★★☆☆☆
2/5
O novo álbum de Saya Gray abandona o pop com raízes no experimentalismo de gênero de QWERTY II para adotar uma sonoridade pop rock, numa tentativa ambiciosa de sintetizar múltiplas influências. A ambição, no entanto, revela-se um obstáculo: a necessidade de abraçar estilos distintos — do art pop ao country, passando pelo indie rock — expõe uma identidade sonora frágil, que se dissolve em superficialidade.
A fusão entre os gêneros não se concretiza, pois as referências são tratadas com uma literalidade que as esvazia. O country, por exemplo, surge como elemento decorativo, reduzido a clichês sem vitalidade. Já o pop rock, que ecoa a virada dos anos 2000 em faixas como “PUDDLE (OF ME)” e “LINE BACK 22”, soa como reprodução de fórmulas conhecidas, sem subversão ou ironia. Até as aproximações de artistas como Lana Del Rey ou Mitski, que partem de uma reprodução estética, parecem desprovidas de alma — são cópias tecnicamente competentes, mas mecânicas.
A metáfora que define SAYA é a de um cubo mágico: cada face representa uma sonoridade diferente, mas a incapacidade de resolvê-lo leva a transições abruptas entre ideias, sem profundidade. O álbum é tão polido e controlado que até a possibilidade de um “erro proposital” — como uma corda desafinada que pudesse humanizar a textura — é descartada em prol de uma perfeição estéril.
A estrutura do projeto reforça essa rigidez. Imagine um quarto branco, quadrado, de paredes lisas: assim é SAYA. A ausência de nuances nas faixas — com a voz da artista repetindo timbres e tons — gera uma fadiga que se arrasta até o fim. É uma peça densa que se recusa expandir: se enclausura em convenções, evitando qualquer risco que pudesse desalinhar sua pretensão de obra redonda.
Mesmo nesse cenário controlado, há competências isoladas. As letras destacam-se por sua maturidade, e o trabalho com cordas é tecnicamente refinado, ainda que funcione mais como ornamentação do que como elemento narrativo. São méritos que, no entanto, não compensam a sensação geral de um projeto mais interessado em parecer coeso do que em ser verdadeiro.
A superficialidade na exploração dos gêneros resulta em uma escuta que cansa mais do que encanta. Ainda assim, as exceções (a sofisticação lírica, os arranjos de cordas) mostram que Saya Gray tem ferramentas para construir algo orgânico — desde que pare de tratar a música como um quebra-cabeça a ser montado às pressas e passe a enxergá-la como um corpo vivo, imperfeito, mas autêntico.
Selo: Dirty Hit
Formato: LP
Gênero: Pop / Pop Rock, Art Pop