolado, fazendo com que Jane se perca na quantidade de elementos impressos ao longo da música.

Essa intensa sobreposição, mais do que uma simples criação de camadas, faz parte do próprio processamento das ideias e da linguagem pop de Jane. “JRJRJR” é a cartilha perfeita disso, com refrões que ecoariam no k-pop por anos se Jane ressoasse por lá da mesma forma que se expande por aqui. É difícil ir além das associações, já que, após três álbuns e alguns projetos paralelos, ela ainda parece sentir a necessidade de provar seu valor diante da sua presença nos gêneros internéticos — mesmo que, para isso, complique o que poderia ser mais simples. Revengeseekerz está longe de atingir complexidades maiores do que o som em si, que pode, primordialmente, ser ouvido com essa dificuldade e acessibilidade únicas do trabalho de Jane.

Selo: deadAir
Formato: LP
Gênero: Hip Hop / Digicore, Hip Hop Experimental

Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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