Crítica | This Wasn't Meant For You Anyway


★★★☆☆
3/5

This Wasn't Meant For You Anyway, de Lola Young, derrama toda a sua força em relacionamentos passados que, de alguma forma, marcaram seu momento atual. É bastante trágico e, ao mesmo tempo, confiante, porque Lola compõe com avidez ao expor seus temas. O que chama atenção, no entanto, são seus arranjos e melodias que seguem na mesma direção de seus vocais, deliciosamente conduzidos por um sotaque britânico preguiçoso. É o tipo de música que muitos adorariam ouvir no rádio do carro, voltando de um date aleatório que se sabe que jamais vai apagar os rastros de um relacionamento fracassado.

O auge dessa confusão amorosa está no viral “Messy” — consequentemente, a melhor música — em que Lola transforma numa peça ambígua o suficiente para trocar ideias difusas, iluminada pela razão e marcada por sentimentos um tanto profundos. Trata-se da forma como ela se relaciona com os pais? Pode ser, mas “Messy” independe da ótica: é uma música que, de tão brega, torna-se ótima. Primeiro, porque gera fácil identificação e é pegajosa num nível quase tosco — é impossível não se pegar cantando o trecho número um do TikTok:

'Cause I'm too messy, and then I'm too fucking clean
You told me, "Get a job", then you ask where the hell I've been
And I'm too perfect 'til I open my big mouth
I want to be me, is that not allowed?


De resto, This Wasn't Meant For You Anyway ocupa a vaga de álbum que, mesmo sem ter sido ouvido antes, soa familiar — como se já tivéssemos escutado seus arranjos de guitarras quase acústicas em algum lugar. Ele está entre os planos de Remi Wolf e Rex Orange County, às vezes se inclinando para um R&B desconfigurado, como em “Conceited”. Já “Walk On By” remete aos anos iniciais da carreira de Adele — é uma música de bistrô, que brinca com instrumentais bem encaixados, como a bateria e os dedilhados adicionais de piano, que soam presos ao pop britânico dos anos 2000. Diferente de “You Noticed”, que fica na superfície de um folk com nuances lo-fi — certamente estaria na trilha sonora de algum filme sobre juventude da A24.

Todo esse sentimento, obviamente, é ofuscado pelo grande hit. Cria-se, também, por causa dos trechos virais de “Messy”, uma ideia de que Lola Young apela a uma simplicidade excessiva nas letras e nos sons — algo que, felizmente, o álbum consegue contrapor. Mas isso só funciona para quem o ouve se distanciando do que já estabelecemos previamente sobre a artista e seu maior sucesso até então.

Selo: Island Records
Formato: LP
Gênero: Pop / Alt-Pop, Pop Rock
Matheus José

Graduando em Letras, 24 anos. É editor sênior do Aquele Tuim, em que integra as curadorias de Funk, Jazz, Música Independente, Eletrônica e Experimental.

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