★★★★☆
4/5
O perturbador – no melhor sentido da palavra – VST Respeita Vagabundo! é o álbum de estreia de djalekoriginal. Desde o início, é possível notar que não se trata de um trabalho qualquer; aqui, as faixas são construídas por dois elementos centrais: um beat que se repete quase à exaustão e uma acapella isolada de MC. Direto ao ponto, seco e sem firulas, o álbum aposta numa estética crua, típica dos dos bailes de rua e é justamente na repetição que ele encontra sua força.
Essa criatividade se manifesta de maneira provocativa, quase agressiva, através de construções repetitivas baseadas em distorções proporcionais, vocais cortados e vozes aceleradas. O resultado é uma sonoridade que, para alguns, pode até parecer “difícil de ouvir por muito tempo”. No entanto, discordo totalmente — eu mesmo passaria horas imerso nesse caos organizado. Ao ser comparado com outros subgêneros, o mandela presente aqui soa mais “pé no chão", mais real — sem filtros ou ornamentos.
Em faixas como “VST 5 - 4444444”, percebe-se claramente um eco, um espaço muito delimitado entre o beat e a acapella do MC Prr Filipinho. Esse detalhe demonstra o quanto as faixas são propositalmente desprovidas de texturas mais complexas, mantendo-se firmes na dupla beat-vocal. Inclusive, isso remete diretamente às produções DIY, de bolso, como é o caso dos trabalhos do DJ Arana. Já em “VST 6 Flauta Drake”, essa estética é levada ao extremo: a flauta acompanha o compasso clássico do funk (tum-tá-tum-tá-tum-tá), mas de forma tão seca e repetitiva que provoca uma sensação de enjoo — no melhor sentido. Essa estranheza, longe de ser um defeito, funciona como um atrativo. O grave, por sua vez, aparece ora arrastado e prolongado, ora picotado, curto e rápido, criando pancadas que definem a precisão do som de djalekorigina.
Enquanto isso, a faixa “VST 7 Golpe na Net” apresenta uma produção mais “3D”, com estética automotiva no estilo bruxaria, repleta de graves tão intensos que parecem estourar os tímpanos. Nota-se, portanto, que djalekorigina pensa suas produções já considerando os bailes rápidos — aqueles menores, centralizados, muitas vezes anunciados de última hora. Por esse motivo, parece haver uma clara necessidade de simplificar o mandelão e suas vertentes.
Ademais, é importante frisar que essa escolha não é fruto de limitação técnica, muito pelo contrário, mas sim de uma decisão consciente e artística. Ele produz para um público específico, presente em espaços específicos, que entende e valoriza esse som mais direto e cru. Diferentemente do funk mais carregado de elementos feito para eventos fechados como o Submundo, roles universitários ou bailes maiores, aqui a proposta é outra: transformar a escassez em linguagem, a repetição em potência e o incômodo em identidade.
Selo: Independente
Formato: LP
Gênero: Funk